As campanhas de trânsito se devotam à figura do motorista: que tenha prudência, que não ultrapasse, que não exceda a velocidade da pista, que use cinto, que não beba.
Mas elas deveriam dirigir sua atenção também para as melhorias das condições de nossas estradas, uma das principais vilãs das mortes rodoviárias.
Nem sempre o condutor é o culpado. Não adianta ser aplicado, obediente às leis, precavido, se existem buracos e crateras na pista que podem desviar o veículo perigosamente a um desfecho fatal, ainda mais quando é de carga pesada, como caminhões ou carretas.
Quem trafega pela RS-324, entre Casca e Nova Prata, ou pela RSC-470, entre Bento Gonçalves e Nova Prata, costuma rezar para voltar ileso à sua casa.
A situação é crítica há mais de uma década, e nada mudou.
Em um breve levantamento no meu grupo de motoristas profissionais do WhatsApp, enumero um ranking das rodovias mais castigadas:
- BR-153
- BR-287
- BR-392
- RS-122
- RS-447
- RS-020
- RS-324
São perdoáveis os bloqueios em função das chuvas. É uma contingência do tempo, de eventos climáticos anormais. Mas não dá para tolerar a indiferença histórica com esses trechos.
Você paga pedágios, e jamais tem a sua tranquilidade como troco.
É necessário entender que estrada não é domínio exclusivo da Secretaria de Transportes do Estado do Rio Grande do Sul ou do Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem, atinge plenamente a esfera da saúde pública. Se nossas vias estivessem mais seguras, reduziríamos a lotação de nossos hospitais.
Ou seja, amenizando o problema das ligações regionais, gastaremos muito menos com os hospitais públicos. Trata-se de uma economia indireta. E, quem sabe, uma redução astronômica de gastos.
A ausência de uma gestão integrada acaba nos precipitando a cometer os mesmos erros duas vezes. Cada um cuida da sua pasta, e os efeitos são nocivos e cumulativos para todos.
De acordo com nova pesquisa anual da Confederação Nacional do Transporte – CNT, 72,2% das rodovias do estado encontram-se nas categorias de regular, ruim e péssima. No ano passado, esse percentual estava em 66%.
Sobram menos de 30% trafegáveis e, desse contingente, 5% exemplares. Dos 8.798 quilômetros analisados do fluxo gaúcho, apenas 436 quilômetros estão excelentes.
Cerca de 70,1% das nossas estradas têm sinalização regular, ruim ou péssima. No trecho entre São Vendelino e Bento Gonçalves, na RS-446, por exemplo, as pistas não são pintadas, tampouco contam com olho de gato, mostrando-se impraticáveis durante a neblina.
O que é mais assustador no raio-X da CNT: apesar da péssima pontuação, a estrada gaúcha é uma das melhores do país.
O que fornece uma noção bem clara da omissão generalizada.