O ano de 2023 será empolgante para aqueles que gostam de observar o céu. E mesmo quem não tem telescópios ou binóculos poderá curtir muitos dos fenômenos celestes previstos para este ano. Planetas em conjunção, em oposição, chuvas de meteoros, aparição de um cometa e, até mesmo, eclipses, deverão marcar todos os meses do calendário astronômico de 2023.
Um dos eventos mais esperados do ano, segundo o astrônomo coordenador de extensão do Observatório do Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e sócio da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), Daniel Mello, é o eclipse solar anular, previsto para outubro.
— Eclipses solares acontecem todos os anos, mas é necessário estar em um ponto específico do mundo para ver. Por isso, são raras as oportunidades de curtir esse fenômeno. Faz tempo que não temos um eclipse solar total no Brasil, o último foi em 2006 – conta.
Mello pontua, ainda, que eclipses solares totais, quando a Lua encobre o Sol inteiro, são ainda mais raros. O Brasil só verá um desses novamente em 2045. O eclipse solar anular, que deve acontecer em outubro, é mais comum e, tirando o deste ano, o próximo, segundo previsão de Mello, deve ser em 2027.
Confira em detalhes cada um dos fenômenos
Janeiro
No primeiro quadrimestre do ano, o astrônomo chama atenção para nove eventos celestes interessantes. No dia 22 de janeiro, os planetas Vênus e Saturno estarão em conjunção. Quem olhar para o céu, na direção Oeste, após o pôr do sol, poderá ver e fotografar os astros com facilidade.
No dia seguinte, dia 23, a Lua deve se juntar à dupla, podendo ser apreciada da mesma forma por quem olhar na mesma direção e horário do dia 22. No dia 25, a Lua e Júpiter estarão bem próximos, facilitando a observação dos dois astros
— Mesmo com o celular já será possível fazer fotos interessantes nos dias 22 e 23, porque esses astros são muito brilhantes. Quem estiver sob um céu mais escuro, longe das luzes da cidade, poderá ver ainda melhor — afirma Mello.
Fevereiro
Em fevereiro, o fenômeno que chama atenção é o cometa C/2022 E3, que poderá ser visto do Sul do Brasil no dia 5. Para quem está no Norte ou Nordeste do País, o cometa deve ser visto já no primeiro dia do mês. Os gaúchos que quiserem acompanhar o fenômeno, precisarão de binóculos ou telescópios.
— Esse é o evento mais interessante do mês para quem tem instrumentação econômica. Para quem não tem, indico o encontro entre a Lua, Júpiter e Vênus no dia 22. Quem quiser ver, deve olhar para a direção do pôr do sol assim que começar a escurecer — sugere.
Ele salienta que os astros estarão bem baixos. Portanto, uma boa pedida é procurar lugares que costumam ter uma bela vista do pôr do sol, como a Orla do Guaíba, em Porto Alegre, por exemplo.
Março
Nos dias 1º e 2 de março, Vênus e Júpiter, os dois planetas mais brilhantes que podem ser vistos da Terra, estarão bem próximos, proporcionando uma linda visão a olho nu. Para observar os astros, basta seguir as orientações dos eventos anteriores. Quem tiver um binóculo ou telescópio poderá ver as luas de Júpiter também.
No dia 14, a Lua vai estar próxima constelação de Escorpião. Mais especificamente, do lado de Antares, a estrela mais brilhante da constelação.
Abril
No quarto mês do ano, o planeta Vênus deve encontrar o aglomerado de estrelas Plêiades no dia 11. Será possível enxergar a beleza do fenômeno a olho nu, mas quem estiver usando um binóculo conseguirá ver a constelação de Touro à direita de Vênus.
Às 2h do dia 23, ocorre o pico da chuva de meteoros Líridas, com aproximadamente 15 meteoros por hora. O fenômeno pode ser visto sem ajuda de equipamentos, ao olhar para o Norte.
Maio
Na madrugada do dia 5 para o dia 6, a chuva de meteoros Eta Aquáridas permitirá ver fragmentos do cometa Halley. A partir da 1h, já será possível ver os rastros luminosos, que devem surgir próximos da constelação de Aquário, na direção do nascer do sol.
— Meteoro é um fragmento de cometa que é atraído pela gravidade da Terra e acaba se incendiando na atmosfera da Terra. Quando a atmosfera barra esse fragmento, esse efeito forma um rastro luminoso, que é o meteoro. Mas, para acompanhar uma chuva de meteoro, tem que ter paciência e tem que estar longe da cidade, em um céu bem limpo e escuro. É um fenômeno que não é recomendado usar equipamentos porque é muito rápido, então, se a pessoa mirar o binóculo para um lugar específico, pode perder — explica o coordenador.
Um pouco antes de o Sol nascer, no dia 17 de maio, será possível ver a Lua e Júpiter bem juntinhos, na direção Leste. No início da noite do dia 22 de maio, a Lua estará perto de Vênus e, próximas a eles, estarão as estrelas Pólux e Castor, duas das mais brilhantes da constelação de Gêmeos. O fenômeno poderá ser observado sem o uso de equipamentos, a partir das 18h, no horizonte Oeste. No dia 23, Marte deverá estar acima dos quatro astros, proporcionando uma visão ainda melhor.
Junho
Para quem tem equipamentos de observação, os dias 2 e 12 de junho prometem ser interessantes, com Marte e Vênus, respectivamente, próximas do aglomerado da Colmeia, ou do Presépio, como também é conhecido. Quem tiver em grandes cidades e sem equipamento, só conseguirá ver os planetas, perdendo a vista das estrelas.
No dia 21, por volta das 19h, Lua, Vênus e Marte devem formar um triângulo no céu, que poderá ser visto a olho nu.
Julho
Dia 20 de julho, no comecinho da noite, os planetas Vênus, Marte, Mercúrio, a Lua e a estrela Regulus estarão próximos. Segundo Mello, vai ser a segunda chance de ver Mercúrio, que vai estar bem baixo no horizonte.
– Não tem como errar. Olhou para o Oeste, achou a Lua: automaticamente achou os outros astros. É um evento imperdível.
Agosto
O oitavo mês do ano traz eventos interessantes: duas Superluas, uma no dia 1° e outra no dia 30, e uma chuva de meteoros. As Superluas deixam a Lua mais próxima da Terra e mais brilhante, podendo ser vista a noite toda.
A chuva de meteoros Perseidas poderá ser vista na madrugada do dia 14, por volta das 3h. No Norte e Nordeste do Brasil, deve começar mais cedo, a partir da meia noite. A estimativa é de 100 meteoros por minuto.
Setembro
Netuno estará em oposição, ou seja, a 180º do Sol, no dia 19. O planeta ficará visível a noite toda, mas apenas para quem está observando de um binóculo ou telescópio, uma vez que, a olho nu, é apenas um pontinho brilhante.
Outubro
No dia 14 de outubro, acontece o evento mais esperado do ano: o eclipse solar anular. O fenômeno tem esse nome porque, quando a Lua encobre o Sol, forma-se um anel de fogo. Apesar do eclipse poder ser visto do Brasil inteiro, os únicos que verão o formato anular são os estados do Norte e Nordeste. No Sul, a Lua deve encobrir uma pequena porcentagem do Sol, sendo, então, um eclipse solar parcial.
Mello salienta que, apesar de poder ser visto a olho nu, o eclipse pode causar problemas de visão. Portanto, é importante olhar para o fenômeno usando um filtro próprio para observação solar.
Na madrugada do dia 22, a chuva de meteoros Orionidas, que acontece em uma das constelações mais famosas, a de Orion, poderá ser vista na direção Leste, a partir da meia-noite. Da mesma forma que a chuva de maio, os meteoros desta também são fragmentos do cometa Halley.
Novembro
No segundo dia do mês, Júpiter estará em oposição ao Sol. Será o melhor dia do ano para observar o planeta. Já no dia 14, no início da noite, será possível ver, mais uma vez, a Lua próxima de Antares e de Mercúrio.
Na madrugada do dia 18, por volta da 1h, a chuva de meteoros Leônidas, terá meteoros brilhantes para serem observados. Na direção Leste, será possível ver de 15 a 20 meteoros por hora.
Dezembro
No dia 9, às 4h da manhã, acontece o último encontro da Lua e Vênus do ano. O planeta estará próximo da estrela Spica, que é conhecida por ser muito brilhante.
Mello está empolgado para o dia 14, quando deve iniciar o pico da chuva de meteoros mais intensa do ano, a Geminídeas. A chuva poderá ser vista de todo o Brasil, mais na direção Leste, a partir das 22h e na madrugada do dia 15. A previsão é de 150 meteoros por hora.
— Essa é uma das poucas que não precisa estar sob um céu 100% escuro e muito longe das luzes da cidade para enxergar, porque são muitos meteoros e eles são bem brilhantes. Nesta noite, não teremos a Lua no céu, então vai valer a pena — acrescenta.
*Produção: Yasmim Girardi