Com júri finalizado na noite de quinta-feira (23), o médico Leandro Boldrini foi condenado pela segunda vez pela morte do próprio filho, o menino Bernardo, em 2014. No novo julgamento, que aconteceu em Três Passos, no noroeste do RS, os jurados entenderam que o homem sabia que o garoto de 11 anos seria morto, e que ele contribuiu para isso como mentor intelectual.
Após o fim da sessão, a defesa do réu havia afirmado que deixaria o caso, mas depois informou que primeiro deve conversar com Boldrini para decidir se entram ou não com recurso. A data desta conversa ainda não havia sido definida até o momento de publicação desta reportagem.
A defesa foi feita por Rodrigo Grecellé Vares e Ezequiel Vetoretti. Ao fim do júri, na quinta, Grecellé afirmou que os advogados deixariam o caso depois de nove anos de atuação, desde 2014, e de dois júris. Ele sustentou que a defesa já contribuiu com tudo que podia ao longo deste período.
Boldrini esteve no plenário acompanhando o júri apenas no primeiro dia dos trabalhos, na segunda-feira (20), e se retirou quando vídeos de Bernardo foram exibidos. Nos dias seguintes, ele se um deslocou até o fórum, mas não permaneceu na sessão por questões de saúde.
Conforme seus advogados, ele teve um surto psicótico em razão de estresse e não tinha condições de permanecer no local. Boldrini foi atendido por uma médica no fórum e depois encaminhado para o presídio de Ijuí, onde seguiu recebendo atendimento. Pelo mesmo motivo, não prestou depoimento no júri.
Na quinta, ele foi enviado a Pasc, onde cumpre a pena. Chegou ao local por volta das 17h. A defesa não informou se ele já recebeu a decisão da nova condenação.
Ao longo do novo julgamento, a defesa sustentou que não havia "prova cabal" que ligasse Boldrini ao planejamento e execução da morte do filho. Admitiram que ele não foi um bom pai para o garoto, mas que o médico não sabia que a companheira iria assassinar a criança.
Ele foi condenado a uma pena de 31 anos e 8 meses de prisão, período um pouco menor que o recebido no primeiro julgamento, de 33 anos e oito meses. A condenação é por homicídio quadruplamente qualificado e falsidade ideológica. Ele foi absolvido do crime de ocultação de cadáver.
A decisão contra Boldrini em 2019 foi anulada porque o Tribunal de Justiça do RS entendeu que ele teve o direito de permanecer em silêncio violado em parte do interrogatório. A condenação dos outros três réus foi mantida (veja abaixo a situação deles).
Veja a leitura da sentença de Boldrini
O assassinato
O caso gerou revolta e indignação em abril de 2014, quando o menino de 11 anos foi dopado e morto pela madrasta. Após 10 dias de desaparecimento, o corpo foi encontrado dentro de uma cova vertical, com cerca de um metro de profundidade. Estava de cócoras, levemente inclinado para o lado direito e envolto por um saco plástico. O matagal onde ele foi enterrado fica na localidade de Linha São Francisco, em Frederico Westphalen.
O menino morava com o pai, a madrasta e uma meia-irmã. Bernardo teria sido morto por Graciele, com a ajuda da amiga, Edelvania Wirganovicz, e do irmão dela, Evandro Wirganovicz. Boldrini foi apontado como mentor intelectual do crime. Os quatro foram condenados em 2019. No entanto, o médico teve o julgamento anulado porque o Tribunal de Justiça do Estado entendeu que o Ministério Público violou o direito do médico de ficar em silêncio em parte do interrogatório.
A situação dos demais condenados
- Graciele Ugulini (madrasta) — condenada a 34 anos e sete meses de reclusão em regime inicial fechado, está presa no Presídio Feminino Madre Pelletier com previsão de progressão para o semiaberto em 2026
- Edelvania Wirganovicz (amiga de Graciele) — condenada a 22 anos e 10 meses de reclusão em regime inicial fechado, cumpre pena no regime semiaberto no Instituto Penal Feminino de Porto Alegre
- Evandro Wirganovicz (irmão de Edelvania) — condenado a nove anos e seis meses em regime semiaberto e atualmente em liberdade condicional