Ganhou força nesta segunda-feira o protesto dos caminhoneiros contra o aumento no preço do óleo diesel, baixo preço do frete e más condições das estradas. No Rio Grande do Sul, foram pelo menos 30 trechos em 25 rodovias afetadas pela paralisação que promete se estender pelos próximos dias.
Às 21h desta segunda-feira, pelo menos 14 pontos em rodovias federais permaneciam com bloqueios. Em Pelotas, houve queima de pneus na BR-392 durante a noite.
Uma reunião entre os motoristas da região e o sindicato das empresas está agendada para esta terça-feira, às 15h na superintendência do Porto de Rio Grande. Como o protesto não é centralizado, caso cheguem a um acordo, a decisão não vale para motoristas de outras regiões.
Na maioria dos Estados, as manifestações ocorreram de forma pacífica ao longo da segunda-feira. Caminhões e veículos pesados foram orientados a parar no acostamento, mas a passagem de automóveis de passeio foi liberada.
Os protestos no Rio Grande do Sul foram isolados e não reuniram grande quantidade de caminhoneiros, mas deixaram o trânsito lento nos pontos onde houve bloqueios. De acordo com o presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos RS (Fecam), Eder Dal'Lago, que representa nove sindicatos, a manifestação surgiu de forma espontânea e não está sendo organizada pela entidade.
Na Região Noroeste do Estado, três protestos foram realizados pelos caminhoneiros. Em Giruá, na ERS-344, cerca de cem caminhões ficaram parados ao lado da rodovia, sendo liberados apenas veículos de passeio. Caminhões com cargas vivas ou perecíveis foram impedidos de seguir viagem. À tarde, caminhoneiros fecharam também o trecho que liga Santa Rosa a Três de Maio, nas proximidades do trevo de acesso à Santa Rosa.
No sul do Estado, os manifestantes bloquearam dois acessos à cidade de Pelotas. Os caminhões foram obrigados a estacionar no acostamento, formando uma fila de pelo menos dois quilômetros. No início da manhã houve queima de pneus na pista, mas à tarde o protesto foi pacífico, conforme informações da Polícia Rodoviária Federal.
- Foi um movimento que surgiu fora do sindicato, mas que abraçamos e estamos trabalhando para apoiar os caminhoneiros. Estamos lutando para a implantação de uma tabela para preço mínimo no frete e vamos participar da negociação com o sindicato das empresas - explica Flávio Rosa, diretor operacional do Sindicato dos Caminhoneiros de Rio Grande.
Segundo a assessoria de imprensa da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) não cabe à agência reguladora definir o preço de frete e sim ao mercado. Nenhuma negociação está sendo realizada com sindicatos no momento.
Risco de desabastecimento
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no RS (Setcergs), José Carlos Silvano, se o movimento durar muito tempo, pode ocorrer desabastecimento de combustíveis e alimentos. A empresa BRF informou que interrompeu a produção de duas fábricas no Paraná por falta de matéria-prima. No Rio Grande do Sul, o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados (Sindilat/RS) informou que caminhões de transporte de leite estão sendo impedidos de circular pelo Estado e planeja ingressar com ação judicial para garantir a entrega do produto.
Na estimativa do líder do Movimento União Brasil Caminhoneiro (MUBC) no Rio Grande do Sul, Marco Antônio Scherer, cerca de pelo menos 76 mil caminhoneiros autônomos gaúchos - o equivalente a 95% da categoria - estão parados nas rodovias ou em suas casas. O número não é confirmado pela Federação dos Caminhoneiros Autônomos.
A Advocacia-Geral da União (AGU) mobilizou força-tarefa para solicitar, na Justiça, a liberação de rodovias federais bloqueadas por protestos de caminhoneiros. A iniciativa pede autorização para o poder público adotar medidas necessárias para garantir a circulação nas pistas e a fixação de multa de R$ 100 mil para cada hora que os manifestantes se recusarem a liberar o tráfego e contará com o apoio do Ministério da Justiça, por meio da Polícia Rodoviária Federal e da Força Nacional.
PAÍS
Houve paralisação em 11 Estados. Confira onde teve maior impacto:
Mato Grosso
Foram cinco pontos de interdição na principal via de escoamento da produção agrícola brasileira, a BR-163. Houve bloqueios próximo aos municípios de Cuiabá, Rondonópolis, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso.
Paraná
Pelo menos 12 trechos foram bloqueados, em quatro rodovias.
Goiás
A BR-364, principal corredor de escoamento graneleiro de Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, teve bloqueio no perímetro urbano de Jataí. Também houve paralisações próximo aos municípios de Mineiros e Caiapônia.
Santa Catarina
Chegou a 10 o número de pontos em que a passagem de caminhões foi interrompida nas rodovias catarinenses. Na maioria dos trechos, manifestantes permitem apenas a passagem de carros de passeio, ônibus, cargas perecíveis e veículos oficiais.
Minas Gerais
A Fernão Dias, principal ligação entre Minas Gerais e São Paulo, chegou a ter 17 quilômetros de lentidão na Grande Belo Horizonte no início da tarde, no sentido São Paulo.