Historicamente distantes por fatores geográficos, culturais e de comportamento, o campo e a cidade viram um mundo só na Expointer, em Esteio. Durante nove dias, urbanos e rurais experimentam o outro lado na mais tradicional feira agropecuária do Brasil. Interioranos longe de seus rincões revivem o passado em meio a animais e churrasco em fogo de chão, trabalhadores rurais desfrutam do movimento típico de grandes metrópoles e crianças descobrem a origem dos alimentos na prática.
Cabanheiro e capataz da Fazenda Santa Helena, de Bagé, na Campanha, Zelmar Souza da Silva passa boa parte do ano convivendo com quatro ou cinco pessoas na propriedade localizada a 23 quilômetros do centro do município.
— A cada 15 dias vou para a cidade visitar a família. Me criei no interior e trabalhei a vida toda em fazendas de gado — conta o cabanheiro, 54 anos.
Reencontro com colegas
Em meio ao trabalho na Expointer, onde está responsável por três animais da raça braford, Silva participa de rodas de chimarrão e conversas com outros tratadores.
— É o momento para reencontrar cabanheiros da fronteira e até de outros Estados. São amizades que fizemos aqui na feira em outros anos — revela.
Antes de voltar a Bagé, Silva planeja passar pelo comércio da mostra para comprar lembrancinhas para a família e também para renovar a pilcha.
— Bota e chapéu é o que mais tem aqui, dá para escolher. Quando aparece uma oferta, a gente aproveita — diz o cabanheiro, que voltará para casa na segunda-feira (2), depois de 11 dias em Esteio.
Se para quem é acostumado à calmaria do campo a Expointer é sinônimo de agitação, para quem mora na cidade a feira é a oportunidade de se aproximar do meio rural. Nascido em Porto Alegre, o militar da reserva Gilberto Teixeira da Silva, 70 anos, é atraído ao parque Assis Brasil pela tecnologia das máquinas agrícolas e pelas delícias da agricultura familiar.
— São momentos de aprendizado e desfrute do mundo campeiro — afirma Silva.
Para a esposa Julia da Silva, 72 anos, visitar a Expointer significa voltar ao passado em Caçapava do Sul, na região Central.
— O cheiro do churrasco, as pessoas pilchadas e os animais me levam diretamente à infância — conta a bancária aposentada, que deixou o Interior e mudou-se para a Capital ainda na adolescência.
Crianças descobrem a origem dos alimentos
Para crianças e adolescentes criados na cidade, a Expointer é muitas vezes um mundo desconhecido — a começar por touros, cavalos e ovelhas. Acostumados com animais de menor porte criados em casas ou apartamentos, como cães e gatos, os pequenos arregalam os olhos quando enxergam os bichos maiores pela primeira vez.
Guiado pelos pais, Mateus Famer dos Santos, 32 anos, e Renata Araújo Costa, 31 anos, o menino Caetano, dois anos, parecia um pouco assustado diante dos animais na primeira visita à Expointer, na última segunda-feira (26).
— Desde a hora em que chegamos no parque ele não parava de falar que queria ver os bichinhos — contou Renata, educadora física.
Morando em Porto Alegre há mais de 10 anos, o casal se criou em Capivari do Sul, município do Litoral Norte com pouco mais de 4 mil habitantes. Na lembrança, guardam memórias como a lavoura de arroz do avô de Santos e da janela do quarto de Renata que dava para as vacas criadas pelo vizinho.
— Hoje, temos uma vida bem urbana por conta das nossas profissões. Mas queremos passar esse vínculo do interior, das nossas origens, para ele — afirma Santos, educador físico.
Durante a semana, milhares de alunos de escolas públicas e particulares passam pela feira. Além dos galpões dos animais, os estudantes circulam pelo setor de máquinas e equipamentos agrícolas e da agricultura familiar — um dos espaços mais disputados na Expointer, em Esteio.