Há alguns anos, a Polícia Civil vem identificando em Porto Alegre a ação de criminosos de fora do Estado – especialmente de São Paulo – que viajam até capitais para escolher vítimas e roubar relógios de alto valor. Nessa segunda-feira (2), um assaltante foi morto a tiros por um policial militar de folga, no bairro Petrópolis. Pouco antes, ele havia atacado um motorista de uma BMW. A polícia apura se ele integrava ou tinha vínculo com alguma das chamadas “quadrilhas do Rolex”.
A ação que resultou na morte do assaltante ocorreu no fim da tarde, quando o motorista alvo do roubo estava parado no trânsito. Essa é uma estratégia comum nos roubos praticados por esse tipo de grupo criminoso. As vítimas, em geral, são escolhidas pelo veículo que circulam – por ser de alto valor – ou locais, como restaurantes, onde frequentam. Os criminosos costumam perseguir o condutor, até encontrar um ponto onde conseguem se aproximar e efetuar o ataque.
Neste caso, o ladrão teria se aproveitado ao chegar perto do cruzamento das duas avenidas para se aproximar numa motocicleta. Segundo a polícia, com um revólver de calibre 32, ele bateu contra o vidro do veículo e anunciou o roubo. Um dos pontos que chamou a atenção, e faz os investigadores suspeitarem que o criminoso era especializado em roubos de relógio de alto valor, é que ele exigiu imediatamente que a vítima entregasse o Rolex.
— É um assalto, passa o relógio — teria gritado para o homem que dirigia o carro.
O motorista abriu a janela e entregou ao ladrão o relógio. Logo atrás do carro, pilotando uma motocicleta, o soldado da Brigada Militar percebeu a ação, e sacou a arma, apontando na direção do assaltante. O soldado, que trabalha na Região Metropolitana, estava de folga naquela tarde.
— O policial deu voz (de prisão), se identificou e, então, efetuou os disparos — narra o comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Daniel Araújo de Oliveira.
Ainda na janela do carro, sobre a motocicleta, o assaltante foi atingido por dois disparos na cabeça e um nas costas – o PM teria atirado quatro vezes na direção dele. O soldado não chegou a se ferir na ação e nem o motorista do veículo. O ladrão tombou com a moto e morreu no local.
Investigação
Até a tarde desta terça-feira (3), o autor do assalto ainda não havia sido identificado pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP). A polícia suspeita, no entanto, que ele seja do Estado de São Paulo e chegou a fazer contato com a polícia paulista em busca de suspeitos de roubos.
A motocicleta que ele usava no ataque, no entanto, era de Porto Alegre. Os policiais ainda averíguam como ele teve acesso ao veículo. A polícia segue em busca de imagens de câmeras de segurança do entorno para verificar se havia algum comparsa próximo do veículo.
— Fazia algum tempo que na área do 11º não tínhamos mais esses casos. É uma situação que não é mais rotineira. Inclusive, nossos índices criminais estão muito baixos. Em agosto, tivemos 45 roubos a pedestres em toda nossa área de atuação e 14 roubos de veículos. A suspeita é de que tivesse ligação com a quadrilha do Rolex. O modus operandis (forma como agiu) é bem peculiar. E para a infelicidade do delinquente, atrás dele tinha um policial militar que visualizou todo o fato e, mesmo de folga, acabou intervindo — diz o tenente-coronel.
A quadrilha do Rolex
Em novembro do ano passado, três homens foram presos em flagrante após assalto no bairro Três Figueiras, e seis relógios foram recuperados. Aquele caso foi o 18º deste tipo registrado em 2023 na Capital. Os três suspeitos presos eram paulistas e foram presos pela Polícia Civil em São Leopoldo, no Vale do Sinos. Entre os relógios recuperados, estava o que foi levado no último roubo.
O grupo alvo da investigação, segundo a polícia, é especializado nesse tipo de crime. Os assaltantes viajavam de São Paulo até o Rio Grande do Sul para cometer os roubos. Em Porto Alegre, os bandidos seguiam algumas estratégias, como usar motocicletas clonadas para circular por áreas nobres e escolher as vítimas.
Para dificultar a identificação, disfarçavam-se de motoboys, usando mochilas de entrega, alteravam rotineiramente as placas falsas – 47 foram apreendidas durante a prisão dos três suspeitos – e chegavam a modificar até mesmo a carenagem da motocicleta.
Os integrantes que estavam no RS fariam parte de uma organização que atua em vários Estados. As quadrilhas especializadas em roubos de relógios de luxo têm agido em diferentes capitais do país. Na maioria dos fatos, os criminosos identificados são de São de Paulo — da capital ou de outras cidades.
Os três presos em novembro do ano passado eram naturais do município de Taboão da Serra, em São Paulo, com antecedentes por crimes como roubo, porte de arma e ameaça. Em razão disso, a polícia gaúcha vem trocando informações com o outro Estado.
Em São Paulo, também se dá o destino final dos produtos roubados das vítimas, que são revendidos. A estimativa da Polícia Civil é de que cada um dos relógios tenha valor entre R$ 50 mil e R$ 100 mil.