
Joaquin Phoenix deu vida ao personagem Theodore Twombly no filme Her (2013), um homem que criou uma relação pessoal e se apaixonou por uma assistente virtual chamada Samantha. A inteligência artificial (IA), interpretada somente por voz pela atriz Scarlett Johansson, se torna cada vez mais íntima do protagonista. O enredo de ficção científica não está muito distante da realidade, pouco mais de uma década depois: na China, milhares de mulheres estão se relacionando com companheiros virtuais nos próprios celulares e computadores.
Em uma reportagem da AFP, a jovem Tufei, de 25 anos, contou que o seu namorado tem tudo que ela pode querer em um parceiro romântico – ele só não existe fora das telas. O aplicativo Glow, criação da start-up MiniMax, permite que os usuários criem perfis de acompanhantes virtuais completamente personalizados.
— Ele sabe falar com uma mulher melhor do que um homem de verdade. Eu sinto que estou em uma relação amorosa — avalia a jovem.
A IA consegue se adaptar gradualmente à personalidade de quem a está utilizando, inclusive lembrando do que já foi dito e redirecionando suas respostas.
Wang Xiuting, 22, uma estudante de Pequim, revela que possui diversos namorados no aplicativo Wantalk, da empresa Baidu. Muitos dos perfis criados na rede são baseados em personagens de histórias tradicionais chinesas, como imortais, príncipes e guerreiros, ou até mesmo estrelas do mundo pop. Também é possível customizar os avatares de acordo com idade, aparência, valores e hobbies.
Para Xiuting, é difícil conhecer o parceiro ideal na vida real. Ela acredita que as pessoas têm personalidades muito diferentes, o que pode gerar atritos. Com os acompanhantes virtuais, esse problema, teoricamente, não existiria.
— Eu faço perguntas e eles sugerem soluções. É um apoio emocional — confessou a jovem.
— Todos vivem momentos complicados e solitários, e podem não ter a sorte de ter amigos e familiares disponíveis 24 horas por dia por perto. A inteligência artificial pode suprir essa necessidade — disse a líder da gestão de produtos da Baidu à AFP.
O risco de vazamento ou comprometimento de dados pessoais segue sendo uma preocupação na indústria. O governo chinês afirma estar trabalhando em leis para proteger os usuários dos perigos das novas tecnologias. Por sua vez, a Baidu não respondeu às perguntas da agência sobre as medidas usadas para garantir a proteção de dados.