
A mãe dos gêmeos Bernardo e Vicente Oliveira dos Santos, seis anos, que morreram após acidente na RS-446, em São Vendelino, na Serra, em março, foi ouvida pela Polícia Civil. Em depoimento, a mulher confirmou que mantinha relação conflituosa com o ex-marido, pai dos meninos, e que ele era agressivo.
A polícia investiga se Jardel Oliveira dos Santos, 37 anos, que dirigia o veículo em que estavam os filhos e também morreu, agiu de forma intencional.
O casal tinha se separado havia cerca de dois anos, e a mulher obteve medida protetiva contra o ex-marido, em razão de episódios de violência doméstica. O pai tinha direito de visitar as crianças, mas não possuía autorização para sair com os filhos de Parobé. O depoimento da mãe foi realizado na semana passada, em Bom Princípio, município onde fica a delegacia que investiga o caso.
— Ela disse que tinha medo das atitudes dele, mas que nunca suspeitou que ele pudesse matar os filhos, nada nesse sentido. Ela disse que ele nunca deu a entender, mas que era agressivo. Sempre queria dominar o que ela tinha que fazer com os filhos — detalhou o delegado da Polícia Civil, Marcos Eduardo Pepe.
Embora considerado importante pela investigação, para compreender como era a relação do pai com os filhos, segundo o delegado, o relato da mãe não trouxe avanços sobre o acidente em si. A polícia suspeita de que o pai possa ter provocado a colisão, mas não descarta outras possibilidades, como uma falha mecânica do veículo ou mesmo que Jardel tenha sofrido um mal súbito ou se distraído durante o trajeto, perdendo o controle do automóvel.
A mãe falou que ficou surpresa que ele pudesse fazer algo contra os filhos. Que ele sempre teve atitudes mais agressivas em relação a ela, e não aos filhos. Ela falou também um pouco da situação deles, da vivência, do compartilhamento da guarda. Havia uma disputa mesmo pela guarda dos meninos. Ela ficou com a guarda, e ele não aceitou.
MARCOS EDUARDO PEPE
Delegado
Perícias
A polícia recebeu os laudos de necrópsia do pai e de um dos filhos, mas aguarda outros exames, como a análise de sangue e urina, que pode verificar a presença de substâncias, como álcool ou drogas. A perícia ainda deve remeter o laudo sobre a análise do local do acidente, que deve permitir, por exemplo, apontar se há sinais de que o motorista tentou frear.
— Se não existir nenhum sinal de frenagem no local, isso pode nos ajudar a entender um pouco mais da dinâmica do acidente, assim como a perícia mecânica no veículo — afirma Pepe.
Sobre o dia do acidente, a mãe dos gêmeos relatou que tentou contato com Jardel por telefone, mas que ele não atendia ninguém. Segundo a apuração da polícia, o homem teria circulado por Bom Princípio naquele dia. Ele deveria ter deixado os filhos na escola, mas não fez isso. Em razão do sumiço deles, a mulher procurou a polícia e fez um registro contra o pai dos filhos horas antes do acidente como "subtração de incapaz".
Relato de motorista
Pai e filhos estavam na Courier, que invadiu a pista contrária e colidiu de frente com um Scania, que subia a Serra.
O motorista que dirigia o caminhão disse à polícia que havia carregado o caminhão com móveis numa fábrica em Tupandi, a cerca de 20 quilômetros do local do acidente. Depois disso, teria começado o trajeto em direção a Carlos Barbosa. O condutor detalhou que seguia a cerca de 60 km/h. A vistoria do tacógrafo confirmou que o caminhão estava dentro da velocidade permitida.
— Era uma subidinha, no sentido Serra. Ele não se machucou porque estava devagar. Ele relatou que na ocasião teria visto o veículo vindo no sentido contrário, em direção à frente do caminhão. Ele tentou puxar para o lado, para evitar acidente, mas não deu. O veículo veio muito rápido e acertou a frente, perto da lateral do motorista — explica o delegado.
Incêndio também deve ser esclarecido
Na manhã do mesmo dia do acidente, aconteceu um incêndio na casa de Jardel, em Parobé. Ele morava no segundo andar e, no térreo, mantinha uma vidraçaria. Os vizinhos, que ajudaram a combater as chamas, relataram à polícia que viram Jardel mexendo na churrasqueira nesse mesmo dia. Porém, quando o incêndio foi percebido, ele e as crianças já não estavam mais na casa.
Ainda não se sabe se as chamas foram provocadas por ele. Também ainda não se sabe a hora exata em que ele deixou a residência e saiu com os gêmeos de carro em direção a Bom Princípio.
A perícia deve ajudar a esclarecer as causas do incêndio. O pai teria circulado com os filhos no veículo pela cidade desde a manhã de quarta-feira. A polícia identificou que ele ficou em Bom Princípio até a noite. No entanto, não se sabe o que ele estaria fazendo no município.