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A Polícia Civil concluiu que Deise Moura dos Anjos, 42 anos, foi a responsável pela morte de quatro pessoas da mesma família por envenenamento entre os meses de setembro e dezembro de 2024.
Dois inquéritos foram apresentados pela corporação na manhã desta sexta-feira (21), em coletiva de imprensa. Com mais de mil páginas, os documentos foram enviados à Justiça na quinta (21).
Eles trazem investigações das mortes de Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, Maida Berenice Flores da Silva, 59; e Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza, durante confraternização em Torres, no Litoral Norte. A morte de Paulo Luiz dos Anjos, em setembro, em Arroio do Sal, também foi apurada.
Com a morte de Deise, em 13 de fevereiro, na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, o Código Penal prevê a extinção da punibilidade por morte do agente, ou seja, não haverá indiciamento nem a responsabilização.
O chefe da Polícia Civil do RS, Fernando Sodré, afirmou que este é um dos "casos de maior repercussão no Estado pela gravidade dos fatos e repercussões que ele teve".
Segundo o sub-chefe da Polícia Civil, Heraldo Guerreiro, caso fosse condenada, Deise poderia ter sentença superior a "100 anos de prisão".
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Os delegados Sabrina Deffente e Marcos Veloso relataram as impressões sobre o caso conforme o avanço das investigações.
— A cada dia era uma surpresa que nos deixava estarrecidos. A frieza com que ela planejou e a forma como ela se portou perante os fatos — disse Sabrina.
Segundo ela, houve a conclusão, diante das evidências e ações, de que Deise tinha uma "grave perturbação mental" que favoreceu o cometimento dos crimes.
Isso ficou evidenciado a partir do momento em que a investigação descobriu o envenenamento também do filho e do marido, após consumirem um suco contaminado com arsênio.
Conforme Sabrina, Deise poderia contaminar ainda outras pessoas, de fora da família.
— Ela não conseguia parar — afirma.
Uma nova investigação, a ser enviada à Delegacia do Consumidor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), deverá apurar como Deise conseguiu adquirir os venenos, inclusive com notas fiscais, e terá como foco a empresa responsável pela venda.
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Como foi a apuração
A investigação levou a Polícia Civil a apontar Deise Moura dos Anjos, 42 anos, como a suspeita de ter contaminado a farinha do bolo com arsênio. A apuração foi além e descobriu que o sogro dela, morto em setembro, supostamente por intoxicação alimentar, também havia sido envenenado com a mesma substância.
No início de janeiro, Deise foi presa e na semana passada foi encontrada morta dentro da Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, com sinais de enforcamento. Na manhã desta sexta-feira (21), a Polícia Civil detalhou as investigações realizadas sobre o caso.
Ao final da apuração, a polícia concluiu que Deise foi a única responsável pelas mortes de quatro pessoas da família e que a morte dela, dentro da prisão, trata-se de suicídio. A investigação apontou ainda que o marido e o filho dela chegaram a consumir um suco contaminado com arsênio, mas sobreviveram.
Conforme Veloso, o primeiro a consumir o líquido foi Diego Moura dos Anjos, que passou mal na sequência. Depois, o filho do casal também teria consumido o suco, que foi servido por Diego.
Deise era investigada pelas mortes das irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59, além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza. As mulheres morreram após comerem o bolo na reunião de família. Deise, que morava em Nova Santa Rita com o marido e o filho, não estava na confraternização.
Outras três pessoas que comeram o bolo também foram hospitalizadas. A investigação apontou que o alvo principal do envenenamento seria a sogra de Deise, Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61 anos — que preparou a iguaria.
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Morte do sogro
Além deste caso, Deise também era investigada pela morte do sogro, Paulo Luiz dos Anjos. O corpo dele foi exumado em 8 de janeiro a pedido da Polícia Civil. O sogro morreu em setembro do ano passado, por suspeita de intoxicação alimentar.
Exames do Instituto-Geral de Perícias (IGP) constataram que ele também ingeriu arsênio antes de morrer. Paulo havia consumido bananas e leite em pó que foram levados à casa dele, em Arroio do Sal, pela nora. Ele e sua esposa Zeli foram hospitalizados após consumirem os alimentos, mas ele não resistiu. A quantidade de veneno no leite em pó era maior do que a encontrada no bolo, conforme o IGP.
— Se não tivesse ocorrido o fato de dezembro, o sogro teria ficado lá — disse Sodré sobre a descoberta de envenenamento do sogro.
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Durante a coletiva, o delegado Marco Veloso disse que a polícia também obteve troca de mensagens nas quais Deise tentava atrair Zeli para sua casa. Como não conseguiu, foi para a residência de Zeli e Paulo, em Arroio do Sal.
Conforme a investigação, a não descoberta da real causa morte do sogro teria dado confiança para que Deise tentasse cometer outros envenenamentos, incluindo uma nova tentativa de matar Zeli.
Prisão
A suspeita foi presa em 5 de janeiro, após a Polícia Civil descobrir, no celular dela, pesquisas sobre efeito do uso de arsênio. Com a morte dela, o Código Penal prevê a extinção da punibilidade por morte do agente, ou seja, não haverá indiciamento nem a responsabilização.
Pesquisas na internet
A perícia do celular de Deise mostrou que ela realizou diversas pesquisas sobre "veneno para matar humanos" e arsênio, antes das mortes ocorrerem. Ela também encomendou pela internet e adquiriu arsênico em pó, que teria sido misturado ao bolo e à farinha utilizada ingerida por Paulo e Zeli em setembro.
Compra de arsênio
A polícia confirmou que Deise comprou arsênio quatro vezes em um período de quatro meses. Uma das compras ocorreu antes da morte do sogro e as outras três, antes da morte de três pessoas que consumiram o bolo envenenado. O veneno teria sido recebido pelos Correios. O documento estava salvo no celular da suspeita, apreendido durante a investigação.
Uma nova investigação, a ser enviada à Delegacia do Consumidor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), deverá apurar como Deise conseguiu adquirir os venenos, inclusive com notas fiscais, e terá como foco a empresa responsável pela venda.
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Contaminação da farinha
A investigação aponta que a farinha do bolo pode ter sido contaminada quase um mês antes do episódio fatal. De acordo com o delegado Marcos Vinícius Veloso, Deise esteve em Arroio do Sal no dia 20 de novembro do ano passado, momento em que o veneno teria sido adicionado à farinha usada no bolo consumido em Torres.
Mensagens encontradas em cela
A Polícia também apresentou detalhes sobre os textos encontrados na cela de Deise na penitenciária de Guaíba sobre diversos temas.
— Demonstra uma certa raiva e uma busca por um perdão, que não veio e não viria — disse Sodré.
Em uma das mensagens, ela se dirige diretamente a Zeli: "Mais uma vez eu sou a vilã e eu tu és a mocinha. Conseguiu ficar com tudo: meu filho, minha casa e meu esposo".
Em outro trecho, Deise assume que comprou arsênio, mas que era destinado para consumo próprio.
O que diz a defesa
Na quinta-feira (13), após Deise ser encontrada morta, os advogados de defesa de Deise concederam uma coletiva de imprensa, na qual disseram que houve falta de acompanhamento psicológico e criticaram as condições da Penitenciária Feminina de Guaíba.
Segundo advogados, agentes foram avisadas sobre a ameaça dela de tirar a própria vida, após ter sido informada que o marido havia pedido o divórcio. A Polícia Penal afirma que "não se tem conhecimento de qualquer comunicado da apenada ou de sua defesa sobre risco de suicídio".
A Polícia Penal afirmou ainda que "a detenta recebeu três atendimentos psicológicos e dois atendimentos com a equipe de saúde" e que "em nenhum deles demonstrou intenção suicida".
O que diz a Polícia Penal
"O protocolo seguido pela Polícia Penal indica que, quando o técnico responsável (psicólogo ou assistente social) identifica um comportamento suicida de um apenado, ele é encaminhado a uma equipe multidisciplinar, que inclui ser atendido por psiquiatra.
A apenada foi transferida em 6 de fevereiro de 2025 do Presídio Estadual Feminino de Torres para a Penitenciária Estadual Feminina de Guaiba, que oferece estrutura adequada para isolamento. Em Guaíba, a detenta recebeu três atendimentos psicológicos e dois atendimentos com a equipe de saúde. Em nenhum deles demonstrou intenção suicida.
Alem disso, até o momento, não se tem conhecimento de qualquer comunicado da apenada ou de sua defesa sobre risco de suicídio.
Na unidade, três psicólogos estão lotados para fazer atendimento. Dois estão de atestado, mas psicólogos de outras casas prisionais estão dando suporte.
Sobre a equipe técnica, a Polícia Penal informa ainda que, desde 2019, mais de 3.900 servidores penitenciários foram nomeados. Destes, todos 60 psicólogos aprovados foram chamados".
Procure ajuda
Caso você esteja enfrentando alguma situação de sofrimento intenso ou pensando em cometer suicídio, pode buscar ajuda para superar este momento de dor. Lembre-se de que o desamparo e a desesperança são condições que podem ser modificadas e que outras pessoas já enfrentaram circunstâncias semelhantes.
Se não estiver confortável em falar sobre o que sente com alguém de seu círculo próximo, o Centro de Valorização da Vida (CVV) presta serviço voluntário e gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. O CVV (cvv.org.br) conta com mais de 4 mil voluntários e atende mais de 3 milhões de pessoas anualmente. O serviço funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados), pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil (confira os endereços neste link).
Você também pode buscar atendimento na Unidade Básica de Saúde mais próxima de sua casa, pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), no telefone 192, ou em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Estado. A lista com os endereços dos CAPS do Rio Grande do Sul está neste link.