Líder mundial de exportações há mais de duas décadas, o tabaco brasileiro é reconhecido por duas características paradoxais e, ao mesmo tempo, complementares: tradição e inovação. A tradição vem de 500 anos de cultivo. E a inovação está relacionada a tecnologias adotadas no setor, ao melhoramento de sementes e em técnicas sustentáveis. Esse conjunto de ações que levou a cultura do fumo no país a alcançar altos índices de qualidade.
Com US$ 2,8 bilhões exportados até outubro - dos quais 72,2% com origem no Rio Grande do Sul -, o Brasil supera países como a China, maior produtor mundial, que ainda assim importa tabaco brasileiro devido à melhor qualidade.
Ainda que tenha diminuído a perspectiva de o país obter neste ano o segundo recorde consecutivo de receita - há queda de 2% nos embarques, que ainda pode ser revertida -, os recursos da atual safra irrigam as economias de 166 mil famílias. Como os preços ficaram acima do registrado no ano passado, porém, o resultado do atual ciclo é avaliado como estável e positivo pelo Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (Sinditabaco).
- Tivemos, se não a melhor, uma das melhores safras em termos de qualidade. Como isso se reflete nos preços, o produto está mais valorizado - comemora o presidente do Sinditabaco, Iro Schünke.
De acordo com o presidente da comissão do fumo da Federação da Agricultura do Estado (Farsul), Mauro Flores, um dos diferenciais brasileiros é que a indústria local tem capacidade - por concentrar o maior polo fumageiro do mundo - de inovar e incrementar a produção e industrializar conforme a necessidade.
- Com qualidade aliada à flexibilidade, sempre temos mercado - diz o representante da Farsul.
Ainda segundo Flores, o setor consegue enfrentar, por meio de iniciativas de diversificação de culturas, as restrições impostas ao consumo do cigarro.
Retornos elevados e estabilidade no negócio
O cultivo de tabaco no Brasil tem como base as pequenas propriedades (com média de 16,7 hectares) e ocupa apenas 15,4% destas áreas, de acordo com a Associação dos Fumicultores (Afubra). O restante do espaço é reservado para culturas alternativas e de subsistência (35,1%), criações de animais e pastagens (20,4%), florestas nativas (16,9%) e reflorestamento (12,2%). Apesar da pequena área destinada ao tabaco, a cultura representa 56% da renda dos agricultores.
Para o economista do Centro de Informações e Estatísticas da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Guilherme Risco, a boa e estável organização do setor também ajuda o Brasil a se manter tanto tempo na liderança mundial:
- A cultura é uma das que menos oscilam em termos de exportação nos negócios agrícolas. A participação no mercado gaúcho variou apenas entre 9,7% e 13,7% nos últimos 10 anos. O maior problema, avaliam empresários do setor, é o mesmo de muitas outras atividades: os gargalos no transporte, em portos e rodovias.
- Precisamos urgentemente de investimentos, senão perderemos espaço no mercado por conta do preço, porque aí nem a qualidade poderá ser suficiente - conclui Schünke.
Liderança de 21 anos
Maior vendedor mundial de tabaco, Brasil pode repetir recorde de exportações em 2013
Até outubro, setor contabiliza queda nos embarques de 2%, mas valor ainda pode ser revertido
Vanessa Kannenberg / Uruguaiana
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