Iniciada nesta quinta-feira (21), a série TBT 2024 revisita coberturas marcantes de jornalistas de Zero Hora e Rádio Gaúcha neste ano. Repórteres e comunicadores relembram momentos da tragédia climática no Estado, grandes operações policiais e acontecimentos que chocaram o Rio Grande do Sul e o país. Na primeira publicação, o jornalista da Gaúcha Lucas Abati conta detalhes da reportagem que flagrou, junto à Polícia Civil, um mercado de Charqueadas lavando e revendendo produtos atingidos pela enchente.
Latas de cerveja, caixas de suco e até mamadeiras para crianças. Após a enchente que atingiu o Rio Grande do Sul, funcionários de uma rede de supermercados usavam lava-jato e escovas para tirar o barro das mercadorias.
A denúncia chegou até a Redação Integrada através do WhatsApp de GZH e começou a ser apurada por Abati e pelo fotojornalista Ronaldo Bernardi, que acompanharam uma operação da Polícia Civil no começo de julho. A suspeita era de que os itens eram trazidos do depósito de Eldorado do Sul, onde ocorria a limpeza, para serem vendidos em um mercado de Charqueadas.
— Quando a gente chegou lá, a polícia já tinha ido, mas a quantidade de materiais era tão grande, tão extensa, que a polícia não tirou daquele local. Por conta disso, conseguimos fazer o flagrante de todos os produtos acumulados naquele depósito — explica o repórter.
Nosso trabalho era muito focado, também, em tentar alertar os consumidores para os sinais que poderiam indicar que aquele produto teria sido atingido pela enchente.
LUCAS ABATI
Repórter da Rádio Gaúcha
Após a reportagem ser publicada, muitas outras denúncias chegaram até a Redação.
— Quando a gente dava um caso, como esse do mercado, ele puxava outros tantos. Eram muitas denúncias que chegavam e, infelizmente, a gente não conseguia dar conta de todas. Então, nosso trabalho era muito focado, também, em tentar alertar os consumidores para os sinais que poderiam indicar que aquele produto teria sido atingido pela enchente — completa.
— Me impactou a ganância. Ver produtos que claramente foram intoxicados, que se tinha muitas recomendações que não deveriam ser consumidos, que ficaram mais de 20 dias, talvez 30 dias, debaixo d’água — comenta Abati, relembrando os riscos de consumir produtos que tiveram contato com água da enchente. — Uma forma de enganar esses consumidores, pensando no lucro, mas sem se dar conta que eles estavam colocando essas vidas em risco.
Os desafios da reportagem na enchente
Em entrevista para Zero Hora, Lucas Abati falou ainda sobre os desafios da cobertura no início de maio, quando estava no Vale do Taquari. A ideia da equipe era fazer a cobertura no local e retornar para Porto Alegre, mas a queda de pontes e alagamento de estradas isolou os jornalistas — de um ou dois dias, a estadia no Vale se estendeu para oito.
— Nesse período, isolado, era dificuldade com telefonia, com contato com a nossa família — conta Abati. — Eu acho que a situação mais curiosa, que é um problema mínimo perto de tudo que as pessoas lá viveram e que a gente também estava fazendo parte, mas é que em um determinado momento o nosso hotel também ficou sem água. Todo dia a gente tinha a missão de encontrar algum lugar que pudesse nos ceder um chuveiro. E, felizmente, mesmo em meio a toda a tragédia, a gente conseguiu ajuda por vários dias na região de Lajeado.
Produção: Laura Pontin
Supervisão: Gabriel Salazar