O clássico Another Brick in the Wall, do Pink Floyd, foi recriado por cientistas da Universidade de Berkeley, na Califórnia, nos Estados Unidos, com base na gravação de ondas cerebrais de pacientes. É a primeira vez que uma canção é decodificada a partir do registro da atividade elétrica do cérebro.
O avanço pode ajudar a restaurar a musicalidade natural do discurso de pessoas que sofrem de doenças neurológicas, como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), que prejudicam a fala.
Os cientistas analisaram gravações de ondas cerebrais de 29 pacientes submetidos a cirurgias para o tratamento da epilepsia. Durante a intervenção cirúrgica, eles escutavam um trecho de três minutos da canção mais famosa do álbum The Wall, de 1979. A atividade cerebral foi captada por meio de eletrodos colocados diretamente no cérebro dos voluntários, enquanto eles eram operados.
Posteriormente, as gravações foram decodificadas por meio de inteligência artificial. Apesar de o som soar um pouco abafado, é possível reconhecer facilmente o verso "All in all, its just another brick in the wall", bem como a melodia e o ritmo da música reconstruída. O trabalho foi publicado na última terça-feira (15), na PLoS Biology.
— Parece um pouco que eles estão cantando debaixo da água — comparou o neurologista Robert Knight, principal autor do estudo.
O pesquisador acredita que, se os eletrodos forem colocados mais próximos uns dos outros, será possível melhorar a qualidade da reconstrução.
— Em média, a distância entre um eletrodo e outro era de cerca de 5 milímetros, mas em dois pacientes, a separação foi de apenas 3 milímetros. Foram justamente as melhores performances em termos de reconstrução — afirmou o neurologista.
Até agora, as tentativas de decodificar um discurso a partir de gravações de ondas cerebrais não tinham conseguido recriar a musicalidade da voz, mantendo sempre um tom robótico como acontecia, por exemplo, com a fala do cientista britânico Stephen Hawking, que sofria de ELA. O avanço deixa os pesquisadores mais próximos de conseguir recriar o ritmo e a entonação do discurso a partir de sinais cerebrais.
— A música é, por natureza, emocional e prosódica tem ritmo, ênfase, sotaque e entonação — explicou Knight:
— Contém um espectro muito maior de coisas do que fonemas limitados de qualquer linguagem, o que poderá adicionar outra dimensão a implantes decodificadores de discurso.