
Pesquisadores das Universidades norte-americanas de Washington e Princeton criaram recentemente uma microcâmera tão pequena que seu tamanho pode ser comparado ao de um grão de sal grosso. Segundo os cientistas, a tecnologia é capaz de captar imagens em alta resolução, com campo de visão maior e cores mais vibrantes se comparada a outros dispositivos. Os resultados da pesquisa foram apresentados em um artigo publicado nesta terça-feira (29) na revista científica Nature.
Diferentemente das câmeras digitais tradicionais, que utilizam pedaços de vidros ou plásticos curvos para formar as lentes que direcionam a luz para o processador, a nova tecnologia conta com uma lógica diferente. Para sua fabricação, foi utilizado um processo chamado de metasuperfície, que consiste na elaboração de um material constituído por nitreto de silício (o resultado fica semelhante ao vidro). Em seguida, nesse composto são inseridos 1,6 milhão de pinos cilíndricos minúsculos, cada um com uma geometria única, que são capazes de manipular a luz que passa pelo sensor. De acordo com os pesquisadores, esse processo pode ser reproduzido em grande escala e é semelhante ao que ocorre com chips para computador.
Com relação ao funcionamento, a microcâmera utiliza algoritmos de aprendizado de máquina (machine learning, em inglês), que otimizam os dados recebidos para formar imagens em alta qualidade.
Por meio dessa combinação dos campos de hardware (parte física) e software (componentes lógicos para leitura de dados), a equipe conseguiu desenvolver uma microcâmera que gerou as imagens com melhor qualidade já registradas até então, com relação a equipamentos já produzidos por esse método.
Antes de chegar ao resultado, os cientistas desenvolveram diversas microcâmeras, mas elas registravam imagens distorcidas e com campo de visão limitado, o que foi inicialmente um problema para o avanço da pesquisa.
"Uma inovação importante na criação da câmera foi o design integrado da superfície óptica e os algoritmos de processamento de sinal que produzem a imagem. Isso aumentou o desempenho da câmera em condições de luz natural, em contraste com as câmeras de metassuperfície anteriores que exigiam luz laser pura para produzir imagens de alta qualidade", explicou Felix Heide, principal autor do estudo, em comunicado enviado à imprensa.
Aplicabilidade da tecnologia
Felix Heide explicou, ainda, que a microcâmera pode ser utilizada em procedimentos médicos como endoscopia, permitindo, assim, a entrada de uma tecnologia menos invasiva no corpo. O dispositivo também pode servir para diagnosticar doenças, a partir do registro em imagens de determinado órgão.
Outra possibilidade levantada pela equipe é instalar uma série de microcâmeras deste tipo em superfícies para registrar e tornar viável a passagem de objetos, que, poderiam, inclusive, se guiarem sozinhos.
Os pesquisadores também anunciaram que já estão trabalhando para adicionar novas funcionalidades à tecnologia. O objetivo é obter detecção de objetos e aplicabilidade de técnicas de sensoriamento. Com isso, o dispositivo pode se tornar um importante aliado da Medicina e da Robótica.