Considerado um dos destinos favoritos dos gaúchos durante o verão, o litoral de Santa Catarina é conhecido por suas paisagens naturais e exuberantes. Contudo, nos últimos anos, um dos principais fatores que vem ascendendo um alerta entre aqueles que partem em direção ao Estado vizinho é com relação à balneabilidade das praias — classificação que define se as águas utilizadas para recreação estão próprias ou impróprias para banho.
Na temporada passada, a região observou duas dificuldades sanitárias: mais da metade dos locais avaliados pelo Instituto do Meio Ambiente (IMA) foram registrados com condições irregulares para segurança do banhista, ao mesmo tempo em que ocorreu uma epidemia de diarreia, com mais de sete mil casos confirmados.
O último relatório do IMA, referente à semana do dia 16 a 20 de dezembro, mostrou que dos 238 pontos monitorados, entre 28 municípios de norte a sul da costa catarinense, 176 estão apropriados para banho. O montante representa 73,95% de propriedade. De acordo com Marlon Daniel da Silva, gerente de Laboratório e Medições Ambientais da entidade, essa é uma situação considerada confortável e positiva para o período.
O que influencia na balneabilidade
As águas utilizadas para recreação (praias e lagoas, por exemplo) são avaliadas a partir do quanto contém de coliformes fecais, conhecidos como Escherichia coli. Apesar de viverem no intestino humano, esses micro-organismos são indicadores de contaminação, já que possuem potencial patogênico e levam à infecções gastrointestinais.
O professor Rodrigo Mohedano, do departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), explica que a manutenção da balneabilidade está diretamente relacionada ao lançamentos de efluentes, que envolve o sistema de saneamento básico das cidades, além do uso e da ocupação do solo de maneira pouco planejada.
Não podemos considerar que o vírus é unicamente uma relação direta com a impropriedade das águas do mar.
MARLON DANIEL DA SILVA
Gerente de Laboratório e Medições Ambientais do IMA
Uma questão que se observa em Santa Catarina é a presença de ligações clandestinas de esgoto, não fiscalizadas, que fazem com que o efluente seja despejado diretamente em rios e córregos sem passar pelo tratamento adequado.
— As populações da praia tendem a triplicar durante a temporada e os sistemas sanitários funcionam em sua capacidade máxima. Quando há questões irregulares, elas são intensificadas pela quantidade de pessoas — explica o especialista.
Além disso, é possível que a qualidade da água seja influenciada por uma falha de operação — como extravasamentos — das redes oferecidas pelas companhias de saneamento.
A Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (CASAN), ligada ao governo do Estado, que atende municípios litorâneos como Passo de Torres, Laguna, Garopaba e Florianópolis, aponta que fez manutenções preventivas e expandiu algumas áreas de Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) e Estações Elevatórias de Efluente (EEE) para reforçar as ações de saneamento ao longo de 2024. Uma das ampliações ocorreu na Praia dos Ingleses. A empresa também afirma que atuou com fiscalizações e vistorias para verificar e combater ligações irregulares.
Extravasamentos de redes de esgoto recentes não foram registrados pela companhia nas regiões classificadas como impróprias no último relatório do IMA. Dessa forma, outra causa provável para a perda da qualidade foi o alto volume de precipitações registradas no Estado nos últimos meses. Isso porque, conforme Rodrigo Mohedano, a chuva é capaz de carregar sujeiras das ruas para o mar.
— A rede pluvial é aquela que vai levar a água das chuvas e vai direcionar para um curso d'água. Esses cursos d'água caem no rio, caem no mar, o que provoca a contaminação — descreve o engenheiro sanitário.
Outras cidades bastante procuradas no verão, como Imbituba, Palhoça, Bombinhas, Itapema, Balneário Camboriú, Itajaí e Penha são atendidas por companhias municipais ou privadas de saneamento.
Perspectiva para o verão
Durante a temporada de 2024/2025, Marlon Daniel da Silva, gerente de Laboratório e Medições Ambientais do IMA, projeta que a manutenção dos níveis de balneabilidade estarão relacionadas às condições meteorológicas da estação.
— Vai depender principalmente da chuva. A tendência, nas condições de "mar de almirante" (mar calmo) e "céu de brigadeiro" (céu limpo), é que tenhamos um valor de propriedade aumentada. Agora, existindo precipitações, podemos ter uma situação diferenciada com maiores percentuais de impropriedade — diz Marlon Daniel.
Com relação aos casos de diarreia, é difícil mensurar a probabilidade de novos surtos. Os agentes causadores da desordem intestinal costumam chegar ao ser humano por meio da boca, podendo estar na água ou em alimentos contaminados. Diversos são os fatores que podem levar à condição, como a maior circulação de pessoas nas cidades catarinenses, mudança de hábitos alimentares, exposição ao calor e ingestão de agentes infecciosos.
— Não podemos considerar que o vírus é unicamente uma relação direta com a impropriedade das águas do mar. Nós temos que ver também como a pessoa está tomando banho, o que ele está comendo, qual é o seu cuidado de higiene, qual é o seu ambiente de vida — cita o gerente.
Como conferir se um local é próprio ou impróprio para banho
O Instituto do Meio Ambiente disponibiliza semanalmente no site da entidade o relatório com os resultados dos pontos classificados como próprios ou impróprios para banho. Com a chegada do verão, o acompanhamento foi ampliado em alguns locais, como Balneário Camboriú, Florianópolis, Navegantes, Itajaí, Penha e Governador Celso Ramos.
Placas informativas também estão em destaque nos locais de água doce ou salgada.
O que a população pode fazer
Além de acompanhar os relatórios de balneabilidade, especialmente com relação à praia de referência, há outras ações que a população pode ficar atenta para evitar contaminações e colaborar com a qualidade das águas:
- Não tome banho em locais classificados como impróprios;
- Evite o banho de mar nas primeiras 24 horas após a ocorrência de chuvas de maior intensidade;
- Evite o banho nas proximidades de saídas de rios ou de canais com águas da chuva;
- Cuide dos hábitos de higiene de forma geral, como lavagem das mãos, conservação e limpeza de alimentos, entre outros;
- Não jogue lixo nas praias, já que os dejetos contribuem para a poluição;
- Caso seja morador ou dono de acomodações de turistas, não mantenha redes irregulares de esgoto.
*Produção: Carolina Dill