O Tribunal do Júri de Encantado condenou Rosemel José Guevara Villarroel, natural da Venezuela, a 35 anos de prisão em regime fechado pela feminicídio da esposa, em Encantado, no Vale do Taquari. Em outubro de 2023, Wilmary Carolina Magallanes Salazar, 21 anos, foi assassinada com 31 facadas pelo então companheiro. O júri aconteceu na última segunda-feira (3). A condenação a 35 anos de prisão, em regime fechado, foi pelo feminicídio triplamente qualificado.
As qualificadoras, segundo o Ministério Público, foram: o fato de o crime ter sido cometido na frente da filha do casal, de três anos, e de uma adolescente que trabalhava como babá da menina; o motivo fútil, já que, de acordo com o MP, o crime foi motivado por ciúmes e sentimento de posse sobre a mulher; e o descumprimento de uma medida protetiva que havia sido fixada dois dias antes em favor da vítima.
Villarroel já havia sido denunciado por lesão corporal contra a companheira em setembro de 2023, um mês antes do assassinato. Ele foi preso, mas, dois dias antes do crime, recebeu liberdade provisória.
Zero Hora tentou contato com o Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) tanto na época do assassinato quanto após a condenação para entender os motivos que levaram à soltura de Villarroel, mas não obteve resposta em nenhuma das tentativas.
Medida protetiva não protege?
Na época em que o crime foi noticiado, a Coordenadora do Centro de Apoio Operacional de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, promotora de Justiça Ivana Battaglin falou sobre o caso em entrevista ao Gaúcha Atualidade que foi ao ar em 31 de outubro de 2023. A promotora afirmou que os feminicídios são mortes evitáveis, mas que a medida é apenas uma parte de uma rede ampla de apoio à vítima.
— A medida protetiva é muito importante. As pesquisas indicam que mais de 90% das mulheres que morrem não tinham medida. Ela protege, mas não é um escudo mágico. Ele foi preso preventivamente, mas isso não é escudo mágico. Precisa de articulação melhor da rede como um todo — avaliou a promotora.
O promotor de Justiça Heráclito Mota Barreto Neto, que atuou em plenário, afirma que a condenação reforça a importância da responsabilização nos casos de violência de gênero.
— O julgamento representa um significativo marco no combate aos crimes de ódio contra a mulher, demonstrando que as instituições da Justiça e a sociedade estarão cada vez mais vigilantes aos atos que representem menosprezo, dominação e ataques à existência das mulheres — destacou o promotor.
Contraponto
A reportagem procurou a defesa de Villarroel, mas não conseguiu contato. O espaço está aberto para manifestações.
Produção: Camila Mendes