Todo segmento da indústria cultural, em algum momento, vai passar por um período de revisitação. Cinema, música, literatura e moda estão sempre se reciclando. Mais jovem desse grupo, os videogames começaram há um tempo a experimentar os prazeres da nostalgia. Mas com o relançamento do Super Nintendo, essa fase já vai se encaminhando para os seus finalmente.
Com previsão de chegar ao mercado em setembro, o Super NES Classic Edition virá com dois controles e 21 jogos na memória – incluindo clássicos como Donkey Kong Country, Final Fantasy III, F-ZERO , Mega Man X e Star Fox – e custará US$ 80. Ainda não há informações sobre quanto custará no Brasil ou se sequer terá uma versão nacional, uma vez que a Nintendo não está oficialmente no país.
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O anúncio da edição saudosista do Super Nintendo chega seis meses depois que a gigante japonesa de entretenimento lançou uma versão limitadíssima do seu console de 8 bits, o NES – o popular Nintendinho. Com 30 jogos na memória, o pequeno aparelho ganhou tiragem tão curta que hoje seu valor de mercado passa dos R$ 1 mil.
Claro, a Nintendo não é a única a faturar surfar na onda retrô. A Tectoy vem investindo pesadíssimo por aqui, primeiro com uma versão do Master System chamada Master System Evolution Blue, com 132 jogos na memória, visual repaginado e vendido com o controle de seis botões do Mega Drive. O preço: coisa de R$ 200. Há algumas semanas, botou novamente na praça o Mega Drive, principal concorrente do Super Nintendo. Pela bagatela de R$ 450, o fã do videogame da Sega leva para casa um joystick e 22 jogos na memória – além da possibilidade de jogar com cartuchos antigos.
Para quem quer ir mais além, a empresa começou a fabricar uma versão do Atari 2600, o Flashback 7. Com 101 jogos na memória e sem entrada para cartucho, o console é vendido oficialmente por inacreditáveis R$ 450.
Mas essa indústria da nostalgia não se limita a consoles. Na última semana, a Sega lançou um pacote com alguns dos seus jogos mais famosos para plataformas mobile. Desde então, é possível jogar gratuitamente (ou pagando para se livrar dos anúncios) games como Sonic, Comix Zone, Altered Beast e Kid Chameleon. E outros títulos estão em vias de chegar no mesmo formato.
A vontade de revisitar o passado também está presente nos bólidos modernos, como XBox One e PlayStation 4. Dona de um dos catálogos mais amados pelos saudosistas, a LucasArts já teve três dos seus adventures dos anos 1990 remasterizados: Grim Fandango (2015), Day of the Tentacle (2016) e Full Throttle (2017). Sem contar franquias ancestrais, como Metal Gear, Final Fantasy, Zelda e Mario, que mantiveram sua mística na (agora já nem tão) nova geração.
É seguro dizer que esse filão não irá muito longe. Ou que está no fim, mesmo. Diferentemente de suas irmãs mais velhas, a indústria dos videogames é muito jovem e tem, portanto, um passado limitado para explorar (e faturar). E no curto espaço de tempo que em que existe, todos os seus sucessos estão sendo retrabalhados – o Super Nintendo é o último dispositivo vencedor que estava fora de catálogo que agora retorna para o mercado. Depois dele, o que mais poderia ser explorado?
É difícil (embora não improvável) imaginar o retorno dos cartuchos, por exemplo, ou mesmo a fabricação em massa de novos jogos para esses consoles antigos. Ou o investimento em trazer dos mortos aparelhos que fracassam em seus tempos, como o Sega Saturn, o Jaguar e o Game Cube. Também não consigo ver a Sony ressuscitando o PlayStation 2.
O limite da nostalgia é a demanda. E só existe demanda pelo que deu certo – e o que deu certo é o que já está aí, disponível no formato de consoles relançados e jogos remasterizados para outras plataformas. Talvez o caminho seja esse, continuar a trazer do passado títulos antigos em novos formatos, o que também é uma forma de nostalgia – estranha, mas ainda assim com seu público.
Games
Volta do Super Nintendo pode ser o limite da nostalgia nos games
Versão do aparelho consolida fase saudosista que a indústria do entretenimento eletrônico vem passando
Gustavo Brigatti
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