
Um depoimento com contradições e informações inverossímeis. Assim a Polícia Civil avalia o teor das declarações de Ana Alice da Rocha, 47 anos, principal suspeita da morte de Milton Prestes da Silva. Ela foi presa na tarde do sábado (8).
O corpo dele foi encontrado dentro de um freezer, na casa onde o casal vivia, na terça-feira (4), no balneário Quintão, no município de Palmares do Sul, no Litoral Norte.
A suspeita, que respondeu a cerca de 50 perguntas dos policiais, negou a participação no crime, alegando que o assassinato foi cometido por seu filho com o apoio de uma terceira pessoa. Mas a polícia rastreou os passos de Ana Alice e desconfia da versão.
No domingo (2), por exemplo, enquanto o corpo esquartejado e carbonizado estava na casa, Ana Alice fez compras em um supermercado usando o cartão do companheiro e, depois, abriu a banca de churrasquinho que o casal mantinha no balneário.
Em depoimento, ela teria dito que tomou remédios fortes na quinta-feira (27), último dia em que Milton foi visto com vida, e teria ficado até o domingo (2) com sonolência, acordando e dormindo, sem saber o que ocorria na casa.
— Só que neste período, ela falou com vizinhos, usou redes sociais e até se comunicou por mensagem de WhatsApp. E no domingo agiu com normalidade, tendo um corpo dentro do freezer de casa — contou o delegado Antônio Carlos Ractz Júnior.
Questionada por vizinhos sobre excesso de fumaça visto saindo da casa, no sábado (1ª), ela teria respondido em mensagens que estava queimando isopor. Sobre ter pedido uma pá emprestada a vizinhos, ela disse à polícia que pretendia plantar uma flor. Em relação ao buraco encontrado no pátio, que a polícia acredita que estava sendo aberto para enterrar o corpo, ela justificou tê-lo feito para encontrar terra preta para usar no plantio que faria.
— As coisas que ela conta não fecham com os elementos que temos no inquérito — afirma o delegado.
O filho dela também está preso por suspeita de envolvimento na morte. A polícia não informou os nomes dos dois, mas Zero Hora apurou as identidades. O filho de Ana Alice é Gregori Bento da Silva. Ele confessou o crime, dizendo que foi até a casa e esfaqueou Milton. A motivação será o fato de a mãe sofrer violência doméstica. Ana Alice teve prisão temporária decretada pela Justiça.
A polícia não localizou registros policiais sobre eventuais agressões. Também não há testemunhas relatando situações de violência doméstica.
Segundo um familiar, o casal vivia junto há cerca de três anos. Milton foi casado por 29 anos e conheceu Ana Alice depois de ficar viúvo, em Campo Bom. Com problemas de saúde devido a um acidente de trabalho ocorrido há mais de uma década, Milton teria recebido recentemente valores que pleiteava na Justiça junto ao INSS. Com isso, decidiu montar em Balneário Quintão uma banca de churrasquinho. Também mantinha em casa negócio de venda de bebidas.
— Ele tinha esse sonho. Comprou um carro e montou a banca. Estava bem. Não sabemos se o motivo do crime pode ser dinheiro ou briga familiar — disse um familiar.
Segundo um parente, Gregori, um dos suspeitos do crime, chegou a morar com Milton e sua mãe em Campo Bom, mas teria sido mandado embora da casa por ter furtado dinheiro.
Gregori, na época, seria cadeirante em razão de sequelas de tiro e, atualmente, usa muletas. O detalhe sobre a dificuldade de locomoção é mais um elemento que faz a polícia suspeitar da versão dele, de que fez tudo sozinho. Ainda é investigada a participação de uma terceira pessoa.
Gregori tem tem antecedentes policiais por tráfico de drogas e associação para o tráfico de drogas, corrupção de menores, porte ilegal de arma de fogo, receptação e adulteração de sinal identificador de veículo. Ele está recolhido na Penitenciária Modulada Estadual de Osório.
O crime
Milton Prestes da Silva, 55 anos, estava desaparecido desde o dia 27 de fevereiro. Seu sumiço causou preocupação e levou dois familiares até a casa da vítima, na Rua Visconde de São Leopoldo. Lá, o corpo foi localizado pelos familiares dentro de um freezer.
A última vez em que Milton foi visto com vida havia sido na quinta-feira, 27 de fevereiro, mesmo dia no qual a polícia acredita que tenha acontecido a morte.
Ao ser questionada pelos familiares sobre o paradeiro da vítima, Ana Alice teria aparentado nervosismo e fugido, conforme relato dos parentes à polícia. O fato levantou suspeita sobre a sua participação no crime.
Contrapontos
O que diz Wesley Altneter, advogado de Ana Alice da Rocha:
"A saída de Ana de sua residência ocorreu antes mesmo de ela ter conhecimento da prisão temporária. Ela nunca esteve envolvida no crime apurado. Sua decisão foi tomada em um momento de grande angústia, diante da gravidade do caso.
No dia de ontem (sábado), Ana se entregou voluntariamente às autoridades para colaborar com as investigações, demonstrando seu compromisso com a verdade. Além disso, ela deixou seu telefone na casa onde o crime ocorreu, e o aparelho será periciado, o que ajudará a esclarecer o contexto em que ela vivia.
Em breve, serão anexados ao inquérito laudos e outros elementos que corroboram a versão de Ana, esclarecendo com mais precisão sua situação e os fatos relacionados ao caso".
O que diz a defesa de Gregori Bento da Silva:
O suspeito ainda não tem advogado.