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A Polícia Civil investiga um médico suspeito de usar notificações extrajudiciais para intimidar pacientes que ficaram insatisfeitos com cirurgias plásticas feitas por ele em Porto Alegre e estavam incentivando outras pessoas a buscarem indenizações na Justiça. O nome dele é Leandro Fuchs, já foi indiciado 11 vezes por lesões graves em pacientes e responde a outros 76 inquéritos policiais pelo mesmo crime (saiba mais abaixo).
— Era um padrão comportamental do investigado, de constrangimento e intimidação. E a presunção perante as vítimas. Ao ser questionado sobre os resultados, ele tentava desestimulá-las a ingressaram com ação judicial indenizatória, ou até mesmo criminal, visto que tinha muitos contatos — conta o delegado Ajaribe Rocha Pinto.
Em pelo menos um dos casos, ele divulgou fotos de uma paciente nua – imagens sigilosas, que foram feitas para uso médico, mas que foram usadas pelo escritório de advocacia contratado pelo cirurgião para fazer as notificações extrajudiciais.
— Realmente encaminhou, por meio de advogado, notificação extrajudicial totalmente descabida e ilegal. Tendo compartilhado fotos íntimas da vítima com seus advogados, tentando coagi-la ao silêncio — afirma o delegado.
No documento, o advogado alega que os procedimentos "ocorreram sem qualquer intercorrência, complicação ou prejuízo". As imagens mostram como estava o corpo da paciente antes e como ficou depois da cirurgia. Ainda, o documento traz que a paciente disseminava "informações falsas e gravosas" contra o médico em um grupo de WhatsApp que reunia pacientes insatisfeitos, razão pela qual estava sujeita "às hipóteses de calúnia e difamação" e, caso não parasse imediatamente, que ela responderia a "medidas legais cabíveis, incluindo ações civis e criminais".
O escritório de advocacia FLZ Advogados Associados respondeu que a notificação extrajudicial obedeceu a "todos os critérios legais, inclusive o de sigilo (inexistente entre cliente, advogado e parte eventualmente adversa), sem qualquer exposição pública", e que "o ato jurídico teve o intuito de advertir e interpelar a notificada acerca de condutas dela nas redes sociais".
Indiciamentos
Conforme a Polícia Civil, Fuchs já foi indiciado 11 vezes por causar lesões graves em pacientes. Ele também responde a outros 76 inquéritos policiais, que incluem os crimes de estelionato e associação criminosa. Ele está afastado do hospital onde atuava e a Justiça proibiu que ele realize cirurgias. Agora, outros dois crimes são investigados: coação no curso do processo e divulgação de cena de nudez ou conteúdo íntimo.
De acordo com o delegado Ajaribe, o caso mais antigo teria acontecido em 2019. O mais recente, 2023. Fuchs foi responsabilizado por colocar residentes, bem como médicos recém-formados sem a devida qualificação, para realizar as cirurgias e se ausentava das salas onde eram realizados os procedimentos para lidar com questões pessoais. Isso seria feito sem o conhecimento dos pacientes, que acreditavam que Fuchs seria o médico a fazer os procedimentos.
"De 727 cirurgias, 481 incorreram em novas intervenções cirúrgicas. Procedimentos que precisaram ser refeitos. Laudos descrevem lesões decorrentes dos procedimentos. São fatos extremamente graves", conta o delegado.
O que diz o escritório de advocacia
"A atuação do escritório de advocacia neste caso obedeceu aos estritos ditames éticos, legais e de forma técnica, na área cível, a partir de informações, instruções e em defesa do interesse de direito perseguido pelo cliente."