Entre os alvos da operação do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) realizada nesta quarta-feira (11) estão empresários, suspeitos de se aliarem a uma facção para lavar dinheiro do tráfico de drogas. A investigação da Polícia Civil identificou que o grupo criminoso usava diferentes formas de “esquentar” os valores obtidos de forma ilícita, expandindo a atuação por diferentes ramos de negócios, inclusive fora do Rio Grande do Sul.
— Tamanho era o poderio econômico deles e a expertise nesses investimentos que realizavam que tinham negócios em outros Estados, em segmentos variados, de supermercados, empresas de revenda de veículos, empresas de diversão, empresas de fachada relacionadas a serviços de saúde, serviços gerais. Então era muito sofisticada essa inserção na economia, por meio de várias empresas — detalha o delegado Adriano Nonnenmacher, da Delegacia de Repressão a Lavagem de Dinheiro do Denarc, que coordena a investigação.
Ainda segundo a apuração, a facção criminosa passou a investir em outros Estados, tanto na criação de empresas como em negócios de fachada. Entre os mandados cumpridos nesta quarta-feira, está o de prisão de um gaúcho, que atualmente estava sediado na cidade de Paraíso, no Tocantins. Este homem, que atuaria no ramo de minérios, é apontado como um dos operadores logísticos e financeiros da facção. Ele já havia sido alvo de uma operação por lavagem de dinheiro em Santa Catarina.
A polícia tinha outro alvo, no Mato Grosso do Sul, que não foi localizado até o momento. Ele também é apontado como um dos responsáveis pela logística das negociações realizadas pela facção.
— Em outros Estados, eles também estavam expandindo seus negócios, e a compra de bens imóveis também — afirma Nonnenmacher.
Entre os alvos de mandados de prisão no RS, estão um homem que se identificava como corretor de imóveis, em Capão da Canoa, no Litoral Norte. Com ele, foram apreendidos veículos de alto valor, como Land Rover, utilitários, caminhões, BMW, Tiguan, Nivus e Evoque. Também foi preso um empresário que mantinha um bar em Porto Alegre, suspeito de colaborar com a facção na lavagem de dinheiro.
Uma das estratégias usadas pelo grupo era juntar os valores obtidos de forma ilegal com o capital das empresas, para tentar ludibriar a fiscalização. Outro alvo, que segue foragido, seria uma espécie de consultor financeiro, responsável por coordenar os investimentos do grupo.
Compra de propriedades
Outra forma usada pelos criminosos para ocultar o patrimônio ilegal, segundo a polícia, é o investimento em imóveis de alto padrão. Mandados foram cumpridos em 13 endereços com essa característica, na Grande Porto Alegre, na Serra e em Santa Catarina. Da mesma forma, a aquisição de propriedades rurais também é apontada como uma estratégia para ocultar os valores.
A polícia identificou ao menos 15 fazendas, que teriam sido adquiridas pelo grupo criminoso, no interior do Estado. Em três delas, foi descoberta ainda a construção de pistas de pouso, que seriam usadas para o transporte de drogas para o Rio Grande do Sul com emprego de aeronaves de pequeno porte.
— Sabemos que este, infelizmente, é um modal no tráfico internacional de drogas e no tráfico interno, com a utilização de aviões. Essas organizações criminosas fazem do útil o agradável. Acabam comprando grandes extensões de terra, imóveis, mediante ocultações, e construindo pistas, das quais temos provas contundentes da elaboração. Inclusive, usando nessa expansão para outros Estados — explica o delegado.
A operação em valores
A Polícia Civil obteve ainda os bloqueios de contas bancárias de 29 pessoas jurídicas e físicas. Com todas as medidas, a operação busca o sequestro de ao menos R$ 122 milhões. Durante o período da investigação, segundo a polícia, esse núcleo da organização criminosa movimentou altas somas de dinheiro, chegando a R$ 577,9 milhões nos últimos dois anos.
Em fases anteriores, no entanto, como na Operação Consortium — na qual a polícia mostrou que a mesma facção se unia a outra, numa espécie de consórcio, para trazer drogas do Paraguai para o Estado — deflagrada em 2022, foram identificadas outras movimentações milionárias. A soma movimentada pelo grupo ao longo dos últimos cinco anos se aproximaria de R$ 1 bilhão, segundo a Polícia Civil.