Com mercado garantido e remuneração baseada na cotação da soja, a canola pode ser definida como a "queridinha" de técnicos e pesquisadores entre as culturas de inverno. Não há quem fale da oleaginosa sem citar rentabilidade, custos menores de produção e garantia de venda como fatores importantes para adoção da lavoura. Porém, mesmo com o avanço de 13,65% previsto pela Emater para a área neste ano no Estado, passando para 28 mil hectares, o número ainda é tímido em relação ao espaço ocioso no campo nesta época.
Apesar das vantagens propagadas, convencer o agricultor a implantá-la não é um processo fácil. Usada na produção de óleo para consumo humano e como matéria-prima para o biodiesel, a canola tem no perfil do produtor a principal dificuldade para ocupar a área vaga nas lavouras.
- É uma característica do produtor ser conservador. E a canola é uma cultura diferente, que exige adequações - comenta o engenheiro agrônomo da Emater Alencar Paulo Rugeri.
Comparado ao trigo, o custo de produção é cerca de 20% menor. A canola, por exemplo, precisa de apenas três quilos de sementes por hectare, contra 150 quilos da campeã do inverno. O problema da adaptação está em detalhes como o tamanho da semente e a profundidade do plantio, que exigem atenção especial sobretudo na adaptação dos equipamentos que são usados nas lavouras de soja e milho.
- A grande dificuldade é o tamanho da semente, que exige ajustes e um refinamento do equipamento, mas não tem um custo alto. Não é um impeditivo - afirma Rugeri.
Atualmente, o melhoramento genético das cultivares usadas no Estado é feito na Austrália, e a produção de sementes, na Argentina.
- Para se ter produção de sementes aqui, uma empresa tem que dar lucro. Com essa área pequena, não se teria retorno suficiente. É um processo longo - explica o pesquisador Gilberto Tomm, especialista em canola da Embrapa Trigo.
Mesmo sem cultivares pensadas especificamente para as condições do clima e do solo brasileiros, o avanço das técnicas de manejo ajuda no incremento da produtividade média da canola, que na década de 1980 era de aproximadamente 900 quilos por hectare e avançou para 1,6 mil quilos no Estado. O número ainda fica muito atrás do registrado nos grandes países produtores, mas a relação de 30 sacas por hectare - 1,8 mil quilos - ajuda a tornar a lavoura mais atrativa. O trigo atualmente obtém entre 60 e 70 sacas por hectare no Estado.
- Podemos chegar nesse nível, mas o produtor tem que aprender a trabalhar com a canola. Como a produtividade da cultura já é rentável, quando tivermos uma quantidade maior, naturalmente isso vai ser ainda melhor - afirma o gerente de tecnologia agrícola da BSBios, Fábio Júnior Benin.
Aumento da área está no horizonte
A ampliação do espaço ocupado pela canola no Estado está no horizonte de especialistas. A expansão da produção de biodiesel deve alavancar o interesse, mas técnicos não querem que ocorra com a canola o mesmo equívoco cometido com a mamona, lavoura incentivada pela exigência de material de origem vegetal no combustível.
- A mamona teve incentivo, foi vendida como uma cultura fácil, mas não era. O produtor teve dificuldade com o manejo - diz o engenheiro agrônomo da Emater Alencar Paulo Rugeri.
A expectativa do gerente de tecnologia agrícola da BSBios, Fábio Benin, é de que a área ocupada por canola alcance 200 mil hectares até 2020, número tímido se comparado ao trigo, mas que incentiva pesquisas na cultura. Rugeri avalia, ainda, ser possível aumento de até 10 vezes no espaço destinado à oleaginosa no Rio Grande do Sul:
- Temos pesquisa, extensão rural e indústrias. A roda está fechada. Temos de mostrar tudo isso o produtor para que queira buscar essa opção.
Esse trabalho de convencimento funcionou, por exemplo, com Gilmar Bortolin, 56 anos, de Ronda Alta. Em palestras, ele foi apresentado ao grão e aos benefícios que traria à propriedade. Há cinco anos, parte do espaço que no verão é ocupado por soja e milho está sendo destinado à canola. Apesar das dificuldades de adaptação, os bons resultados o fizeram dobrar a área em 2013: saltou de 150 para 300 hectares.
- Mas tem riscos por causa do clima e porque é uma cultura que exige mais técnica - alerta Bortolin.
Pesquisa para tentar entender melhor o grão
Por ser uma cultura recente, a canola ainda é uma cultura carente de pesquisas que auxiliem no cultivo. A publicação do zoneamento agrícola, em 2008, deu mais segurança ao produtor, mas novos trabalhos estão sendo desenvolvidos para aprimorar as informações. O zoneamento é elaborado para minimizar riscos relacionados ao clima e permite que cada município identifique a melhor época de plantio.
Aprovada com louvor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) no início do mês, a tese de doutorado Parâmetros bioclimáticos e respostas da canola ao ambiente físico, do professor Astor Nied, é um exemplo do esforço em ampliar os conhecimentos na área. Durante três anos, foram usadas diversas variedades de canola em testes, realizados em áreas da Embrapa Trigo, simulando diferentes condições meteorológicas.
- Essa foi uma pesquisa de cunho científico e que nos traz luzes para aplicações práticas, auxiliando a Embrapa a desenvolver novas técnicas de manejo - explica Homero Bergamaschi, professor da UFRGS.
Segundo Genei Dalmago, da Embrapa Trigo e um dos orientadores da pesquisa, o trabalho de Niedpermitirá refinar as informações do zoneamento, mapeando com dados mais precisos todas as etapas de desenvolvimento. Entre os dados, por exemplo, está saber com exatidão o período de maior produção da planta. Com essa certeza é possível aprimorar a época de plantio.
- A pesquisa permitiu conhecer o processo de produção da canola. Só entendendo isso é que se pode compreender a influência de questões específicas que podem estar afetando a produtividade - explica Dalmago.