A poucos meses de receber a visita de milhares de pessoas, Belém do Pará está com os preparativos para a 30ª edição da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) a todo vapor. O Parque da Cidade, que sediará a programação principal, está com 74% das obras concluídas. Empreendimentos de qualificação da infraestrutura urbana e esforços conjuntos para ampliar a oferta de hospedagem também têm movimentado o dia a dia da cidade.
A expectativa é de que o encontro, que reunirá equipes da ONU e de seus países membros no mês de novembro, chame a atenção internacional para um Brasil que vem investindo em matrizes de energia renovável.
— O Brasil tem feito muitas coisas boas para a transição energética, e não é de agora, já começou há décadas, e isso precisa ser melhor demonstrado — exalta Erasmo Carlos Battistella, diretor-presidente da Be8.
Battistella cita como exemplo de boas práticas brasileiras os biocombustíveis desenvolvidos no país, que exigiram a aprovação de um arcabouço legal focado na transição energética que pode servir de referência para outros países. O gestor aponta, ainda, a legislação criada para regulamentar o mercado de carbono no Brasil e a elaboração de programas que têm facilitado a descarbonização de empresas.
A grande oportunidade é, com a COP30, mostrarmos o Brasil como ele é para o mundo todo: uma potência na área de energias renováveis.
ERASMO CARLOS BATTISTELLA
Diretor-presidente da Be8
Parque da Cidade
A principal obra realizada em Belém dentro do pacote de intervenções urbanas focadas na COP30 é a construção do Parque da Cidade. A área de 500 mil metros quadrados abrigará mais de 1,5 mil árvores, 190 mil plantas ornamentais e 83 mil metros quadrados de grama. O espaço sediará a programação do evento.
O conceito e o projeto paisagístico são de autoria da paraense Margareth Maroto, que trabalhou durante três anos na concepção de cada área do parque.
— O projeto foi separado em zonas, e a ideia é que cada zona tivesse um foco para explorar nesse universo que são os paraenses: tem o paraense e a formação, o paraense e a família, o paraense e o seu meio, a comunidade, a cultura, a natureza — detalha a projetista Maria Romeiro.
A proposta foi reproduzir a floresta amazônica, cujo bioma compõe em torno de 80% do parque. Os outros 20% são de espécies exóticas, mas que se adaptam bem ao clima da cidade.
— Não foi fácil, porque ali era um aeroporto e o solo era compacto, mas batemos muito na tecla de manter uma diversidade de árvores nativas, como o cacau, e tradicionais, como as seringueiras, que têm uma história muito forte em Belém — conta a paisagista Margareth.
O projeto prevê o transplante de 176 seringueiras que fazem a conexão do parque com a Belle Époque (período entre o final do século 19 e o início da Primeira Guerra Mundial), que ocorreu durante o Ciclo da Borracha, quando o material era extraído dessa árvore, atividade que gerou um grande desenvolvimento urbano e econômico para a cidade.
Vai ter quadras de esporte, centro gastronômico, prédio de economia criativa, onde os artesãos podem produzir e vender o artesanato da região. É uma área de convivência extraordinária que a população ganha.
ADLER SILVEIRA
Secretário de Infraestrutura e Logística do Pará
Outras obras
No total, mais de 30 intervenções vêm acontecendo em Belém e região metropolitana de forma simultânea. A expectativa do secretário paraense é de que as melhorias deixem como legado qualidade de vida para a população.
— É uma transformação que a cidade vive. Apesar de serem executadas para a COP30, elas ficam para a população utilizar e usufruir dessas obras de infraestrutura, saneamento, desenvolvimento urbano, mobilidade — cita Silveira.
Estão sendo feitos, por exemplo, quatro viadutos em Belém. Outro investimento é a criação de um sistema de BRT metropolitano que será entregue até julho, com mais de 300 ônibus, todos com wi-fi e ar-condicionado.
O Porto Futuro II fica em uma área onde funcionavam armazéns no antigo porto da capital paraense. O local estava desativado. O espaço foi restaurado e se tornará um grande complexo turístico.
— As pessoas terão uma janela de contemplação para a Baía do Guajará, que equivale, para nós, ao Guaíba para vocês aí em Porto Alegre. Teremos o Museu das Amazônias, o espaço gastronômico, com gastronomia regional, um espaço cultural, com locais para exposições, shows, teatro, e um parque tecnológico de bioeconomia, principalmente linkado com pessoas que produzem o seu sustento da bioeconomia da floresta da nossa região — descreve o secretário.
Outro investimento tem sido em capacitação da população para receber os cerca de 40 mil visitantes previstos. Entre os cursos, estão o de língua inglesa para taxistas, formações de camareiras, garçons e de panificação.
Hospedagem
Uma das principais preocupações é assegurar hospedagem para todos que pretendem participar da COP30. O governo paraense contratará navios cruzeiros, em parceria com o governo federal, que receberão hóspedes durante o evento. Silveira afirma, ainda, que há novos hotéis se instalando na cidade, e que um trabalho junto a plataformas como Airbnb e Booking tem sido feito para garantir oferta suficiente de leitos.
Conforme o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia da Silva, um conjunto de medidas foi estabelecido após um diagnóstico do tipo de hospedagem já existente. Uma iniciativa foi oferecer financiamento a juros mínimos para a modernização dos hotéis já em operação. Outra solução foi estimular a construção de novos hotéis.
— Está sendo feito um hotel cinco estrelas próximo das docas, tem outro no prédio da antiga Receita Federal e tem o hotel modular que está sendo construído pelo governo do Estado, que terá mais de 400 apartamentos e será cinco estrelas — exemplifica o secretário extraordinário.
De acordo com Correia da Silva, a sensibilização para o tema já gerou resultado: nos últimos meses, a quantidade de imóveis privados registrados em plataformas de locação aumentou de 600 para 5 mil, e a tendência é de que o número siga crescendo. Para manter a segurança nas locações, o governo federal também pretende disponibilizar uma plataforma oficial para as locações no período da COP30, o que deve ocorrer “em breve”.