
A Polícia Civil busca esclarecer as circunstâncias do acidente que resultou na morte de pai e dois filhos gêmeos em São Vendelino, na Serra. Jardel Oliveira dos Santos, 37 anos, e os meninos Bernardo e Vicente Oliveira dos Santos, de seis anos, estavam num carro, que colidiu contra um caminhão na noite da quarta-feira (12). O caminhoneiro relatou à polícia que tentou evitar o acidente, mas não conseguiu desviar a tempo.
O motorista, que dirigia um Scania, de Bento Gonçalves, disse à polícia que havia carregado o caminhão com móveis, numa fábrica em Tupandi, a cerca de 20 quilômetros do local do acidente. Depois disso, teria começado o trajeto em direção a Carlos Barbosa. O condutor detalhou que seguia a cerca de 60 km/h. A vistoria do tacógrafo confirmou que o caminhão estava dentro da velocidade permitida.
— Era uma subidinha, no sentido Serra. Ele não se machucou porque estava devagar. Ele relatou que na ocasião teria visto o veículo vindo no sentido contrário, em direção à frente do caminhão. Ele tentou puxar para o lado, para evitar acidente, mas não deu. O veículo veio muito rápido e acertou a frente, perto da lateral do motorista — descreve o delegado Marcos Eduardo Pepe, de Bom Princípio e São Vendelino.
O acidente aconteceu na altura do km 3 da RS-446, em São Vendelino, por volta das 20h40min. Jardel, que conduzia a Courier com os filhos, morreu no local do acidente. Um dos meninos foi socorrido pelos Bombeiros Voluntários de São Vendelino e encaminhado à UPA de Bom Princípio, posteriormente transferido para Caxias do Sul, e o outro socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado ao Hospital de Carlos Barbosa. As duas crianças acabaram morrendo.
Mãe será ouvida
A polícia ainda tenta elucidar o que levou o pai a seguir com os filhos até a Serra. A mãe dos gêmeos e ex-companheira de Jardel já procurava pelas crianças horas antes da tragédia. Segundo a polícia, o homem deveria ter deixado os filhos com ela ao meio-dia de quarta-feira, o que não ocorreu.
A família disse aos policiais que Jardel deixou Parobé, no Vale do Paranhana, em direção à Serra. A mãe dos garotos chegou a registrar uma ocorrência contra ele.
Segundo o delegado, a mulher ainda será ouvida. Os investigadores aguardaram que a família passasse pelos atos fúnebres das crianças para então agendar a oitiva. O relato dela é considerado essencial para compreender como era a relação de Jardel com os filhos e o contexto em que se deu o acidente. Os irmãos tiveram os corpos sepultados na manhã de sábado (15), no Cemitério Municipal de Taquara, no Vale do Paranhana.
— Pelo que sabemos, ele teria pego as crianças no término da escola, teria que devolver para a mãe e não devolveu. Continuou com as crianças e cortou contato. Não atendia celular, não falava com ninguém. E aconteceu o acidente — diz o delegado.
Perícias
A polícia aguarda ainda os resultados de perícias, tanto para entender como se deu o acidente, como um incêndio na casa do pai dos gêmeos, registrado na manhã de quarta. Uma das suspeitas, dado o histórico do caso, é que o acidente tenha sido intencional. No entanto, o delegado diz que não pode descartar nenhuma hipótese no momento. A mãe tinha uma medida protetiva contra o ex-marido. Porém, ele ainda tinha o direito de ver as crianças.
— Tudo leva a crer que tenha sido algo intencional, levando em consideração o contexto. Mas não se pode descartar que pudesse ter havido mal súbito, ou que ele tenha se distraído com o celular ou mesmo com os filhos — afirma o delegado.
O laudo da perícia, após a análise no local do acidente, deve auxiliar a polícia a elucidar as circunstâncias. Os peritos devem estimar a velocidade na qual Jardel conduzia o veículo e apontar se havia ou não, por exemplo, evidências de frenagem. A perícia também vai apontar se o pai estava sob efeito de alguma substância, como álcool ou drogas, no momento do acidente.
O caso
Naquela semana, Jardel pediu para adiantar a visita, que geralmente acontecia na quarta-feira, e foi buscar os gêmeos na escola na terça-feira (11), por volta das 17h. Ele deveria ter retornado com eles no dia seguinte, ao meio-dia — o que não aconteceu. Na manhã de quarta-feira, por volta das 8h, aconteceu um incêndio na casa de Jardel, em Parobé. Ele morava no segundo andar e, no térreo, mantinha uma vidraçaria.
Os vizinhos, que ajudaram a combater as chamas na residência, relataram à polícia que viram Jardel mexendo na churrasqueira nesse mesmo dia. Porém, quando o incêndio foi percebido, ele e as crianças já não estavam mais na casa. Ainda não se sabe se as chamas foram provocadas por ele. Também ainda não se sabe a hora exata em que ele deixou a residência e saiu com os gêmeos de carro em direção a Bom Princípio.
O pai teria circulado com os filhos no veículo pela cidade desde a manhã de quarta-feira. A polícia identificou que ele ficou em Bom Princípio até a noite. No entanto, não se sabe o que ele estaria fazendo no município.
Com a promessa de que o pai deixaria as crianças na escola na quarta-feira, a mãe foi até a instituição em torno das 13h15min. As aulas começam às 13h e os meninos não estavam lá. De acordo com funcionários da escola, a mulher estava assustada e nervosa para encontrar os filhos.
A mãe então foi até a polícia, em Sapiranga, e fez um boletim de ocorrência contra o pai, horas antes do acidente, por "subtração de incapaz".