Um caso que causou comoção em janeiro de 2020 chega, nesta segunda-feira (11), a seu momento decisivo. A partir das 9h, no plenário do quinto andar do Foro Central I, em Porto Alegre, terá início o julgamento de Neuza Regina Bitencourt Vidaletti e Dionatha Bitencourt Vidaletti.
Mãe e filho são apontados pelo Ministério Público como responsáveis pela morte de Rafael Zanetti Silva, sua esposa Fabiana da Silveira Innocente Silva, e o primogênito do casal, Gabriel. As vítimas tinham 45, 44 e 20 anos, respectivamente, à época dos fatos.
Dionatha responde pelos três homicídios triplamente qualificados, por motivo fútil, perigo comum por ter atirado em via pública e recurso que dificultou a defesa das vítimas, além do porte da arma. Já Neuza responde em liberdade por disparo de arma de fogo, pois atirou em direção ao chão.
Era tarde de um domingo, 26 de janeiro, quando o crime aconteceu. Por volta de 15h, a família voltava de uma comemoração de aniversário em seu veículo, pela Estrada Armando Inácio da Silveira, no bairro Lami, extremo sul de Porto Alegre.
Durante o trajeto, o Aircross no qual estavam as vítimas colidiu com a Ecosport dos réus, que estava parada no acostamento. A família não parou para prestar contas sobre o acidente, o que teria deixado Dionatha inconformado. Ele, então, passou a perseguir a família, acompanhado por Neuza.
O Aircross da família Silva foi interceptado na Estrada do Varejão. Réus e vítimas desembarcaram de seus veículos e uma discussão se iniciou, dando sequência aos atos que culminaram no triplo homicídio, presenciado pelo filho caçula do casal, à época com oito anos, e pela namorada de Gabriel.
— Houve um desentendimento decorrente do acidente de trânsito. Quando a discussão parecia ter acabado, o réu partiu armado em direção às vítimas e matou três pessoas desarmadas. Há provas, nos autos do processo, as quais mostram que o crime ocorreu por motivos completamente estúpidos e fúteis — argumenta a promotora de Justiça, Lúcia Helena Callegari.
Advogado alega legítima defesa
Representante dos réus, o advogado Cristiano da Rosa contrapõe o entendimento do Ministério Público e pedirá a absolvição de Neuza e Dionatha, sob alegação de legítima defesa.
— Acredito haver elementos suficientes, nos autos do processo, para convencer o Conselho de Sentença, de que Dionatha não matou estas pessoas por raiva ou ódio. Mas atirou na intenção de proteger sua mãe, pois interpretou que ela teve a vida colocada sob ameaça naquele momento — sustenta.
Como será o júri
O julgamento será presidido pelo juiz Francisco Luís Morsch, da 1ª Vara do Júri do Foro Central da Comarca de Porto Alegre. A previsão é de que o júri tenha duração de dois dias. Dionatha está preso desde sua apresentação à Polícia Civil após o ocorrido. Neuza responde em liberdade.
A sessão de julgamento terá início pela formação do Conselho de Sentença, com o sorteio dos jurados. Definidos os sete integrantes, que estarão incomunicáveis a partir desse momento, começará a instrução plenária com os depoimentos, sendo ouvidas cinco testemunhas de acusação e uma de defesa.
A etapa final da instrução é o interrogatório dos réus, que podem responder as perguntas, se recusar a prestar esclarecimentos ou ficar em silêncio. Finalizada essa fase, começam os debates, momento em que defesa e acusação terão a oportunidade de apresentar as suas teses aos jurados.
Os debates terão aproximadamente nove horas de duração. Cada uma das partes terá duas horas e meia para a sustentação inicial e, sendo necessário, contarão com mais duas horas para réplica e para tréplica.
Encerrados os debates, os jurados passarão para a sala secreta, onde votam pela condenação ou absolvição dos réus.
Assista vídeo
No dia seguinte aos fatos, GZH refez o trajeto percorrido entre o local do acidente e das mortes: