Todo investimento em campanhas educativas para frear acidentes de trânsito parece insuficiente para convencer os motoristas a tirarem o pé do acelerador.
Conforme dados preliminares divulgados nesta sexta-feira pelo Departamento de Trânsito (Detran), de todas as multas aplicadas no Rio Grande do Sul em 2012, 38% foram por excesso de velocidade.
Desde 2005, quando o Detran passou a divulgar o ranking das infrações mais comuns no Estado, o excesso de velocidade tem liderado com folga como a mais flagrada nas fiscalizações. No ano passado, das 2,2 milhões de autuações, mais de 850 mil recaíram sobre os "apressadinhos" nas estradas gaúchas.
Se, por um lado, a variação em torno dos 3% no total de infrações em 2012 fica abaixo do aumento da frota gaúcha, que foi de 6% em relação a 2011, por outro, chama atenção que, das 69 mil multas a mais de um ano para o outro, 62 mil se referem especificamente à velocidade acima do permitido.
Segundo Adelto Rohr, coordenador do projeto Viagem Segura, do Detran, mudar esse comportamento do motorista é um processo demorado, pois depende da conscientização de que a fiscalização é um processo educativo.
- A infração existe porque representa um risco à segurança no trânsito, não simplesmente para multar - destaca Rohr.
Limite poderia ser maior, diz especialista
Para o professor do Laboratório de Sistema de Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Fortini Albano, o destaque do excesso de velocidade na estatística não é só uma questão de comportamento do condutor, mas também de como é feita a fiscalização, além da possível defasagem do limite estabelecido em algumas estradas.
- Muitas das principais rodovias do Estado têm condições geométricas para uma velocidade maior. Isso gera um paradoxo, porque o gestor teme ampliar o limite e aumentar acidentes, enquanto o usuário excede o limite por perceber que a estrada lhe dá condições para isso - comenta Albano.
O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio Grande do Sul, Jerry Adriane Dias Rodrigues, concorda que a fiscalização, por meio de radares fotográficos, faz com que se eleve o número de autuações, já que não exige a abordagem do motorista.
Todos são unânimes em alertar para a perigosa combinação entre o acelerador e as mortes nas estradas. De acordo com Rohr, o excesso de velocidade é um dos fatores mais relevantes para acidentes graves de trânsito, junto com ultrapassagem em local indevido e falta do cinto de segurança.
- Uma morte no trânsito não é um dado estatístico, é uma vida que se perde - enfatiza.
As 10 infrações mais cometidas no RS
1. Excesso de velocidade
Está fortemente associado a acidentes graves de trânsito, ao lado de ultrapassagem em local indevido e não usar cinto de segurança. A fiscalização é feita por meio de radares fotográficos, sem abordagem.
2011: 788.564
2012: 851.093
2. Conduzir veículo com característica adulteradas
Engloba todo as as alterações feitas no veículo, que possam comprometer a segurança ao trafegar. Um exemplo é o rebaixamento do veículo, abaixo dos níveis permitidos pelas normas de trânsito.
2011: 224.760
2012: 241.083
3. Estacionar em local indevido
Prejudica o tráfego e causa congestionamentos. É o caso do veículo que para na pista lateral da rodovia, gerando impaciência nos demais motoristas, além de ficar sujeito a colisões na ultrapassagem.
2011: 184.360
2012: 170.615
4. Dirigir sem cinto de segurança
É considerado um dos principais fatores para mortes no trânsito, com ultrapassagem em local proibido e excesso de velocidade. Passageiros também devem trafegar com cinto, inclusive no banco de trás.
2011: 127.411
2012: 122.418
5. Dirigir com fone/calçado irregular/incapacidade
São situações que prejudicam a concentração do motorista. No caso do fone, representa risco porque tira a atenção do condutor enquanto dirige. O calçado inadequado pode fazer o pé escorregar sobre os pedais.
2011: 103.285
2012: 92.921
6. Avançar sinal vermelho ou parada obrigatória
Semáforos e paradas obrigatórias sinalizam locais com baixa visibilidade, por isso, avançar nesses locais, desrespeitando a sinalização, representa sério risco de colisão com veículos que venham no sentido oposto.
2011: 102.053
2012: 90.433
7. Não apresentar condutor
É o caso de empresas que não apresentam o condutor de veículos corporativos, para que ele não seja penalizado com a pontuação na carteira de motorista. Nenhum condutor recebe os pontos na habilitação.
2011: 100.698
2012: 113.736
8. Não efetuar registro do veículo em 30 dias
Também está atrelada à pontuação, no caso de transferência de posse do veículo na documentação. Se o novo proprietário comete uma infração e ele não se apresenta, a penalização recai sobre o anterior.
2011: 92.451
2012: 102.509
9. Dirigir sem habilitação regular
Abrange tanto aquele que dirige sem habilitação quanto o motorista com permissão para dirigir carro que conduz uma motocicleta. É arriscado porque não há garantias de que esteja apto a operar aquele veículo.
2011: 75.772
2012: 86.046
10. Ultrapassar pela contramão em local indevido
Grande parte dos casos de acidentes graves de trânsito envolvem veículos que invadiram a pista contrária, indicando a ultrapassagem em local indevido. É uma das principais condutas de risco à vida no trânsito.
2011: 54.796
2012: 51.408