Sete anos depois da última fase da Operação Leite Compen$ado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul (MPRS) deflagrou nesta quarta-feira (11) mais uma etapa. Com isso, ao todo, já foram realizadas 13 fases da operação que tem como objetivo investigar e desarticular esquemas de fraude e adulteração do produto no RS.
A 13ª etapa tem como alvo principal uma empresa de Taquara, no Vale do Paranhana. Pelo menos cinco pessoas foram presas. Entre os detidos está o químico industrial, conhecido entre os fraudadores como o “alquimista” ou o “mago do leite”, que já havia sido alvo da quinta fase da operação, em 2014.
A primeira fase da operação foi deflagrada em 2013 e, até então, o último registro era de 2017. Durante o período, os investigadores estiveram em 85 municípios e realizaram 82 prisões, totalizando 275 denúncias do Ministério Público (MP). O último levantamento revelou que a operação tinha resultado em 25 condenações, mas que ainda haviam processos em andamento.
Além da ureia com formol, que é cancerígeno, em várias fases da investigação foram comprovadas várias irregularidades, entre elas, água retirada de poço artesiano sem qualquer tipo de tratamento, leite azedo ou podre e até com larvas, bem como com sal, água oxigenada, soda cáustica, fungicida e ainda coliformes fecais no produto usado para fabricar queijo. Havia até venda por R$ 10 mil de receita de como adulterar leite entre os envolvidos.
Relembre as fases da Operação Leite Compen$ado
1ª fase
Maio de 2013 — Foram realizadas oito prisões, todos suspeitos ligados a transportadoras. Os investigados eram cinco empresas de transporte e responsáveis por postos de resfriamento do leite. As ações ocorreram em Ibirubá, Horizontina e Selbach, no Noroeste, Tapera, no Norte, e Guaporé, na Serra, onde uma indústria foi interditada.
Segundo apontado pela investigação na época, depois de pegar o leite com os produtores, os atravessadores adicionariam ureia no leite, a fim de mascararem a adição de água de poço no alimento. Amostras foram coletadas no decorrer da investigação em supermercados de Porto Alegre e apontaram fraude em 14 lotes de leite UHT.
2ª fase
Maio de 2013 — Cinco mandados de prisão preventiva foram cumpridos em Rondinha e Boa Vista do Buricá, no Norte, e em Horizontina, no Noroeste, com a prisão de um vereador e empresário do setor de transporte de leite. Ainda, foi encontrada fórmula para adulteração do leite na casa de um dos suspeitos, em Boa Vista do Buricá.
3ª fase
Novembro de 2013 — Na ocasião, foi preso um transportador e detectada, pela primeira vez, a presença de água oxigenada no leite. A operação cumpriu cinco mandados de busca e apreensão em Três de Maio e Nova Candelária, no Noroeste gaúcho. O alvo era uma família, onde um casal e dois sobrinhos atuavam na adulteração do produto.
A substância era utilizada para estabilizar o leite que estava envelhecendo, evitando que ficasse azedo. Além disso, ela causa a redução do valor nutricional do leite. Quem o ingere pode ter dores de estômago e até morrer, dependendo da concentração da substância.
4ª fase
Março de 2014 — Após seis condenações, mais uma fase foi deflagrada. A operação ocorreu em oito cidades gaúchas com a prisão de um empresário em Condor, na Região Norte, quando foi apreendida mais de meia tonelada de soda cáustica. Mandados judiciais foram cumpridos ainda em Bossoroca e Vitória das Missões, nas Missões, Santo Augusto, no Norte, Ijuí e Panambi, no Noroeste, Tupanciretã e Capão do Cipó, na Região Central.
Segundo o Ministério da Agricultura na época, parte do leite adulterado foi entregue a uma empresa de laticínios, que colocou o produto à venda no mercado. Os indícios são de que o leite tenha sido distribuído para outros Estados.
Além da soda cáustica, ureia, substância que continha formol — que é considerado cancerígeno —, também era acrescentada ao produto. A operação ocorreu em unidade de resfriamento que tinha sido interditada em fevereiro daquele ano, mas já estava com a situação regularizada.
5ª fase
Maio de 2014 — Foram cumpridos três mandados de prisão em 10 cidades do Vale do Taquari e Vale do Sinos, com foco em Imigrante. No local, o "alquimista", alvo da 13ª fase, foi preso pela primeira vez pelo MPRS, e Paverama, sede de duas indústrias de laticínios.
Os dois proprietários das indústrias também foram detidos por darem ordens para adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada no leite. Houve, ainda, cumprimento de ordens judiciais em Guaporé, Teutônia, Arroio do Meio, Encantado, Venâncio Aires, Marques de Souza, Travesseiro, Novo Hamburgo e Cruzeiro do Sul.
6ª fase
Junho de 2014 — A operação contra fraude do leite teve também ramificação no Paraná, com quatro presos. Foram 16 mandados judiciais cumpridos nas cidades paranaenses de Londrina e Pato Branco e nos municípios gaúchos de Ijuí, Taquaruçu do Sul, Ibirubá, Campina das Missões, Alegria, Boa Vista do Buricá, Crissiumal, São Valério do Sul, São Martinho, Cruz Alta e Coronel Barros.
7ª fase
Dezembro de 2014 — Um posto de resfriamento foi interditado em Jacutinga, no Norte gaúcho, e outro ficou em regime de fiscalização. Havia adição de sal no leite adulterado com água. Foram cumpridos 17 mandados de prisão e outros 17 de busca e apreensão em seis municípios do Norte: Erechim, Jacutinga, Maximiliano de Almeida, Gaurama, Viadutos e Machadinho.
8ª fase
Maio de 2015 — Houve oito prisões nesta fase e apreensão de produtos químicos no Norte do Estado. Foi comprovada a tentativa de repassar leite com larvas. Havia adição de ureia, álcool e soda cáustica. Os investigados eram donos de transportadora e motoristas.
Eles realizavam a coleta de leite depois do prazo máximo de 48h, chegando a coletar até quatro dias depois de serem produzidos. Também fazia parte da fraude a mistura do leite "velho" com o leite "novo" e adulterado para entregar ao consumidor.
9ª fase
Setembro de 2015 — O MPRS apurou e comprovou que leite azedo era vendido como saudável. Houve quatro prisões nos municípios de Esmeralda, na Serra, e Água Santa, no Norte. Além de cinco de buscas, incluindo a apreensão de quatro caminhões.
10ª fase
Outubro de 2015 — Na ocasião, donos de laticínios foram presos por adulteração do produto. A operação ocorreu de forma simultânea com a Operação Queijo Compensado 2. Os mandados judiciais foram cumpridos em Venâncio Aires, Lajeado, Mato Leitão, Arroio do Meio, Montenegro e Carlos Barbosa.
Entre os detidos estava o dono de uma empresa, que já tinha sido denunciado 14 vezes por adulteração no leite em outras fábricas. Ao todo, 15 laudos técnicos da Secretaria Estadual de Agricultura apontaram adição de água ao leite em proporções muito acima do tolerado por lei.
11ª fase
Julho de 2016 — Pela primeira vez se comprovou a presença de coliformes fecais, além de água oxigenada e amido em amostras de leite analisadas. A operação ocorreu junto com a Operação Queijo Compensado 4.
Houve cinco prisões e ordens judiciais cumpridas em São Pedro da Serra e Caxias do Sul, na Serra, em Estrela, no Vale do Taquari, além de Novo Hamburgo, no Vale do Sinos. Na época, durante toda a operação, foi suspenso do exercício da função pública o responsável pelo serviço de inspeção municipal de São Pedro da Serra.
12ª fase
Março de 2017 — Houve cinco prisões e quatro mandados de busca cumpridos em três laticínios. A operação ocorreu em Nova Araçá, na Serra, Casca e Marau, no Norte, Estrela e Travesseiro, no Vale do Taquari. O MPRS divulgou áudios em que integrantes da cadeia leiteira debochavam ao falar que “o leite só poderiam ter como destino a alimentação de animais”.
13ª fase
Dezembro de 2024 — A operação mais recente teve como alvo principal a empresa Dielat Laticínios, em Taquara, no Vale do Paranhana. Estão sendo cumpridos quatro mandados de prisão, tendo como alvos três empresários no Rio Grande do Sul e um em São Paulo. As ações acontecem em Taquara, Parobé, Três Coroas, Imbé e na capital paulista.
Contraponto
A reportagem tenta contato com os responsáveis pela Dielat Laticínios. O espaço está aberto para manifestação.