
O depoimento da mãe dos gêmeos Bernardo e Vicente Oliveira dos Santos, de seis anos, que morreram após acidente na Serra é considerado pela Polícia Civil como importante na tentativa de esclarecer se a colisão pode ter sido ou não intencional.
O pai dos meninos, Jardel Oliveira dos Santos, 37 anos, que também morreu, era o motorista do veículo que bateu de frente contra um caminhão há uma semana, na RS-446, em São Vendelino.
Segundo o delegado Marcos Eduardo Pepe, de Bom Princípio, responsável pela investigação, a mãe das crianças será ouvida pela polícia de Parobé, município no qual ela reside. A expectativa é de que o depoimento ocorra nos próximos dias.
A polícia optou por aguardar a passagem do período dos atos fúnebres. Os irmãos foram sepultados juntos na manhã de sábado (15), no Cemitério Municipal de Taquara, no Vale do Paranhana.
— Esperamos que com essa oitiva possamos esclarecer alguns pontos. Ainda estamos aguardando o resultado dos laudos. Entre o fim desta semana e o início da semana que vem, devem aportar alguns laudos da perícia — diz o delegado.
Medida protetiva e ocorrência
Jardel era ex-companheiro da mãe das crianças, que possuía medida protetiva. Porém, ele tinha o direito de visitar os filhos. O que a polícia sabe até o momento é que o pai teria pegado os meninos no término da escola, na terça-feira (11), e teria acertado de devolvê-los para a mãe, ao meio-dia de quarta (12), mas isso não aconteceu.
Depois disso, ele teria cortado contato por telefone, sem falar com mais ninguém. A mãe chegou a registrar uma ocorrência, em razão de o ex-marido não responder às tentativas de contato. Durante a noite de quarta-feira, aconteceu o acidente.
Uma das suspeitas, dado o histórico do caso, é que o acidente tenha sido intencional. No entanto, o delegado diz que não pode descartar nenhuma hipótese, como um mal súbito ou mesmo que o motorista tenha se distraído com algo no veículo.
As análises periciais são consideradas essenciais pelo delegado para ajudar a elucidar as circunstâncias do acidente. Pai e filhos estavam numa Courier, que invadiu a pista contrária e colidiu de frente com um Scania, que subia a Serra.
— Com as perícias, vamos poder esclarecer se houve algum problema mecânico, se há sinais de frenagem, a causa da morte do condutor, se ele havia ingerido alguma substância, como álcool ou drogas — explica o delegado.
Incêndio também deve ser esclarecido
Na manhã de quarta-feira, aconteceu um incêndio na casa de Jardel, em Parobé. Ele morava no segundo andar e, no térreo, mantinha uma vidraçaria. Os vizinhos, que ajudaram a combater as chamas, relataram à polícia que viram Jardel mexendo na churrasqueira nesse mesmo dia. Porém, quando o incêndio foi percebido, ele e as crianças já não estavam mais na casa.
Ainda não se sabe se as chamas foram provocadas por ele. Também ainda não se sabe a hora exata em que ele deixou a residência e saiu com os gêmeos de carro em direção a Bom Princípio.
A perícia deve ajudar a esclarecer as causas do incêndio. O pai teria circulado com os filhos no veículo pela cidade desde a manhã de quarta-feira. A polícia identificou que ele ficou em Bom Princípio até a noite. No entanto, não se sabe o que ele estaria fazendo no município.
Relato de motorista
O motorista, que dirigia um Scania, de Bento Gonçalves, disse à polícia que havia carregado o caminhão com móveis numa fábrica em Tupandi, a cerca de 20 quilômetros do local do acidente. Depois disso, teria começado o trajeto em direção a Carlos Barbosa. O condutor detalhou que seguia a cerca de 60 km/h. A vistoria do tacógrafo confirmou que o caminhão estava dentro da velocidade permitida.
— Era uma subidinha, no sentido Serra. Ele não se machucou porque estava devagar. Ele relatou que na ocasião teria visto o veículo vindo no sentido contrário, em direção à frente do caminhão. Ele tentou puxar para o lado, para evitar acidente, mas não deu. O veículo veio muito rápido e acertou a frente, perto da lateral do motorista — descreve o delegado Marcos Eduardo Pepe.