Um grupo de engenheiros da área de robótica da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, criou em 2016 um protótipo de robô humanoide capaz de explorar o fundo dos oceanos. Desde então, os pesquisadores têm submetido o OceanOneK, como é chamada a tecnologia, a testes e missões que se mostraram bem-sucedidos. As informações são do site oficial da instituição de ensino.
De acordo com especialistas em mergulho, um mergulhador precisa de anos de treinamento e habilidades na área para atingir os 100 metros de profundidade sem morrer no trajeto. Em setembro de 2021, o robô iniciou uma excursão com várias paradas pelo Mar Mediterrâneo. Com essa missão, o OceanOneK encontrou os naufrágios de uma aeronave P-38 Lightning da Segunda Guerra Mundial, localizada a 40 metros de profundidade, e um submarino Le Protée, a 124 metros. Outro achado foi um navio romano do século 2, que se encontrava a 334 metros de profundidade.
No mergulho final da missão ao Mediterrâneo, em fevereiro desse ano, o robô chegou a 852 metros de profundidade, marca nunca antes alcançada pela tecnologia. No entanto, ao longo do trajeto, a equipe descobriu que o OceanOneK não conseguia subir porque as flutuações ao redor da linha de comunicação e de energia que se conectavam à embarcação dos pesquisadores entraram em colapso, deixando a longa e pesada linha empilhada sobre o robô.
Apesar do imprevisto, os cientistas conseguiram puxar a folga da linha e resgatar o robô, que concluiu sua excursão. A equipe envolvida na pesquisa se mostrou extremamente satisfeita e surpresa com os quase mil metros de profundidade que a tecnologia alcançou e isso motivou a troca de nome de OceanOne para OceanOneK. Em inglês, a letra k simboliza a unidade "kilo" (quilo, em português), que denota a quantidade mil.
Outro feito bem-sucedido do robô ocorreu no mês passado, quando desceu quase 500 metros abaixo da superfície do Mediterrâneo e recuperou vasos de um antigo naufrágio romano.
De acordo com os pesquisadores, a principal utilidade do robô é explorar lugares nas profundezas dos oceanos onde os seres humanos não conseguem chegar. Para realizar as operações, o OceanOneK conta com mãos que podem pegar artefatos e traze-los à superfície. Além disso, ele dispõe de olhos estereoscópicos, que capturam em cores o que avista nas águas.
Um dos recursos mais surpreendentes da tecnologia é o seu sistema de feedback que é baseado em toque. A partir dele, os operadores conseguem sentir todas as sensações que o robô experimentaria se fosse humano, desde a resistência da água até o toque de objetos como os artefatos localizados nas profundezas.
Veja imagens do robô
Diferença entre o OceanOneK e um ROV
O projeto do OceanOne, como foi chamado inicialmente, foi idealizado pela Universidade Rei Abdullah de Ciência e Tecnologia da Arábia Saudita (Kaust) para monitorar recifes de corais no Mar Vermelho. As informações são do site da revista IEE Spectrum.
A tecnologia acabou sendo aprimorada e desenvolvida pela equipe do professor Oussama Khatib, do departamento de Ciência da Computação da Universidade de Stanford.
O doutor Christian Voolstra, do departamento de robótica de Stanford, explicou na época do lançamento da tecnologia que o robô era diferente dos veículos remotamente operados (ROVs) porque ele cumpriria exigências e funções que essas máquinas não eram capazes.
Os ROVs são submersíveis operados por controle remoto e têm tamanhos equivalentes ao de uma geladeira. Além disso, não dispõem de braços mecânicos flexíveis e ágeis, funcionando mais como espécies de pinças extremamente fortes e sem sensibilidade. Outra característica é que grande parte da energia da tecnologia é utilizada apenas para mantê-la estável em seu lugar.
Já o OceanOneK é muito menor do que um ROV (o seu tamanho é equivalente ao de um ser humano). Isso faz com que tenha maior agilidade e estabilidade. O robô também é muito mais leve e aerodinâmico. Como suas partes eletrônicas são envoltas em óleo (e não em ar como nos demais aparelhos), isso cria uma pressão interna que deixa a máquina mais resistente e resiliente às grandes profundidades.
Diferentemente dos braços dos ROVs, os do robô são elásticos, possuem resposta tátil e são muito mais precisos para agarrar e manipular objetos. Isso pode ser útil para garantir a integridade de um objeto encontrado nas profundezas, que poderia ser destroçado acidentalmente por um veículo remotamente operado.
Primeira missão
A primeira missão oficial do OceanOneK ocorreu em 15 de abril de 2016. A excursão teve como objetivo a exploração do La Luna, principal navio do rei da França Luís XIV, que afundou em 1664 a cerca de 32 quilômetros da costa francesa. A embarcação foi encontrada pelo robô no mesmo local, a 100 metros de profundidade.