Investigada por comprar 800 toneladas de carne contaminada pela enchente no Rio Grande do Sul e revender a outras empresas como própria para consumo humano, a Tem di Tudo Salvados, com sede em Três Rios (RJ), teria maquiado o alimento. A informação foi revelada pela Delegacia do Consumidor do RJ (Decon-RJ), conforme apuração do g1.
— Temos informações de que a carne foi maquiada para esconder a deterioração provocada pela lama e pela água que ficaram acumuladas lá no frigorífico da capital gaúcha — explicou o delegado Wellington Vieira.
Além de maquiar as peças de carne, a empresa também reembalou o produto em caixas que simulam cortes nobres de uma marca do Uruguai. Conforme a reportagem, uma picanha do lote contaminado estava sendo comercializada como carne nobre na sede da empresa na quarta-feira (22).
Com as embalagens falsas, a carne foi comercializada em diversos mercados de diferentes Estados brasileiros. Estima-se que a empresa fluminense tenha lucrado R$ 5 milhões com o esquema, após comprar o alimento alegando que seria reaproveitado para a produção de ração para animais.
A Decon-RJ analisa notas fiscais apreendidas na sede da Tem di Tudo Salvados, a fim de identificar empresas que compraram lotes da carne contaminada. O consumo pode causar intoxicação alimentar e, em casos mais graves, levar a óbito.
A investigação começou após o frigorífico de Canoas, que vendeu a carne à Tem Di Tudo Salvados, comprar uma remessa de carne nobre uruguaia de uma empresa de Minas Gerais. Os empresários gaúchos desconfiaram do aspecto de podre do produto e identificaram que tratava-se do mesmo lote vendido anteriormente aos fluminenses.
Até o momento, quatro pessoas foram presas. São dois sócios e dois funcionários da Tem Di Tudo Salvados, sendo que um deles assumiu ter passado 17 dias em Porto Alegre para efetuar a compra da carne e organizar a logística de transporte ao Rio de Janeiro.
Investigação
A apuração teve início na Delegacia de Polícia de Proteção aos Direitos do Consumidor, Saúde Pública e da Propriedade Intelectual, Imaterial e Afins (Decon-Deic) do Rio Grande do Sul, ainda em junho de 2024. Foi quando a empresa de Canoas que vendeu a carne foi procurada por outra companhia gaúcha que havia comprado 3 toneladas do produto revendido e suspeitou do aspecto.
— Essa distribuidora antes de distribuir, ao verificar que a carne estava com aspecto estranho, entrou em contato com a empresa de Canoas e identificaram que havia algo de errado. Então a carne que veio para cá (Rio Grande do Sul) acabou não sendo comercializada — explica a delegada Samieh Saleh.
De acordo com Samieh, outra distribuidora de Minas Gerais teria comprado pelo menos 14 toneladas do produto impróprio. Ela afirma que não é possível estimar a quantidade de carne contaminada que pode ter sido consumida por clientes. Segundo a delegada, as quatro pessoas que foram presas em flagrante na quarta-feira, em operação conjunta com a Polícia Civil do Rio de Janeiro, poderão ser responsabilizadas por crime contra a saúde pública, contra as relações de consumo e associação criminosa.
Na sede da Tem Di Tudo Salvados, outras irregularidades também foram constatadas pela investigação, que segue em andamento. A reportagem de Zero Hora tenta contato para posicionamento da empresa Tem Di Tudo Salvados, mas até o momento, não houve retorno.