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Estava incrustado nas rochas de São João do Polêsine, na Região Central, o fóssil de um dos mais antigos dinossauros predadores do mundo. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) e da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) encontraram o esqueleto praticamente completo do Gnathovorax cabreirai, originário do período Triássico, com aproximadamente 230 milhões de anos. Este é o fóssil de dinossauro predador mais bem preservado localizado no Brasil.
A pesquisa, conduzida por estudiosos da UFSM e da Universidade de São Paulo (USP), acaba de ser publicada no periódico científico PeerJ. Desde 2014, quando foi localizado, o fóssil passou por um delicado processo de limpeza. Hoje, depois de totalmente retirado da pedra, restam poucos resquícios de sedimentos sobre ele. Na tarde desta segunda-feira (11), o Gnathovorax cabreirai será exibido em coletiva de imprensa no Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica da Quarta Colônia (Cappa/UFSM). O feito não era guardado em segredo, mas só agora ganha repercussão mundial. Para paleontólogos e entusiastas do tema, a novidade é emocionante.
– Quem trabalha com dinossauros do Triássico sempre sonha em encontrar um animal desses – comenta o paleontólogo Rodrigo Temp Müller, um dos pesquisadores envolvidos.
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Em vida, o Gnathovorax cabreirai media cerca de três metros de comprimento e um metro e meio de altura. Apesar de ser menor do que outras feras famosas, ele era o maior dinossauro brasileiro de seu tempo. Carnívoro, o animal tinha dentes pontiagudos serrilhados e longas garras nos dedos, características úteis na captura das presas. Seu alimento principal era o rincossauro, uma espécie de réptil – junto do Gnathovorax, os cientistas acharam dois esqueletos de rincossauros, mais fragmentados.
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Por meio de tomografias computadorizadas, os pesquisadores puderam reconstruir parte da morfologia do cérebro, concluindo que regiões relacionadas à visão e ao equilíbrio eram bem desenvolvidas. O primeiro nome do dinossauro, Gnathovorax, significa mandíbulas vorazes, e o segundo, cabreirai, homenageia o paleontólogo Sérgio Furtado Cabreira, que o encontrou no solo gaúcho.
Müller destaca que o último dinossauro do grupo dos herrerassaurídeos descoberto no Brasil, o Staurikosaurus pricei, data do ano de 1936.
– O Gnathovorax é um predador de topo de cadeia muito raro. O grupo dos herrerassaurídeos é enigmático. Agora que estamos começando a entender mais sobre eles – diz o paleontólogo.
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No Brasil, rochas do Triássico só existem no centro do Estado. Para quem quer estudar Paleontologia, o Cappa/UFSM, em São João do Polêsine, é referência. O centro nasceu de um esforço conjunto de nove municípios (Agudo, Dona Francisca, Faxinal do Soturno, Restinga Seca, São João do Polêsine, lvorá, Silveira Martins, Nova Palma e Pinhal Grande) para preservar a riqueza do local e fomentar a ciência. Desde 2010, o Cappa integra a rede de unidades da UFSM. Especialistas nacionais e estrangeiros visitam a área e estabelecem parcerias com a entidade. É mérito do Cappa, entre outras, a descoberta do Bagualosaurus agudoensis, em Agudo, publicada em maio do ano passado na revista Zoological Journal of the Linnean Society.
Daqui para a frente, está nos planos dos paleontologistas dar seguimento aos estudos na ossada. Devem ser realizados trabalhos mais detalhados quanto à anatomia do animal, que podem fornecer informações sobre o cérebro e aspectos biomecânicos como a mordida.
A nova joia da paleontologia brasileira ficará em território nacional (o Staurikosaurus pricei está na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos). Quem tiver interesse de conhecer o esqueleto do herrerassaurídeo pode obter mais informações com o Cappa pelo telefone (55) 3269-1022. Os horários para visitação são das 9h às 12h e das 13h30min às 17h, de segunda-feira a sábado, com entrada gratuita.