Minutos antes de o engenheiro Maurício Zart Arend, 36 anos, ser assassinado a facadas dentro de um apartamento em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo, ele se envolveu numa discussão com a mulher que confessou mais tarde ter sido a autora do crime.
A briga se iniciou em frente ao residencial, na Travessa Haun, na área central, e seguiu até o imóvel onde a investigada mora com o filho adolescente. Ali, o homem foi morto com mais de 20 golpes de faca. A Polícia Civil conseguiu comprovar a cena por meio de imagens de câmeras de segurança.
Segundo a delegada Ana Luísa Aita Pippi, titular da 1ª Delegacia de Polícia, nos últimos dias, a polícia vem buscando entender o que aconteceu antes de o engenheiro ser morto a facadas. O crime se deu no fim da tarde da última sexta-feira (12), pouco depois das 16h. A mulher, que admitiu ter sido a autora do homicídio, alega que agiu para se defender e para proteger o filho. Ela foi encaminhada pela Brigada Militar à Polícia Civil, e chegou a ser presa em flagrante pelo assassinato, mas recebeu da Justiça o direito à liberdade provisória.
— O que temos de concreto é a alegação do adolescente, de que a mãe agiu em legítima defesa dele e dela. Ela, num primeiro momento, não quis declarar. Só falou que agiu em legítima defesa — diz a delegada.
A polícia conseguiu obter as imagens que ajudam a entender parte da dinâmica do dia do assassinato. Os vídeos não são divulgados no momento porque fazem parte da investigação. Segundo a delegada, as câmeras registraram o momento em que o engenheiro e a mulher chegaram ao prédio durante a manhã.
Depois disso, eles teriam saído mais de uma vez do local e retornado com bebidas alcoólicas. Durante a tarde, o homem retornou sozinho e tentou ingressar no apartamento onde estava o adolescente. Neste momento, o filho teria ligado para a mãe, e a mulher teria voltado ao prédio. Ali, na frente do residencial, os dois iniciaram uma discussão. O filho da mulher também teria participado da discussão.
— Temos imagens dessa briga que começou na entrada do prédio, por motivos banais. Ele se descontrola, ela pede para ele parar de gritar. A discussão toma uma proporção cada vez maior. E eles sobem para o apartamento, onde ocorreu a morte — explica a delegada.
O crime
Dentro do apartamento, segundo a versão do adolescente, a mãe usou duas facas da cozinha para se defender e atacar o engenheiro. Conforme o filho, a mulher usou uma segunda faca porque a primeira quebrou. A polícia ainda aguarda o resultado do laudo de necropsia. No entanto, o levantamento preliminar indica que Arend teria sido atingido por pelo menos 20 golpes, em diferentes áreas do corpo, como pernas, braços, pescoço e costas. As duas facas também foram encaminhadas para análise da perícia. Um dos objetivos da perícia é entender se a mulher agiu sozinha, como alega.
— Estamos investigando se houve legítima defesa, e, se houve, precisamos saber se há excesso por parte dela. Quando atuo em legítima defesa, tenho que usar meios moderados para repelir a injusta agressão. Precisamos entender todo o contexto em que seu deu, durante uma briga, a diferença de compleição física dos dois, além de aguardar as perícias — diz a delegada.
O filho da mulher foi o responsável por acionar a Brigada Militar, e esperou pela chegada dos policiais. Quando os brigadianos chegaram ao local, encontraram o engenheiro já sem vida, num dos quartos do apartamento. A mulher admitiu o crime e foi presa em flagrante dentro do apartamento. O imóvel, segundo a polícia, estava bastante revirado.
Sobre a motivação do crime, segundo a polícia, pelas imagens obtidas fica claro que os dois tinham ingerido bebidas alcoólicas antes da briga e do assassinato. A polícia apura se possíveis problemas psiquiátricos do engenheiro teriam impactado na situação. O homem teria diagnóstico de bipolaridade, segundo a polícia. Ainda conforme a delegada, Arend tinha um registro recente envolvendo uma briga, no qual teria apresentado descontrole e falas desconexas, e havia sido preso por perseguição a uma ex-namorada. Ele também já havia sido dado como desaparecido.
— Houve um episódio no qual ele foi apresentado pela Guarda Municipal após brigar com os trabalhadores de uma obra, alegando que ele era o responsável pela obra, e dizendo que eles estavam fazendo o trabalho errado, mas ele não era. Não tinha relação com essa obra. Houve também este caso de violência doméstica, pelo qual foi decretada a prisão preventiva — diz a delegada.
A investigada também tinha alguns registros na polícia, por envolvimento em brigas e ameaça. Em relação ao tipo de relacionamento mantido pela vítima e a mulher, a polícia ainda está averiguando. Quando foi ouvido, o adolescente afirmou que esta era a primeira vez que via o homem no apartamento.
— Eles têm uma relação próxima. Pode ser uma relação de amizade, ou eventualmente amorosa. Mas o que sabemos com certeza é que já se conheciam. E ele frequentou o apartamento desde a manhã naquele dia — afirma a delegada.
A mulher será ouvida novamente pela polícia, para detalhar a versão dela sobre o crime. O nome da investigada não é divulgado, para preservar a identidade do adolescente.
Contraponto
Responsável pela defesa da investigada, o advogado Mateus Porto afirma que a cliente sustenta ter agido em legítima defesa. Sobre a relação entre a cliente e o engenheiro, o advogado diz que, segundo a mulher, os dois se conheciam há pouco tempo.
— Ela alega que se defendeu após ter sido agredida, e a vítima ter tentado matá-la. Infelizmente, o caso teve esse desfecho lamentável. Ela se viu obrigada a defender a própria vida e defender o filho, que tem 15 anos — afirma.