A Polícia Civil concluiu mais seis inquéritos sobre lesões causados pelo cirurgião plástico Leandro Fuchs em pacientes em Porto Alegre durante procedimentos estéticos. Ele foi indiciado por lesões corporais graves, estelionato, crime contra o consumidor, concussão e associação criminosa.
O total de indiciamentos chega a 11. Ele atuava no Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre, de onde está afastado.
Ainda há outros 76 inquéritos policiais abertos investigando o envolvimento do médico em lesões sofridas por pacientes em cirurgias e mais de 20 processos judiciais. A Justiça suspendeu o direito do profissional realizar cirurgias.
O Hospital Ernesto Dornelles, onde as cirurgias teriam sido realizadas e que, em uma investigação aberta em janeiro de 2024, concluiu que "não encontrou irregularidades" nas operações, afirmou que "já tomou as medidas internas cabíveis ao caso divulgado na imprensa" e que "aguarda as decisões judiciais".
O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers), que representa a categoria, disse que "está acompanhando o caso, e o médico continua impedido pela Justiça de realizar procedimentos eletivos. Existem sindicâncias em andamento, que correm sob sigilo legal".
O que a investigação concluiu
De acordo com o delegado Ajaribe Rocha Pinto, titular da 10ª Delegacia de Polícia de Porto Alegre, Fuchs colocava residentes, bem como médicos recém-formados sem a devida qualificação, para realizar as cirurgias e se ausentava das salas onde eram realizados os procedimentos para lidar com questões pessoais. Isso seria feito sem o conhecimento dos pacientes, que acreditavam que Fuchs seria o médico a fazer os procedimentos.
— De 727 cirurgias, 481 incorreram em novas intervenções cirúrgicas. Procedimentos que precisaram ser refeitos. Laudos descrevem lesões decorrentes dos procedimentos. São fatos extremamente graves — conta o delegado.
Oito mulheres ouvidas pela reportagem contaram terem feito procedimentos com o profissional entre 2020 e 2023: são histórias de procedimentos sendo realizados por médicos residentes, falta de atenção e acolhimento durante a recuperação depois da cirurgia, sangramentos, infecções, mutilações e deformações.
Conforme a Polícia Civil, Fuchs também teria cobrado "por fora" valores de pacientes encaminhados via plano de saúde para realizar outros procedimentos.
Em fevereiro de 2024, a Justiça suspendeu o direito de Fuchs exercer a medicina. Ele também foi proibido de sair de Porto Alegre e teve o passaporte apreendido, além de ter sido determinado que ele não pudesse contatar ou se aproximar de vítimas. Em abril do mesmo ano, ele obteve na Justiça o direito de voltar a clinicar, mas não o de realizar cirurgias.
Histórico
De acordo com o delegado, o caso mais antigo teria acontecido em 2019. O mais recente, 2023.
— Havia suspeita de lesões corporais graves, negligência e imperícia — diz.
O médico nega as acusações. Segundo o IGP, "várias mulheres" já foram ao Instituto Médico Legal (IML) "para realização de exame de corpo de delito".
"A função do perito, nestes casos, é de registrar os achados do exame clínico e analisar eventuais documentos médicos apresentados. Resultados estéticos ruins dependem de muitos fatores difíceis de avaliar, cabendo a manifestação do Conselho de Medicina (quanto à parte técnica) e da avaliação do Judiciário (que pode entender como passível de gerar indenização)", explicou o IGP.
Contraponto
A reportagem tenta contato com a defesa do médico.