Os condomínios de casas Creta e Malta, no Bairro São Miguel, em São Leopoldo, no Vale do Sinos, foram alvo de operação policial na manhã desta quarta-feira (1º). Além de investigar dois homicídios e um caso de tortura e tentativa de assassinato em um dos residenciais, a polícia também afirma que os dois conjuntos habitacionais eram usados por integrantes de uma facção para o comércio de drogas.
Ao todo, 11 residências serviam como pontos de distribuição e venda de entorpecentes, além de depósitos de materiais usados pelos suspeitos. Estes imóveis foram revistados, com autorização judicial, por meio de 15 mandados de busca e apreensão. Maconha, crack, cocaína, balança de precisão e outros materiais foram recolhidos.
Na ação, que contou com 60 agentes, também foram presos dois gerentes do tráfico e um envolvido nas execuções e tortura.
A investigação mostrou que as ordens para os crimes partiram de dentro da Penitenciária Estadual do Jacuí (PEJ), em Charqueadas, na Região Carbonífera, onde o homem apontado como líder da organização criminosa cumpre pena. Um mandado de prisão contra ele foi cumprido nesta quarta, na unidade prisional.
Tortura para intimidar moradores
Segundo o delegado André Serrão, titular da Delegacia de Homicídios de São Leopoldo e responsável pelo caso, a investigação iniciou após um dos traficantes perder uma carga de drogas. De dentro da cadeia foi dada a ordem para que a vítima fosse julgada pelo "tribunal do tráfico". Consta no inquérito que, após o homem ser abordado pelos próprios comparsas — na época do fato, em setembro de 2021 —, moradores do condomínio Creta foram surpreendidos com gritos da vítima torturada no local.
Os investigados espancavam o desafeto no residencial com o objetivo de intimidar as demais pessoas e para que elas soubessem das consequências a quem prejudicasse ou traísse a facção.
Depois de 48 horas, com fraturas e hematomas pelo corpo, o homem foi colocado em um carro para ser executado em uma área mais afastada da cidade. Um pouco antes de chegar ao local onde seria assassinado, Serrão diz que ele se aproveitou do momento em que os dois homens que o conduziam pararam o veículo para fazer uma entrega de drogas e, mesmo com as mãos amarradas, conseguiu escapar e acionar a Brigada Militar. Logo depois disso, a equipe do delegado foi acionada e passou a investigar o crime, com o objetivo de identificar os envolvidos.
Tráfico flagrado pelo Google
Depois de análises periciais e depoimentos de testemunhas, os dois condomínios passaram a ser monitorados.
— Durante nosso monitoramento, flagramos o tráfico de drogas no local. "Olheiros" ficam na entrada dos residenciais, que são casas conjugadas, para avisar sobre o ingresso ou chegada de consumidores (a pé ou de carro), bem como sobre alguma movimentação policial ou de rivais — diz o delegado.
Ferrão ressalta que o tráfico é tão intenso no local que as imagens da chegada de consumidores e da ação dos chamados "olheiros" da facção foram captadas até pelo Google Street View, que é um recurso que disponibiliza vistas em 360 graus de vias urbanas. Segundo o delegado, alguns consumidores só estacionavam o carro na entrada dos conjuntos habitacionais, que ficam próximos à BR-116, e recebiam as drogas sem nem sair dos veículos.
Pelo menos 11 residências serviam para guardar drogas, armas e munição, além de serem pontos de distribuição e venda de entorpecentes. O local já era considerado por usuários, devido à facilidade de acesso e de busca pela internet, como um dos principais pontos de drogas, de acordo com o delegado Serrão.
A investigação continua. Por isso, os nomes dos presos não foram divulgados. São aguardados resultados periciais e haverá depoimentos de envolvidos.
Em meio à apuração do caso de tortura, a polícia obteve informações de que os envolvidos, todos presos nesta quarta-feira, também estariam por trás de outros dois casos investigados, em que supostos integrantes da facção podem ter sido assassinados. Serrão diz que as ocorrências ainda são tratadas como desaparecimentos, porque os corpos das vítimas não foram localizados.
