Tanto no Brasil como em toda a América Latina, a pandemia, a fome, as mudanças climáticas, a pobreza e crises como a de fertilizante e energia, agravadas pelo conflito Rússia-Ucrânia, deixaram em evidência a importância dos agricultures familiares. São eles que representam uma fatia importante da produção de alimentos que chega à mesa dos consumidores – cerca de 80% deles, frisou o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag-RS), Carlos Joel da Silva.
— É essa mesma agricultura familiar que pode ser parte das soluções para sair dessa crise, ou melhor, dessas, no plural — afirmou Luiz Carlos Beduschi Filho, oficial superior em Políticas de Desenvolvimento Rural do Escritório Regional da FAO para América Latina e Caribe.
— Quando a ONU decretou a Década da Agricultura Familiar (que vai de 2019 a 2028), ela não fez porque acham os nossos agricultores familiares bonitinhos. A ONU está preocupada com a fome — concordou Silva.
No Brasil, por exemplo, o segmento tem enfrentado impasses, como o acesso a recursos para financiar a produção. O exemplo mais recente é o do Plano Safra, que não atendeu toda a categoria, segundo Silva.
— Hoje, o agro como um todo responde por quase 50% do Produto Interno Bruto e recebe 1% do orçamento — criticou.
Agricultora familiar e vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Salvador do Sul, Beatriz Maria Meurer reconheceu a importância desses recursos:
— Hoje, não estaríamos onde estamos senão pelas políticas públicas. A gente começou do zero, isso não teria acontecido sem elas — afirma a jovem, que já expõe há 14 anos na Expointer.
O dirigente da Fetag-RS também mencionou a dependência de insumos agrícolas do mercado internacional e do alto preço do óleo diesel.
Além das questões de custo de produção, o coordenador técnico da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs), Mário Ribas do Nascimento, citou também a importância da qualificação dos gestores públicos, que muitas vezes assumem os municípios sem conhecer as necessidades da agricultura familiar, e a necessidade de maiores investimentos em infraestrutura e conectividade no meio rural.
— Os municípios são estratégicos nessa questão. Nós estamos buscando, pela Famurs, junto com a Emater, qualificar esses gestores — acrescenta Nascimento.
Em âmbito internacional, Beduschi também citou alguns movimentos necessários, como encurtar circuitos de produção e consumo (para reduzir o preço ao consumidor e aumentar ao produtor) e mais políticas públicas que incentivem o alimento fresco à mesa e não o industrializado. A revitalização de feiras públicas também foi apontada como uma saída.
Para Beatriz, a chave são mais políticas públicas:
— Precisamos lutar juntos pela melhoria das políticas públicas, para que a gente enquanto agricultura familiar possa permanecer no campo. Porque não é fácil. A gente enfrentou uma pandemia onde muitos foram obrigados a fechar as portas.
*Produção de Carolina Pastl