A torcida colorada não entende o nível de evolução e de modernidade que está sendo implantado no Beira-Rio, anos-luz à frente do modelo da CBF.
As desclassificações são ardilosamente programadas. Porque o interesse da gestão ultrapioneira é se equiparar aos grandes times da Europa, que terminam a temporada no meio do ano.
Não ficamos atrás do planejamento de treinos e jogos do Barcelona, do Real Madrid, do PSG, do Bayern de Munique.
Nem o Flamengo, nem o Palmeiras tiveram essa ideia.
A direção do Inter vem buscando, desde 2021, com as oito eliminações no Beira-Rio (Rosario Central, Juventude, Fluminense, América-MG, Caxias, Melgar, Olímpia e Vitória), emparelhar o nosso futebol com o da Europa. É o primeiro clube brasileiro a tentar romper com o fuso e com a discrepância do calendário esportivo.
Saímos da Copa do Brasil de propósito. Afinal, todo mundo viu a nossa preguiça para fazer gol. Erramos dois pênaltis. Vitão tratou de arrumar uma briga no confronto no Jaconi para compensar a expulsão do Alan Ruschel e garantir a paridade numérica.
Da mesma forma, houve um monumental esforço para cairmos da Sul-Americana. Qualquer um percebeu o corpo mole. Foi descarado. Perdemos para o Belgrano, empatamos com equipe amadora, e ainda complicaram a nossa vida nos metendo numa repescagem. A Conmebol queria que a gente se classificasse a todo custo, frustrando nossos planos de parar precocemente. Não conseguiu. Mostramos obediência ao futuro jamais ganhando do Rosario Central. Mantivemos o roteiro de não entrar na grande área dos argentinos nas duas partidas.
Participar de uma única competição nos colocou em igualdade com o futebol moderno, que recém encerrou a Eurocopa.
Nos bastidores da redução dos mata-matas, havia também a preocupação em preservar a grama do Beira-Rio. Mais importante do que canecos é nunca abrir mão do status de melhor campo do país, nosso único título em oito anos.
Entre as medidas para a conversão dos pilas em euros, ainda existiu o desmantelamento das categorias de base. Por isso, o Sub-20 se encontra na última posição da categoria no Campeonato Brasileiro. O objetivo é ter cada vez menos garotos no plantel profissional. E menos gaúchos, e menos brasileiros, se possível. Quanto mais estrangeiros, melhor para se assemelhar às formações ecléticas da Champions League.
Seguindo o organograma de importação de recursos humanos, psicólogos não são admitidos no Beira-Rio porque evidenciariam o quanto estamos nos distanciando das raízes. Um setor de terapia iria escancarar os traumas e afastar os jogadores da sua missão de tirar o pé e não se entregar de alma.
Chamar Abel Braga, então, para assumir como diretor esportivo, com toda a sua equipe, nem pensar. Ele poria o dedo na ferida. Tampouco seria prudente convocar o ídolo D’ Alessandro para integrar um rearranjo de forças. Eles organizariam o vestiário e voltaríamos a vencer. Impediriam a nossa senda de derrotas.
Para a direção, Abel é o equivalente ao Inter antigo. Não representa o novo Inter de vexames e humilhações, o Inter atual e cibernético do Centro de Análise e Prospecção de Atletas, o CAPA, responsável por trazer atletas milionários de baixo rendimento.
Alessandro Barcellos não vem notando o óbvio ululante: o torcedor deseja justamente o Inter ancestral de volta, o retorno ao DNA guerreiro, a recuperação do Celeiro de Ases, a retomada do Gigante campeão do mundo.
Esses modismos tecnocratas e eurocêntricos não nos interessam.