O coordenador de Educação Ambiental do Projeto Bichos do Pantanal, do Instituto Sustentar, Mahal Massavi, disse que o engajamento da população é essencial para a prevenir incêndios. Segundo ele, a educação tem que começar desde os primeiros anos das crianças, tanto em casa quanto nas escolas
Para o ambientalista, a prática de queimadas é uma característica do Brasil, que pode ser notada em especial no estado do Mato Grosso, entendida sempre como um forma de auxiliar na limpeza do terreno.
— O comportamento não surgiu agora. É histórico, centenário — disse o coordenador. — Mato Grosso tem o perfil da cultura agrícola e a questão do fogo é mais intensa ainda ali.
Para mudar a conduta, ele considera importante uma ação engajada da população.
— O que a gente vislumbra nesse processo é realmente motivar as pessoas, através da educação ambiental, para uma nova fórmula de vínculo, uma nova forma de estar na natureza e pensar aquele espaço como um espaço meu e do outro também, de coletividade, de que o fogo, na verdade, causa muito mais prejuízos do que vantagens que, no caso aqui, seria limpeza — afirmou.
Fora de controle
Mahal Massavi avaliou que agora, a questão ficou fora de controle.
— O fogo ateado em uma propriedade dificilmente poderá ser controlado pelo proprietário da terra para ficar delimitado. Em função da estiagem, toda a vegetação no Pantanal, principalmente, que é uma região que está sofrendo bastante, fica muito seca porque as árvores perdem as folhas e isso gera um combustível muito fácil de pegar fogo.
Segundo Massavi, dentro de casa ou na escola a criança tem que ser motivada a pensar que o fogo é prejudicial e que, se ela coloca fogo no seu quintal, em uma propriedade, aquilo vai afetar todo mundo, em uma escala local, regional e global.
— Esse pequeno discurso, essa pequena construção que a gente acha inicialmente que é uma ideia romântica, vai trazer um efeito gigantesco e em escala.
A criança passa a entender que aquele espaço é um espaço de pertencimento para ela também, onde ela vivencia experiências e que ela tem responsabilidade por esse espaço
Para o educador ambiental, nas últimas décadas, o Brasil perdeu muito esse papel das escolas.
— A escola deixa de fazer isso e a família também, onde a educação é precária, pais que não estão presentes. E esse senso de pertencimento e de responsabilidade deixa de estar nas crianças — disse.
Despertar
O Projeto Bichos do Pantanal, patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, tem como objetivo despertar nas crianças essa nova forma de vínculo, de estar na natureza, vendo-a como um espaço dinâmico, que envolve não só o espaço físico, mas tudo que está inserido ali, como os animais
O projeto promove visitas semanais nas escolas, durante as quais acompanha professores e alunos, principalmente das séries iniciais, levando as crianças até áreas naturais ou dentro das cidades, para reforçar que elas fazem parte do espaço e que qualquer ação que provoquem vai determinar uma reação naquele local. O objetivo é mudar a mentalidade e a postura vigente até agora.
O Bichos do Pantanal atua nos municípios de Cáceres e Porto Estrela, que apresentam dois biomas importantes do Brasil, que são o Cerrado e o Pantanal. Mahal Massavi afiançou, porém, que a educação ambiental alcança uma dimensão bem maior. O projeto almeja se estender para outras localidades mas, para isso, depende do orçamento que recebe através do Programa Petrobras Socioambiental.
Parcerias
O projeto tem parcerias com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) nas unidades de conservação. Nos dois municípios de Mato Grosso (Cáceres e Porto Estrela) há duas estações ecológicas: Taiamã, que fica ao longo do Rio Paraguai, localizada na planície pantaneira, com grandes campos inundáveis; e Serra das Araras, que fica no planalto, região de cerrado. Ali já se tem, há muitos anos, um bom controle do fogo, disse o coordenador. As queimadas nessa estação são sempre contidas com muita eficácia, graças ao trabalho dos chefes das unidades.
— As crianças conseguem perceber como é importante a manutenção dessas áreas para a biodiversidade.
Além do ICMBio, o projeto tem parcerias com prefeituras locais, escolas, fundações.
— É uma rede de cooperação com outros projetos e instituições no sentido de alcançar esse objetivo, que é motivar essa nova conduta.
Por meio dessa rede colaborativa, o projeto trabalha para formar gestores que descubram potencialidades que promovam o desenvolvimento sustentável. Uma das principais linhas com essa meta é o ecoturismo local, que atua, em especial, com proprietários de grandes fazendas, que acabam deixando no passado a prática das queimadas, tão prejudicial ao meio ambiente.
Fazendeiros
Os fazendeiros que aderiram ao programa do ecoturismo deixaram de fazer queimadas.
— Isso é importante, quando a pessoa passa a enxergar e se vê como parte do processo e tem um retorno financeiro. Essa geração de renda foi fundamental para que se mudasse também essa visão, para que se entendesse que a floresta em pé, que os animais vivos, trazem muito mais retorno, até retorno financeiro, do que ir lá e matar e colocar fogo — disse Massavi.
Segundo o Projeto Bichos do Pantanal, quase a totalidade dos focos de incêndios são provocados pela ação humana, seja intencional ou acidentalmente. O projeto reitera que há necessidade de um despertar do indivíduo e da coletividade para a conservação do meio ambiente, para garantir qualidade de vida para a população e para a própria sustentabilidade.