Naira Hofmeister, especial
Resgatar valores como liberdade, elegância e conforto é a principal razão para o fascínio que os trajes inspirados em roupas de montaria têm sobre o público urbano. Remetendo a um universo requintado, especialmente à nobreza da Inglaterra do século 19, mas também fazendo intersecção com o estilo de vida campeiro, mais despojado, as marcas se aproveitam desse imaginário para alavancar suas vendas.
— A montaria tem a ver com paixão e tradição. É dessa mistura que vem a força do estilo. No Rio Grande do Sul, na Argentina e no Uruguai, temos calças, jaquetas e calçados com essa linguagem que oscila entre o casual e o sofisticado — observa a professora Bernardete Venzon, do curso de Moda da Universidade de Caxias do Sul.
Embora as peças remetam ao universo dos cavalos, os modelos podem ser atrativos até para quem não está imerso nesse ambiente. Assim, a Expointer se tornou a principal vitrine para o segmento.
— É uma escolha emocional. Pode simbolizar um passeio com o cachorro ao ar livre, compartilhar uma garrafa de vinho, desfrutar com a família — explica Ariel Cappielo, proprietário da La Victoria, boutique nascida em Buenos Aires e que, após 18 anos de presença na feira gaúcha, tem 30% do faturamento anual vinculado ao evento.
Migração das pistas
O magnetismo desse estilo de vida também rompe barreiras geográficas, culturais e climáticas.
A Malacara, de Farroupilha, famosa por suas botas, calcula que 40% das vendas sejam para fora do Estado, embora as coleções tenham vínculo com o frio.
— As pessoas querem consumir essa identidade. Na nossa loja, os clientes fazem uma imersão no universo, escutando nossa música, ouvindo poesia daqui. São fãs que querem compartilhar esse ambiente — explica Francis Barbosa, um dos sócios da marca.
Mas há inovações. A marca catarinense Kesttou, por exemplo, apostou no design tradicional de montaria para desenvolver sua coleção de galochas Selaria. As botas impermeáveis, confeccionadas em fullplastic e borracha, na cidade de Criciúma, são uma opção para manter o estilo mesmo em dias de chuva. A grife estará presente na 42ª Expointer, no estande da La Victoria.
As duas principais grifes de moda de montaria da Expointer, La Victoria e Malacara, migraram do universo das pistas para o ambiente urbano — repetindo trajetórias de marcas internacionais como a francesa Hermès, que nasceu como fabricante de selas, a Channel, cuja origem remete aos chapéus utilizados pelas damas que frequentavam corridas de cavalo, ou mesmo a Ralph Lauren, cuja base é a prática de polo.
Assim como as adaptações urbanas da atualidade, o traje de montaria original teve seu momento de ressignificação, mas, nesse caso, voltado à ruptura de padrões.
Foi por meio do esporte que as mulheres começaram a reivindicar o direito de usar calças, quando o habitual era que montassem no selim, de lado, usando vestidos.
— Não foi a única via de contestação, mas sem dúvida foi um espaço para o exercício dessa quebra de paradigmas —explica a professora Venzon.
Peças-chave
Botas — A bota estilo montaria incorporou elementos do universo equestre: bico redondo, cano abaixo do joelho, salto baixo e adornos de metal que remetem aos arreios.
Blazer curto e camisas — O blazer curto de três botões é um clássico da elegância. Desenvolvido para que amazonas e cavaleiros tenham liberdade de movimentos. Camisas ajustadas também vêm da equitação.
Calça montaria — As calças montaria são justas, cós alto e com costura na parte da frente, em geral em viés. Podem ter aplique de couro na parte interna da coxa.
Cintos — Os cintos, embora associados ao campo, não fazem parte do estilo montaria. Atrapalham a mobilidade do ginete.
Chapéu — O chapéu de montaria ainda não foi adaptado para o urbano.
Fonte: Ana Carrard, consultora de imagem