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A menina resgatada nesta quarta-feira (26) de um cativeiro, após ter sido sequestrada e abusada em Tramandaí, foi encaminhada para tratamento médico em Porto Alegre. Ela e a família estão recebendo atendimento especializado em traumas psicológicos no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, administrado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) porto-alegrense.
O atendimento é prestado no Centro de Referência no Atendimento Infantojuvenil de Porto Alegre (Crai), que trata crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. O organismo reúne diversos setores de assistência em um mesmo local, com profissionais das áreas de saúde e segurança pública. Há 22 anos, funciona nesse formato e atende casos de todo o Rio Grande do Sul.
A atenção é dispensada por uma equipe multidisciplinar que oferece acolhimento, consultas psicológicas, serviço social, ginecologia, pediatria, perícias físicas e psíquicas. É uma parceria entre a prefeitura de Porto Alegre e a Secretaria de Segurança Pública, através do Instituto-Geral de Perícias e da Polícia Civil. O Ministério Público do RS participa da articulação entre as instituições.
O serviço atua em casos de suspeita ou confirmação de abuso sexual na faixa etária dos zero aos 18 anos, como é o caso da menina de Tramandaí. Fornece avaliação integral, desde o registro da ocorrência policial, preparação para a perícia médica, notificação ao conselho tutelar e avaliação clínica até o encaminhamento para tratamento terapêutico na rede de saúde do município de origem da vítima. O modelo é referência para outros municípios e estados brasileiros.
A menina também será submetida a tratamento profilático contra doenças venéreas, já que as informações é de que foi abusada sexualmente pelo homem que a manteve prisioneira num porão de casa. O resgate da menina desencadeou uma reação violenta da população contra o dono da residência, que foi atacado com pedradas e garrafadas. O suspeito, gravemente ferido, chegou a ser hospitalizado, mas morreu durante o atendimento.
Onde buscar ajuda
- Centro de Referência no Atendimento Infantojuvenil (Crai), no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas
- Endereço: Avenida Independência, 661, 6º andar, bloco C, sala 619
- Atendimento: segunda a sexta-feira, das 8h às 17h
- Atendimentos fora do horário podem ser encaminhados ao setor de emergência do hospital, para avaliação
Entenda o caso
Uma menina de nove anos foi resgatada, nesta quarta-feira (26), após sofrer abusos no porão de uma loja de conveniência, em Tramandaí. O suspeito de sequestrar e estuprar a criança foi identificado como Marco Antônio Bocker Jacob, de 61 anos, que tinha antecedentes por vários crimes, e foi linchado após o resgate da menina.
Conforme relatos obtidos pela Brigada Militar e Polícia Civil, o suspeito utilizou o picolé para atrair a vítima ao interior da loja de conveniência, na Rua São Marcos. Quando a criança entrou no estabelecimento, o homem a prendeu em um porão.
O pai da vítima revela que a menina havia reclamado do calor e pediu para brincar em uma praça próxima à casa da família, no bairro Parque dos Presidentes. Sozinha, a menina foi caminhando até o parque por volta das 16h de terça-feira (25).
A família estranhou a demora para ela voltar, mas revelou que a criança costumava passear pelo parque em outras ocasiões. Logo, a polícia foi chamada e iniciadas as buscas pela criança.
Cartazes foram espalhados pelo bairro, um carro de som chamando pelo nome da menina circulou durante toda a noite pela região. A angústia tomou conta da vizinhança.
A Brigada Militar recebeu a denúncia do desaparecimento da menina na noite de terça-feira.
Após o setor de Inteligência da Brigada Militar descobrir que a vítima foi levada para dentro do estabelecimento, policiais militares foram até o local, na manhã desta quarta-feira, para averiguação.
— Essa dupla de brigadianos entrou (no bar) com um popular atrás. Eles chamaram pelo nome da guria, ela falou: "Eu estou aqui, eu estou aqui" — conta o delegado da Polícia Civil Alexandre Souza.
Os PMs ouviram gritos e acharam a criança trancada em um alçapão com tampa de concreto e caixas de cerveja em cima.
— Ela estava num alçapão, num buraco, fechado, e no fundo do bar — explica Souza.
Os policiais rapidamente resgataram a criança, que relatou ter sido abusada pelo dono do estabelecimento. A equipe imediatamente encaminhou a menina para atendimento médico.
Linchamento do suspeito
O resgate da menina desencadeou uma reação violenta da população local contra o suspeito.
Durante o resgate, populares invadiram o local, encontraram o homem e o agrediram.
Os PMs que prestavam atendimento à criança solicitaram apoio e tentaram impedir o ataque, mas uma grande quantidade de pessoas se aglomerou, agrediu o suspeito, depredaram a loja e um carro.
O Samu foi acionado, mas o homem não resistiu aos ferimentos e morreu. Souza estima que entre 40 e 50 pessoas tenham participado do ato, que também resultou na depredação do bar onde a menina foi encontrada e de um veículo que estava estacionamento à frente.
— Sabe aqueles filmes que a gente vê e imagina que jamais vai acontecer de verdade, com uma criança no porão, trancada? Foi o que encontramos — disse o comandante da BM, Cláudio Feoli, à colunista de Zero Hora Andressa Xavier.
Na tentativa de impedir as agressões ao acusado, um brigadiano foi ferido no braço, em razão de garrafadas desferidas por populares.
Segundo a BM, o homem linchado, de 61 anos de idade, tinha antecedentes criminais por feminicídio, tráfico de drogas, furto em veículo, crueldade contra animais e lesão corporal.
O linchamento do suspeito será investigado pela Polícia Civil.