
A Polícia Civil deve concluir até o final desta semana o inquérito que apura as circunstâncias em que um homem foi torturado pelo patrão em Canoas, na Região Metropolitana. O suspeito deve ser indiciado por tortura e cárcere privado.
A vítima, um homem de 49 anos, está sob tratamento psicológico e sofrendo com internações por causa de infecção na mão em que foi obrigado a cortar um dos dedos com alicate.
Além disso, a família, por medo, abandonou a moradia em Canoas e está sem renda, vivendo em um imóvel emprestado: duas peças para acolher 10 pessoas.
O crime aconteceu em 22 de março, quando o homem chegou ao trabalho, um ferro-velho no centro de Canoas, e foi imobilizado pelo patrão. Depois disso, passou por oito horas de torturas.
O suspeito é Ricardo Sodré Fernandes da Silva, que foi preso cinco dias depois do fato. Para atacar o funcionário, ele teria alegado que fora roubado e exigia uma confissão.
Conforme o delegado Marco Antônio Arruda Guns, da 1ª Delegacia de Polícia de Canoas, a análise no celular do suspeito indicou que ele realmente gravou a sessão de tortura — como a vítima havia contado — e também repassou imagens para algumas pessoas. Quem recebeu o material pode ser chamado a depor na condição de testemunha.
Na sessão de tortura, a vítima foi algemada, acorrentada e submetida a diversas agressões. O homem relatou que teve os cabelos queimados por um maçarico e os joelhos perfurados por uma furadeira.
O patrão também teria aplicado choques elétricos no funcionário e despejado água fervente nas costas do homem, o que causou queimaduras de segundo grau, conforme o relato da vítima.
Segundo a polícia, o funcionário também foi obrigado a decepar o próprio dedo com um alicate de cortar corrente. É este ferimento que tem causado várias idas da vítima ao hospital para tentar conter a infecção que atingiu a mão, segundo relatou a Zero Hora a companheira da vítima.
Neste domingo (20), a família aguardava carona para que o homem fosse novamente a um hospital.
— Ele precisa nova internação. Mas está tão traumatizado, com tanto medo, que nem no hospital quer ficar sozinho. Tenho que ficar com ele. Por conta disso, não posso fazer minhas faxinas. Saímos de casa só com a roupa do corpo, nem documentos pegamos. Estamos morando em duas peças emprestadas, somos 10 pessoas. As crianças têm tomado café preto sem açúcar. Hoje, não tenho nem uma Páscoa para dar a elas — lamenta a companheira da vítima.
Ela é mãe de gêmeas de oito anos, de um menino de 11 anos que é autista e de mais duas jovens, de 13 e 22 anos. A filha mais velha trabalhava em um mercado em Canoas, mas teve de deixar o emprego. A família dependia principalmente da renda vinda do trabalho da vítima no ferro-velho.
— E eu nem consigo fazer faxina, tenho que estar sempre pra lá para cá em hospitais. Sábado retrasado, consegui uma faxina. No meio do horário, ele começou a passar mal e a patroa teve que pagar um Uber para ele ir ficar comigo no serviço. Ele tem surtos, enxerga o homem perseguindo ele. Está muito difícil a nossa situação — desabafa a mulher.