
Um policial militar preso na semana passada em Porto Alegre, por suspeita de envolvimento num esquema de extorsão e agiotagem, teve prisão preventiva decretada pela Justiça. O soldado da Brigada Militar Jocimar da Silva Pereira foi preso na quinta-feira (6), na zona norte da Capital. Ele é investigado por um caso ocorrido no Litoral Norte, no fim do ano passado.
Uma moradora de Xangri-lá alega ter sofrido ameaças de tortura e de incendiarem seu estabelecimento, caso não quitasse uma dívida. O local chegou a ser alvo de disparos. O caso chegou à polícia no fim do ano passado, quando a mulher relatou ser ameaçada a pagar uma dívida — que, segundo ela, já havia sido quitada.
A Polícia Civil e a Corregedoria-Geral da Brigada Militar cumpriram mandados de prisão temporária na semana passada em Porto Alegre e Cachoeirinha, na Região Metropolitana. Um dos locais onde foi cumprido mandado foi a residência do PM. Pouco antes de os policiais ingressarem no apartamento, o soldado efetuou três disparos contra o próprio telefone celular. A polícia apreendeu com o soldado uma pistola, munições e uma máquina de cartão. Os fardamentos da BM também foram recolhidos.
A Polícia Civil afirma que pediu a preventiva do PM por entender que há elementos suficientes de materialidade e autoria. A mulher que alega ter sido vítima reconheceu o preso como sendo o autor das extorsões. Além disso, outro fator que foi considerado é a destruição do telefone celular, entendida como uma forma de tentar inutilizar possíveis provas.
O aparelho celular dele foi encaminhado para o Instituto-Geral de Perícias (IGP) para, mesmo após os danos causados pelos tiros, tentar fazer a extração de dados e análise. Essa é uma das etapas que falta para que a polícia possa concluir a investigação.
Após a prisão, o PM foi ouvido e negou que tenha cometido os crimes. Segundo a Polícia Civil, ele alegou que conhecia as vítimas por ter feito um negócio com elas, de aquisição de um terreno, que não teria sido entregue. O soldado afirma ter depositado R$ 150 mil e não ter recebido o bem. A polícia afirma, no entanto, que existem indícios, como áudios e vídeos, que demonstram a existência do crime de extorsão.
A mulher entregou aos investigadores as conversas que teriam sido trocadas entre os dois. Em alguns trechos, há ameaças de tortura e de colocar fogo ao estabelecimento. “Não te preocupa que eu não vou te matar, só vou botar fogo em tudo que botar a mão, pra sentir como é ruim perder dinheiro”, diz um deles. Em outro, as ameaças são direcionadas ao filho da vítima: “Vou torturar teu filho olhando pra ti, matamos um contra dentro da cadeia hoje, tu acha mesmo que vai escapar de mim”.
Além do PM, um empresário de Cachoeirinha, que segundo a investigação, atuaria como agiota, e um advogado de Porto Alegre também são investigados e tiveram prisão temporária decretada. Os dois não foram localizados em seus endereços e a polícia segue à procura deles. No caso do empresário, a defesa informou que ele deve se apresentar à polícia.
O caso
Segundo a Polícia Civil, a dona de uma imobiliária buscou um empresário para obter dinheiro emprestado. Ela relatou aos policiais que pegou R$ 300 mil e teria pago cerca de R$ 600 mil. Mesmo assim, segundo a polícia, continuaria sendo cobrada. No início de novembro, um homem foi até um estabelecimento da companheira da mulher e cobrou novo pagamento de R$ 250 mil. Segundo a investigação, tratava-se do soldado da BM, alvo de mandado de prisão.
— Começam com cobranças exacerbadas de dívidas inexistentes, já quitadas, com juros exorbitantes, trazendo toda a forma de terror, medo, para cobrir dívidas inexistentes ou extremamente abusivas a partir de valores tomados por empréstimos — afirma o delegado Cristiano Reschke.
Segundo a polícia, o PM teria repassado uma conta de Pix para a mulher enviar os valores. Na ocasião, a loja foi alvo de disparos de pistola durante uma madrugada, que estilhaçaram a vidraça. Um veículo passou pelo local por volta das 4h, e o carona atirou na direção do estabelecimento.
Menos de uma hora depois, a mulher recebeu novas mensagens intimidatórias. As imagens de câmeras obtidas pela polícia não permitiram identificar quem foi o autor dos disparos. A suspeita, no entanto, é de que fosse uma forma de fazer com que a vítima efetuasse os pagamentos. Depois disso, a mulher decidiu procurar a Delegacia de Polícia.
PM já havia sido preso
Em dezembro de 2019, o soldado Jocimar da Silva Pereira havia sido preso durante uma operação da Corregedoria-Geral da Brigada Militar – ele foi libertado, por decisão da Justiça Militar. Zero Hora busca junto à BM atualização sobre a situação do PM.
A ofensiva na época afastou 11 policiais militares e resultou na prisão de cinco deles. O grupo, que pertencia ao 24ª Batalhão de Polícia Militar em Alvorada, era investigado por cobrança de valores de comerciantes, desvio de material apreendido, associação com traficantes de drogas e com o jogo do bicho.
Contraponto
O que diz a advogada de Jocimar da Silva Pereira, Edina Prates:
"Até o presente momento, a defesa ainda não teve acesso à decisão que decretou a prisão preventiva. Ainda, a defesa técnica ratifica que são inverídicos os fatos imputados ao Sr. Jocimar Pereira".