
Há um ano, os pais de Débora Michels Rodrigues da Silva, 30 anos, convivem com a dor pela perda da filha e a espera por Justiça. Nesta quinta-feira (6), o então companheiro dela na época, Alexsandro Gunsch, 49 anos, irá a júri em Montenegro, no Vale do Caí. Ele está preso e responde pelo feminicídio da personal trainer. O corpo da vítima foi abandonado em frente à casa da família.
Na madrugada de 26 de janeiro de 2024, o professor aposentado Davi Rodrigues da Silva, 72 anos, despertou com o movimento de policiais militares e vizinhos. Em frente à residência do casal, em Montenegro, depositado na calçada, sob um cobertor, estava o corpo da filha.
A polícia identificou o veículo do companheiro de Débora, usado para transportá-la naquela madrugada, por meio de imagens de câmera de segurança. Dois dias depois, Gunsch se apresentou à polícia, confessou que a morte da personal teria ocorrido durante uma briga e foi preso.
Dois dias antes de ser encontrada morta, Débora havia feito a vistoria no imóvel onde planejava recomeçar a vida. Na sexta-feira, a mãe pretendia ajudá-la a arrumar os últimos itens da mudança prevista para o dia seguinte. Mas nada disso aconteceu.
— Nós aqui estamos apreensivos e esperando que se faça justiça. A parte sentimental está muito abalada. A gente não consegue aceitar e acreditar. É muito difícil. É uma coisa muito triste para nós — desabafa o pai.
Gunsch, que segue preso na Penitenciária Estadual de Canoas I, será julgado em sessão que deve iniciar às 8 horas. Estão previstas para serem ouvidas sete testemunhas, sendo três de acusação e quatro de defesa. A expectativa é de que o julgamento possa se estender até a manhã de sexta-feira (7).
— Espero que a justiça faça o trabalho correto, já é um alento para nós — diz o pai.
Crime premeditado, para acusação
O réu responde por homicídio qualificado pelo feminicídio, por ter sido cometido contra mulher em contexto de violência doméstica e familiar, motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. A acusação será realizada pela promotora de Justiça Rafaela Hias Moreira Huergo, que terá como assistente de acusação a advogada Samanta Dannus, que representa os familiares da vítima.
Segundo o Ministério Público, o crime teria acontecido de forma premeditada. O casal estava em processo de separação, após 11 anos de relacionamento. O pai de Débora chegou a conversar com o companheiro da filha quando soube que ela pretendia se separar. O homem teria demonstrado que estava tudo resolvido entre eles e que, inclusive, auxiliaria a personal a arrumar as coisas dela. Agora, a família acredita que ele não tenha aceitado o término da relação.
Para a acusação, após esganar a vítima, o homem recolheu o corpo dela, colocou em seu carro e abandonou em frente à casa dos pais dela. A morte, conforme certidão de óbito, foi causada por asfixia mecânica. Para o MP, o motivo torpe se dá em razão do sentimento de posse do réu em relação à vitima.
Quem era Debby
Debby, como era conhecida, atuava como personal trainer desde 2011. Nas redes sociais, ela compartilhava dicas de treinos e rotina na academia. Formada em Educação Física pela Unisinos, trabalhava numa academia em Montenegro. Dedicada aos cuidados com o corpo, ela também chegou a vencer competições de fisiculturismo. Alexsandro também é fisiculturista.
Quando ela estava na faculdade de Educação Física, ela dava instrução para ele na academia. Se conheceram lá, se relacionaram, se apaixonaram. Eles viviam 24 horas juntos. Trabalhavam na mesma academia havia anos — relata o pai.
A morte de Débora causou comoção no município, onde chegou a ser realizado um protesto.
Contraponto
Zero Hora entrou em contato com a advogada Daniela Schneider Couto, responsável pela defesa do réu e aguarda retorno. O espaço está aberto para manifestação.
Quando ouvido pela polícia, Gunsch alegou que, durante uma briga, ele e Débora teriam trocado agressões. O homem afirmou ter agarrado a companheira pelo pescoço, levantado e arremessado contra um guarda-roupas. Neste momento, ela teria começado a passar mal.
O então investigado relatou à Polícia Civil que, na sequência, colocou Débora no carro e, no deslocamento, percebeu que ela já estava morta. O homem disse então ter ficado desesperado com a situação e decidido deixar o corpo em frente à casa dos pais dela.