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Está prevista para ocorrer na próxima semana a reprodução simulada dos fatos, popularmente conhecida como reconstituição, da morte do menino Miguel dos Santos Rodrigues, sete anos. O garoto desapareceu no fim de julho em Imbé, no Litoral Norte. A mãe, Yasmin Vaz dos Santos Rodrigues, 26, e a madrasta, Bruna Nathiele Porto da Rosa, 23, estão presas pelo assassinato da criança. As duas negam terem cometido o crime.
A reconstituição deverá ter início às 18h da segunda-feira (8), na Delegacia de Polícia de Imbé, segundo a Polícia Civil. A realização, segundo o Instituto-Geral de Perícias, só será possível após a confirmação da participação da madrasta de Miguel, já que defesa da mãe definiu que ela não integrará a reprodução simulada. No fim do mês passado, Bruna chegou a ser encaminhada mais uma vez ao Instituto Psiquiátrico Forense (IPF), em razão de nova tentativa de suicídio, mas retornou para o Presídio Feminino Madre Pelletier, em Porto Alegre, onde se encontra atualmente.
Mais cedo, as advogadas Helena Von Wurmb e Fernanda Ferreira, que atuam na defesa de Bruna, haviam confirmado que deveriam conversar novamente com a cliente, para saber em qual situação ela se encontra e confirmar a participação dela na perícia. As advogados também haviam informado que a tendência era de que que ela colabore com a reconstituição.
— Pretendemos contribuir com a polícia em todo possível, só dependemos da saúde dela — explica Helena.
GZH tentou contato novamente com as advogadas, após a manifestação do IGP, mas ainda não obteve retorno.
Na fase inicial da investigação, o depoimento de Bruna foi considerado essencial para esclarecer como teria acontecido a morte do menino. Na época, a madrasta relatou que Yasmin espancou o filho e chegou a bater com a cabeça dele na parede. Isso teria provocado uma grave lesão no crânio da criança, que passou a ser dopada com remédios. Dois dias depois, na madrugada do dia 29 de julho, com o menino já morto, o corpo dele teria sido arremessado nas águas do Rio Tramandaí. Para transportar o cadáver, no trajeto entre a pousada e o rio, foi usada uma sacola de viagem.
A Polícia Civil e o Ministério Público vinham tentando que essa perícia fosse realizada antes das audiências marcadas para ouvir mais de 20 testemunhas de defesa e acusação, além de interrogar as rés. As sessões estão agendadas para os dias 18 e 19 de novembro. O promotor de Justiça André Luiz Tarouco, responsável pela denúncia no caso, também acompanhará a reprodução simulada dos fatos.
Mesmo com buscas realizadas ao longo de 48 dias, o corpo do menino nunca foi encontrado. Os bombeiros chegaram a estender a procura ao mar e na orla do Litoral Norte. No entanto, nenhum vestígio sobre a possível localização do cadáver da criança foi encontrado. As duas são rés pelos crimes de homicídio e também por ocultação de cadáver e tortura.
Como é realizada a perícia
A reconstituição é dividida em três partes, que se iniciam com a preparação: quando a equipe estuda o inquérito e as demais perícias realizadas. Na sequência, é feita a oitiva dos envolvidos. É essa etapa que será realizada na Delegacia de Polícia de Imbé, e que determinará como se dará o trabalho no local dos fatos. Por exemplo, caso a madrasta narre que foi usada a mala de viagem para transportar o corpo do menino, o mesmo item será empregado na simulação.
Da mesma forma, os locais que serão analisados pelos peritos também dependem da indicação das oitivas. Durante esta etapa, a madrasta deve narrar os fatos aos peritos. Embora tenha horário de início, a duração da perícia depende do andamento de cada etapa. Após, é produzido um laudo pericial, que deve comprovar ou descartar a viabilidade daquela versão. No dia da reconstituição, o entorno terá o trânsito bloqueado, para manter a segurança e permitir o melhor andamento dos trabalhos.
O caso
Miguel morava com a mãe e a madrasta em uma pousada na área central de Imbé. O menino havia se mudado no começo do ano para a cidade do Litoral Norte. Antes disso, residira com a avó materna, em Paraí, na Serra. No dia 29 de julho, Yasmin e Bruna procuraram a polícia, alegando que o garoto havia desaparecido. No mesmo dia, as duas confessaram que Miguel tinha sido morto e seu corpo havia sido arremessado naquela madrugada nas águas do Rio Tramandaí.
As duas foram indiciadas pela Polícia Civil, que encontrou indícios de torturas sofridas por Miguel, como correntes, cadeados, cadernos com anotações pejorativas, imagens do menino desnutrido e abatido, além de vídeos do garoto trancado em um armário, como espécie de castigo. Para a polícia, essas foram provas de que o menino era submetido a maus-tratos e torturas por ser considerado empecilho à relação das duas.
Yasmin e Bruna também foram denunciadas pelo Ministério Público, sob a acusação de terem decidido matar a criança para que ele não atrapalhasse mais o relacionamento. Segundo a polícia, a mãe confessou ter espancado o filho e administrado medicamento sedativo, causando a morte dele.
Contraponto
O que diz a defesa de Yasmin
O advogado Jean Severo, responsável por defender a mãe do garoto, afirma que ela não participará da perícia e que só falará à Justiça. A defesa sustenta que Yasmin é inocente e foi coagida a confessar o crime, quando ouvida na Polícia Civil. A polícia nega ter havido coação e afirma que ela teve depoimento acompanhada de advogado na época. Yasmin segue detida na Penitenciária Feminina de Guaíba.
O que diz a defesa de Bruna
As advogadas Helena Von Wurmb e Fernanda Ferreira sustentam que Bruna não teve participação na morte do menino. A defesa recorre ainda da decisão que concluiu, após avaliação psiquiátrica, que a madrasta era plenamente capaz de compreender seus atos na época do crime.