A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) divulgou na quarta-feira (16) a foto de uma estrela capturada pelo telescópio espacial James Webb durante teste de calibração fina. A imagem, que foi registrada em 11 de março, surpreendeu os pesquisadores devido à alta qualidade.
No dia do registro, o telescópio já estava com seus 18 segmentos de espelho alinhados e foi realizada uma calibração fina para alinhar a câmera de infravermelho (NIRCam) próxima aos segmentos. A partir disso, os astrônomos resolveram testar o equipamento capturando a primeira imagem unificada da estrela 2MASS J17554042+6551277.
Com os testes, os cientistas concluíram que todos os parâmetros ópticos do James Webb estavam funcionando perfeitamente, dentro e acima das expectativas. Além disso, não encontraram nenhum problema crítico, de contaminação ou bloqueio do aparato óptico do telescópio. O dispositivo tinha o objetivo de focar somente a estrela, mas devido à sensibilidade dos equipamentos foram registradas também galáxias e outras estrelas ao fundo.
"Alinhamos totalmente e focamos o telescópio em uma estrela, e o desempenho está superando as especificações. Estamos entusiasmados com o que isso significa para a ciência", disse Ritva Keski-Kuha, vice-gerente de elementos do telescópio óptico, em comunicado.
Para conseguir registrar a estrela, foi utilizado um filtro vermelho para otimizar o contraste. Esse não é o primeiro registro deste tipo de corpo celeste pelo telescópio. Durante a primeira etapa de alinhamento dos segmentos, ocorrida em 2 de fevereiro deste ano, Webb já havia flagrado a estrela HD84406. No entanto, na época, foi preciso tirar 18 cópias desfocadas do alvo e não foi produzida nenhuma imagem unificada.
Lançamento
O telescópio James Webb foi lançado ao espaço em 25 de dezembro do ano passado. Depois de 29 dias de viagem, ele chegou até o ponto chamado Lagrange 2 ou L2, que fica a 1,5 milhão de quilômetro de distância da Terra.
O equipamento custou mais de US$ 10 bilhões — aproximadamente R$ 50 bilhões — e foi desenvolvido por meio de uma parceria entre a Nasa e outras agências espaciais.
Alinhamento
Os 18 segmentos do espelho de James Webb foram criados com o intuito de funcionarem como um só. Devido aos sete motores que ficam localizados atrás de cada um deles, os segmentos conseguem se mover e remodelar sua curvatura.
Themiya Nanayakkara, astrônomo-chefe do James Webb Australian Data Center, divulgou em artigo publicado no site The Conversation que os motores podem mover os espelhos com muita precisão, até cerca de um sobre 10 mil do diâmetro de um fio de cabelo humano. É justamente por essa precisão, dentro de uma fração de comprimento de onda da luz, que é possível obter imagens em alta qualidade.
Próximas fases
Ao longo das próximas seis semanas, a equipe envolvida com o projeto continuará o trabalho nas fases de alinhamento pendentes. Em seguida, começarão a preparar os instrumentos científicos. A partir disso, com a ajuda de um algoritmo, irão alinhar o telescópio para incluir os instrumentos Near-Infrared Spectrograph, Mid-Infrared Instrument e Near InfraRed Imager and Slitless Spectrograph.
Na fase de alinhamento final, a equipe corrigirá eventuais erros de posicionamento dos segmentos do espelho. A expectativa é de que todas essas etapas de alinhamento sejam concluídas até o início de maio. Já a etapa de preparação dos instrumentos científicos deve durar dois meses.
A Nasa também pretende analisar nos próximos dias como outros três instrumentos do James Webb se comportam com imagens de estrelas: o NIRSpec, que estudará variações nas propriedades da luz; o NIRISS, que tem funcionalidade similar à NIRCam, e o MIRI, que observará o Universo em comprimentos de onda muito mais altos (faixa do infravermelho médio).
As primeiras imagens registradas em resolução completa e com todos dados científicos devem ser publicadas até metade do ano que vem. Quando o telescópio estiver concluído, será possível investigar as origens do universo, fotografar exoplanetas — planetas que se encontram fora do nosso Sistema Solar — ao redor de estrelas distantes e explorar outros corpos celestes.