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Após a conclusão de dois inquéritos que apuraram as mortes de quatro pessoas da mesma família, a Polícia Civil anunciou nesta sexta-feira (21), que abrirá uma nova investigação com foco na empresa que vendeu o arsênio, substância encontrada na farinha do bolo e no organismo de Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise dos Anjos.
O caso deverá ser conduzido pela Delegacia do Consumidor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Conforme o chefe da Polícia Civil, Fernando Sodré, o foco será apurar mais detalhes sobre a venda.
A polícia conseguiu acesso a duas notas fiscais da compra de arsênio por Deise e já descobriu o nome do laboratório, que não foi revelado.
— Temos os primeiros elementos, que é a nota fiscal. Estamos apurando como a empresa vendeu isso, com que critério — disse Sodré.
Segundo a apuração da Polícia Civil, Deise comprou 100 gramas de arsênio em agosto. A polícia demonstrou que após fazer a aquisição, em 18 de agosto, no dia seguinte, a mulher passou a enviar mensagens à sogra, questionando quando regressariam do Litoral Norte para Canoas. Em 21 de agosto, segundo o rastreamento, o produto foi entregue.
Em 26 de agosto, Deise fez nova tentativa de contato. No entanto, como os sogros decidiram permanecer na praia, a nora sugeriu uma visita. "Quer que levamos alguma coisa da sua casa? Alguma coisa que tenha ficado na geladeira ou aberto?", indagou por meio de mensagens.
Por fim, em 31 de agosto, Deise avisou que iriam até a praia, num bate e volta, para um mate. A polícia afirma que naquele dia ela usou o arsênio para envenenar o leite em pó. O produto acabou sendo ingerido pelo sogro, que morreu. A sogra, Zeli, que é apontada como alvo dela, no entanto, sobreviveu.
Em novembro, Deise fez nova visita para a sogra. Nesses dias, a polícia acredita que ela tenha usado o veneno que já havia comprado anteriormente para contaminar a farinha. Nesse mesmo período, segundo a polícia, a mulher fez nova compra de arsênio.
O produto foi adquirido de um laboratório, no Rio de Janeiro. Conforme o rastreio, o arsênio foi remetido em 12 de dezembro e recebido na tarde de 16 de dezembro.
— No dia seguinte, houve envenenamento do marido e do filho — explicou o delegado Marcos Veloso, responsável pelo caso.
Em cartas encontradas pela polícia na cela em que estava na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, Deise admitiu ter comprado o veneno, mas alegou que era para ela mesma e negou ter usado nos familiares.
Inquéritos com mais de 1,4 mil páginas
Na manhã desta sexta, dois inquéritos foram apresentados pela corporação, em coletiva de imprensa. Com mais de 1,4 mil páginas, os documentos foram enviados à Justiça na quinta (21).
Trata-se da conclusão policial acerca da morte de Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59; e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza, durante confraternização em Torres, no Litoral Norte. O segundo inquérito apurou a morte de Paulo Luiz dos Anjos, em setembro, em Arroio do Sal.
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A polícia confirmou que Deise comprou arsênio quatro vezes em um período de quatro meses. Uma das compras ocorreu antes da morte do sogro e as outras três, antes da morte de três pessoas que consumiram o bolo envenenado. O veneno teria sido recebido por Deise por meio dos Correios. O documento estava salvo no celular da suspeita, apreendido durante a investigação.