O policial militar Ícaro Ben-Hur dos Santos Pereira, 32 anos, deu um depoimento detalhado na tarde desta quinta-feira (4) sobre a confissão de Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues em relação à morte do filho Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos. O segundo-sargento da Brigada Militar contou que a mãe admitiu ter dopado a criança com medicamentos, mantido o menino trancado no poço de luz e depois colocado o corpo numa mala, e arremessado nas águas do Rio Tramandaí. A mãe e a madrasta Bruna Nathiele Porto da Rosa são julgadas no Litoral Norte.
O PM descreveu que naquela noite, às margens do rio, indagava-se sobre os motivos que teriam levado alguém a matar uma criança inocente. O sargento diz ter questionado Yasmin sobre a motivação para o crime e que ela teria atribuído isso ao comportamento do filho. A mãe do garoto chorou em diversos momentos do depoimento do PM.
— Não faz sentido uma criança inocente ser morta dessa forma. Uma hora ela me alegou que a criança roubava, que a criança batia, umas coisas sem sentido. Criança tu ensina ela, tu não mata ela, tu não joga no rio — disse o policial.
O sargento, que na época ainda era soldado, afirmou que estava na delegacia de Tramandaí, registrando uma ocorrência de tráfico, quando chegaram Yasmin e Bruna para comunicar o desaparecimento. O policial contou que o fato de se tratar do sumiço de uma criança lhe despertou a atenção e, em razão disso, pediu que ela lhe mostrasse fotos do menino, para ajudar nas buscas. Yasmin teria então mostrado somente um vídeo da criança, de um ano antes.
— Tenho um filho e meu celular a memória dele e cheia de tanta foto — disse o policial.
Já na pousada onde elas viviam, segundo o PM, Yasmin teria mudado de comportamento e passado a ficar agressiva. Ali, a mãe de Miguel teria confessado que havia assassinado o filho. O PM recordou com detalhes o que a mulher teria relatado sobre a morte
— Ela comentou que trancava ele no poço de luz e ficava horas fora e voltava. E ele ali trancado. Ele já não comia mais. E ainda apanhava dela, ela me contando. Ela falou que no dia anterior teria administrado remédios psiquiátricos, com mais alguma coisa, e dado junto com caldinho de feijão. No relato dela, ele já estava deitadinho. Ela esperou algumas horas, foi ver de novo. Ela disse que ele estava gelado nesse momento. Ela botou a mão nele, e já estava gelado. A mandíbula estava cerrada. Que não tinha mais respiração. Naquele momento, ela teve a certeza de que ele tinha morrido — relatou o policial.
No depoimento, o sargento detalhou também as torturas que o menino teria sofrido antes de ser morto. As duas rés respondem pelo crime de tortura, além do homicídio triplamente qualificado, e da ocultação de cadáver.
— Ela relatou que teria matado o Miguel. Ela deixava ele dormir dentro de um roupeiro, às vezes trancava ele no escuro, ela batia nele porque ele fazia cocô nas calças, ele se mijava. Ela alegava que batia com a mão na cara dele. Deixava ele sem comer muitos dias. O soldado Dias conseguiu ver dentro da pousada, dentro do apartamento, um poço de luz, e tinha uma cobertinha só ali. Ali era onde ele dormia.
O sargento disse que Yasmin confirmou ter quebrado os ossos do filho para que ele coubesse numa mala e depois teria levado o corpo da criança até o rio e arremessado nas águas. O corpo de Miguel nunca foi localizado, mesmo com 48 dias de busca. O policial reproduziu as palavras que a mãe teria usado na confissão.
— Ele estava magro, desnutrido, pele e osso e inclusive quebrei os ossos dele pra colocar dentro da mala. Ela falou até a posição em que colocou ele na mala, na posição fetal — disse.
Sobre a madrasta, o policial disse que Bruna se mantinha mais quieta, e que só mencionava palavras soltas, como “Miguel, mala, rio”. Por mais de uma vez, o policial falou sobre a dificuldade que teve em ouvir a confissão da mãe e que no início do caso ele chegou a acreditar que salvaria o menino, e, isso teria lhe motivado a entrar no quarto da pousada.
— Acreditava que iria salvar o Miguel. O pessoal acha que é policial militar, que não sente. Atrás aqui o coração bate igual. Eu não aguentava mais — disse.