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Os dois inquéritos que tratam sobre as mortes de quatro pessoas da mesma família por envenenamento, ocorridas no Litoral Norte entre setembro e dezembro do ano passado, devem ser concluídos e remetidos à Justiça na próxima quinta-feira (20). A informação foi confirmada nesta segunda-feira (17) pelo delegado Fernando Sodré, chefe de Polícia do RS.
Em ambas as investigações, a única suspeita era Deise Moura dos Anjos, 42 anos. Ela foi encontrada morta na cela que ocupava na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na manhã da última quinta-feira (13). O corpo tinha sinais de enforcamento.
Uma investigação trata das mortes de três mulheres que comeram um bolo envenenado com arsênio em dezembro. Já a outra apuração trata sobre a morte do sogro de Deise, que também ingeriu arsênio, em setembro.
Com a morte dela, o Código Penal prevê a extinção da punibilidade por morte do agente, ou seja, não haverá indiciamento nem a responsabilização. Se estivesse viva, Deise seria indiciada em dois inquéritos diferentes, ambos conduzidos pelo delegado Marcus Vinicius Veloso, responsável pelas investigações.
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Investigações separadas
No primeiro inquérito, Deise seria indiciada pelos crimes de triplo homicídio triplamente qualificado e três tentativas de homicídio triplamente qualificadas.
Deise era investigada pelas mortes das irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos, 65 anos, e Maida Berenice Flores da Silva, 59; além de Tatiana Denize Silva dos Anjos, 47 anos, filha de Neuza. As mulheres morreram após comer um bolo em uma reunião de família, em Torres, no Litoral Norte, na antevéspera do Natal passado.
Outras três pessoas que comeram o bolo também foram hospitalizadas. A investigação apontou que o alvo principal do envenenamento seria a sogra de Deise, Zeli Teresinha Silva dos Anjos, 61 anos — que preparou o bolo. Segundo a polícia, a briga entre a suspeita e a sogra teria se iniciado há pelo menos duas décadas e se intensificou ao longo dos anos. Exames periciais identificaram quantidades letais de arsênio — substância usada na fabricação de inseticidas — na farinha que Zeli usou para fazer o bolo.
Deise foi presa em 5 de janeiro, após a Polícia Civil descobrir, no celular dela, pesquisas sobre efeito do uso de arsênio.
Morte de sogro
A outra investigação tratava da morte de Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise, que também morreu envenenado por arsênio. O corpo dele foi exumado em 8 de janeiro a pedido da Polícia Civil.
O sogro de Deise morreu em setembro do ano passado, vítima de intoxicação alimentar. Exames do Instituto-Geral de Perícias (IGP) constataram que ele também ingeriu arsênio antes de morrer.
Paulo havia consumido bananas e leite em pó que foram levados à casa dele, em Arroio do Sal, pela nora. Ele e sua esposa Zeli foram hospitalizados após consumirem os alimentos, mas ele não resistiu e faleceu.
Segundo o delegado Fernando Sodré, neste inquérito, Deise seria indiciada, se estivesse viva, por homicídio com as qualificadoras de motivo fútil ou torpe, uso de veneno e dissimulação.
Morte de Deise
Uma terceira investigação foi aberta em torno da morte de Deise na prisão. Ela foi encontrada sem vida na manhã de quinta-feira durante a conferência matinal na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba. Segundo a Polícia Penal, ela estava sozinha na cela.
De acordo com o delegado Fernando Sodré, a informação mais recente obtida pela Polícia Civil foi o laudo confirmando que a causa da morte dela foi enforcamento. Segundo ele, todos os indícios apontam para um suicídio.
O que diz a defesa
Na quinta-feira em que Deise foi encontrada morta, os advogados de defesa de Deise dos Anjos concederam uma coletiva de imprensa, na qual disseram que houve falta de acompanhamento psicológico e criticaram as condições da Penitenciária Feminina de Guaíba. A Polícia Penal emitiu nota na qual disse que "a detenta recebeu três atendimentos psicológicos e dois atendimentos com a equipe de saúde" e que "em nenhum deles demonstrou intenção suicida".
Procurado pela reportagem nesta segunda-feira, o advogado Cassyus Pontes, que representava Deise, disse que ainda segue em contato com familiares, mas que não tem "posição sobre indenização neste momento". Ele também diz que a família materna tem advogados que a representam.