O pai e a madrasta de uma bebê de um ano e seis meses foram presos suspeitos de praticar tortura contra a menina, que chegou a sofrer fratura em uma das pernas. As agressões teriam ocorrido na casa onde vive o pai da bebê, em Taquara, no Vale do Paranhana, mas o casal foi localizado no Litoral Norte, na terça-feira (12). A avó paterna também foi detida, por omissão. O caso está em investigação pela Polícia Civil de Cachoeirinha.
Os nomes dos três presos preventivamente não são divulgados para evitar que a bebê seja identificada, em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O pai tem 23 anos, a madrasta, 22, e a avó paterna, 42.
A bebê está hospitalizada desde o mês passado. Ela apresenta diversas lesões pelo corpo, queimaduras feitas com cigarro e fratura em uma das pernas — o que a impedia de caminhar desde antes de ser internada. A menina é acompanhada também por assistente social, pediatra, psicóloga e fonoaudióloga. O quadro tem evoluído de forma "lenta", e ela não corre risco de morte, segundo o hospital. Não foram encontrados indícios de abuso sexual.
O caso chegou ao conhecimento das autoridade em 25 de fevereiro, quando a avó paterna procurou atendimento para a neta na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Cachoeirinha. A mulher, que mora em Taquara, relatou que o filho, tinha deixado a bebê com ela dias antes.
— O casal entregou a menina para ela, que levou uns 10 dias para procurar atendimento médico. A vítima estava há pelo menos uma semana com as lesões, com marcas de queimaduras de cigarro aparentes, não conseguia caminhar por causa da fratura na perna. A avó disse que estava tratando com Salompas, que não sabia que estava fraturada — explica o delegado André Lobo Anicet, que responde temporariamente pela 2ª delegacia de Cachoeirinha.
Ao perceber o estado debilitado da bebê, a equipe de saúde contatou o Conselho Tutelar e a Brigada Militar. A avó foi encaminhada à delegacia de Gravataí e presa em flagrante no mesmo dia pelo crime de omissão de socorro. Ela teve a prisão convertida em preventiva e segue recolhida.
Casal tentou fugir para o Litoral
A partir da prisão da avó, a polícia passou a investigar a autoria das agressões e chegou ao pai e à madrasta, que também estavam morando em Taquara, junto de outros familiares. Eles não foram localizados no município. Após diligências, equipes verificaram que o casal estaria na casa de parentes em Capão da Canoa, no Litoral Norte, tentando fugir. Eles foram localizados e presos preventivamente na terça-feira (12).
Conforme a polícia, os dois seriam usuários de drogas. As equipes não informaram se eles já foram ouvidos.
— O caso é investigado como tortura. Em princípio, não teriam o objetivo de matar a bebê, mas de provocar dor, fazer ela sofrer, não se sabe por que — pontua o delegado.
Homem teria descoberto a paternidade recentemente
Segundo a investigação, a bebê seria fruto de um breve relacionamento entre o pai e a mãe da menina, que mora em Porto Alegre. O homem teria descoberto a paternidade em janeiro. Ele teria pedido para ficar com a filha durante as férias no começo do ano, e a mãe permitiu que a bebê fosse para Taquara com o pai e familiares.
As agressões teriam começado em janeiro, até que, na metade de fevereiro, a menina foi entregue à avó paterna.
A polícia afirma que a mãe da menina não teria mais feito contato depois de deixá-la com o pai, e também não procurou as equipes após a internação da filha. A polícia apura se ela também teria se omitido em relação à violência contra a pequena e se deve ser responsabilizada.
— As equipes focaram primeiro em localizar e prender o casal, e agora irão investigar a mãe da bebê, se sabia das agressões, se foi omissa e por que não fez contato com a polícia e com a filha após a internação. Também será apurado por que ela deixou a bebê com o pai sem manter nenhum contato — explica o delegado André Lobo Anicet.
O futuro da bebê ainda é indefinido: um processo deve decidir se ela ficará com algum familiar ou será encaminhada a um abrigo. Segundo o delegado, depois que o caso foi descoberto, vizinhos da casa da família em Taquara relataram que ouviam choro da bebê à noite, mas que não teriam conhecimento das agressões.