As falas das defesas dos três réus julgados nesta terça-feira (28) se dividem em diferentes versões sobre o homicídio de Paola Avaly Corrêa, 18 anos, que foi baleada e morta após ser obrigada a entrar em uma cova num matagal na zona leste da Capital em 2018. Enquanto um dos acusados admitiu ter executado a jovem, os outros dois negam envolvimento no caso.
O júri começou às 9h30min. Os jurados se reuniram pouco antes das 18h30min e começaram a votação sobre os réus. A previsão é que a decisão seja conhecida até as 21h. Outro julgamento, com mais três réus, está previsto para a quinta-feira (2).
São julgados nesta terça os réus Vinicius Matheus da Silva, 25 anos, Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 39, e Paulo Henrique Silveira Merlo, 40. Ele respondem por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Na fase de debates, o primeiro dos advogados a falar foi o Igor Garcia, que defende Vinicius da Silva. Durante sua fala, pela manhã, o réu admitiu o crime, mas apresentou uma versão diferente da anterior, alegando que decidiu matar a jovem por ciúmes.
Vinicius disse que a postagem realizada por Paola no Facebook, na qual ela se referia ao namorado e também afirmava ter mantido relacionamento com outra pessoa, seria direcionada a ele. O réu afirmou que pretendia assustar a jovem, mas que acabou "efetuando os disparos" e a matando.
O advogado do réu pediu que os jurados deem "credibilidade" a confissão e afirmou que ela não foi feita por pressão dos demais suspeitos no caso. Anteriormente, o criminalista havia se manifestando dizendo confiar na inocência do cliente.
— É a primeira vez que estou passando por isso, é até estranho. Mas venho pedir que os senhores deem credibilidade ao que ele está falando. Quando sentam aqui, os réus não têm mais credibilidade de nada, nem mesmo de confessar. A defesa vem hoje para garantir o direito do Vinícius de se arrepender. Um indivíduo que passou seis anos preso em nossas cadeias, teve tempo suficiente para pensar sobre o caso.
Depois, falou o defensor público William Foster, que atende Paulo Henrique Silveira Merlo, 40, que admitiu ter aberto a cova, a mando de Vinicius, e nega ter tido contato com a jovem ou saber que a morte dela era planejada. O réu relatou que se não tivesse aberto o buraco, teria sido morto.
— A participaçao dele se deu ao cavar a cova. E há a história que corre de forma paralela de que iriam dar um susto na jovem. A cova seria esse susto. Paulo jamais soube que aquele caso se tratava, efetivamente, de uma execução — disse o defensor público, defendendo uma pena menor em relação aos outros réus.
O advogado também afirmou que Paulo era dependente químico, que fazia serviços para conseguir dinheiro para comprar droga, mas que não teria outras passagens por crimes violentos.
— Não vou pedir em nenhum momento que os senhores tenham empatia com o Paulo, nem para que se coloquem no lugar dele. Mas ele era dependente químico de uma droga que é completamente diferente de qualquer outra. O crack arruína a vida das pessoas. Mas ele não esteve envolvido no rapto da jovem e também não planejou a morte.
Por último foi ouvido o defensor público André Esteves, que atende Carlos Cleomir Rodrigues da Silva, 39.
O advogado afirmou que não há provas que liguem o réu ao homicídio, e que ele teria se tornado réu no caso apenas em razão de um apelido, "véio".
— Não tenho nada que ligue o Carlos a isso, não há nenhuma prisão dele junto dessas pessoas. Havia outro homem que morava na mesma região e também tinha esta alcunha. O reconhecimento do Carlos no caso foi feito com base em fotos de várias pessoas parecidas, com imagens 3x4 que mostram para as pessoas, é uma método ruim e falho. O que nos garante que esse reconhecimento foi apurado?
Esteves ainda mostrou depoimentos obtidos ao longo do processo, nos últimos anos, que teriam afirmado que o réu era "pessoa boa", de "boa convivência" e trabalhava em obras.
A morte de Paola ocorreu em maio de 2018, quando foi raptada e levada a um matagal na Vila Tamanca, na zona leste da Capital. Ela foi obrigada a entrar em uma cova e atingida por tiros. O corpo foi deixado no local e achado quatro dias depois.
MP contraria confissão
Na primeira etapa dos debates, quando falou o Ministério Públicao, o promotor Eugênio Paes Amorim sustentou que o mandante do crime é Nathan Sirangelo, 27 anos, ex-namorado da vítima, contrariando a confissão de Vinicius. Amorim alega que a a mensagem da vítima nas redes sociais seria para Nathan, e não para Vinicius. O promotor afirmou aos jurados que se trata de uma tentativa de inocentar Nathan. Disse ainda que o preso possui posição elevada na facção que domina o tráfico no bairro Bom Jesus.
Logo no começo da fala, Amorim ressaltou que durante a manhã a mãe de Paola deixou o plenário chorando, após pouco falar durante o depoimento.
— Vocês viram uma mãe sair chorando, aos prantos, com o coração em pedaços, seguramente ameaçada de morte — disse.
O promotor alegou que Paola não queria mais se relacionar e que Nathan não aceitava isso. Lembrou que a jovem fez uma postagem no Facebook, na qual afirmava que o ex havia publicado fotos dela em grupos da facção e se referia a ele como "otário", "piá" e "corno".
Novo júri
Conforme a denúncia do MP, Thais gerenciava o ponto de tráfico naquela região da Vila Tamanca junto de Vinicius. A acusação sustenta que a mando de Bruno, Vinicius e Carlos teriam capturado a vítima e levado até a casa de Thaís. Depois disso, a jovem teria sido levada para o matagal, onde foi morta. Bruno também teria arregimentado e convocado as pessoas para cometerem o crime.
Contrapontos
O que diz a defesa de Nathan
O advogado Rafael Keller Pereira afirmou que só pretende se manifestar após a realização do júri desta terça-feira.
O que diz a defesa de Bruno
Os advogados Viviane Dias Sodré e Gabriela Goulart de Souza negam as acusações. "Conforme possível visualizar nos depoimentos prestados na data de hoje, nenhum policial responsável pela investigação que apontou Bruno como mandante do crime. Além disso, o corréu que admitiu a sua participação esclareceu que inicialmente apontou Bruno por possuir desavenças anteriores com o mesmo", dizem.
O que diz a defesa de Thais
A advogada Gisela Almeida, uma das responsáveis pela defesa de Thais, informou que não pretende se manifestar antes do julgamento.