Investigado por racismo, o bolsista do doutorado em Filosofia da Universidade Federal do Estado (UFRGS) Álvaro Hauschild prestou depoimento à Polícia Civil, na terça-feira (6), e afirmou que não cometeu o crime. O caso ganhou repercussão depois que Jota Júnior, aluno de graduação da mesma instituição, divulgou mensagens que trocou com Hauschild e o acusou de racismo.
De acordo com a titular da delegacia de Combate à Intolerância, Andrea Mattos, o doutorando confirmou a autoria das mensagens divulgadas, mas disse entender que não cometeu crime.
— Ele confirmou que escreveu as mensagens, mas acredita que houve um mal entendido. No entendimento dele, o conteúdo não configura crime de racismo. Por ser um estudioso, ele entende que estava falando sobre fatos históricos — explica a delegada.
Para Andrea, o caso se trata, "a princípio", de racismo, mas é preciso aguardar a conclusão do inquérito, o que deve ocorrer nas próximas semanas. Segundo a delegada, uma denúncia anônima foi recebida pela equipe e também será investigada:
— Essa denúncia é sobre um material que ele produziu e divulgou, e que pode corroborar com o posicionamento que vemos nas mensagens.
Conforme a polícia, Hauschild tem ocorrências anteriores por perturbaçao da tranqulidade e perseguição, registros que não estão relacionados a questões raciais.
A delegada afirma ainda que Jota Júnior e a namorada também devem prestar depoimento antes da conclusão da investigação. Eles foram ouvidos apenas no momento do registro da ocorrência. Logo após a repercussão, Hauschild também registrou uma ocorrência contra Júnior por calúnia.
O caso ficou conhecido depois que Júnior expôs, na semana passada, conversas que teve com o bolsista. Hauschild fez contato, pelo Instagram, com a namorada do estudante e passou a afirmar que ela estaria "passando vergonha" e fazendo "caridade" por se relacionar com o estudante. Júnior relata que percebeu que o nível das mensagens indicava racismo, e pediu para a namorada que seguisse conversando com o doutorando. O graduando diz que ele e a companheira não conheciam Hauschild antes do episódio.
Na conversa, o doutorando questionou a namorada de Júnior sobre como seriam os filhos dos dois e afirmado que a jovem seria "descendente de vikings". Além disso, afirmou que a pessoa negra "exala um cheiro típico, libera substâncias no ambiente e na troca com parceiros". Mas que isso poderia ser resolvido se a jovem "ficar alguns anos sem se relacionar com negros" e "então pode ter a certeza de que não haverá influência".
Além do registro na polícia, Júnior também fez uma denúncia junto à UFRGS. A universidade afirma que avalia a denúncia para decidir se abrirá processo disciplinar para investigar o caso.
Em uma nota divulgada na última sexta (1º), a editora Kotter anunciou que irá excluir o livro Anamnesine, escrito por Hauschild, de seu catálogo e reclher a obra de livrarias parceiras. O livro, que reúne contos de ficção, não consta mais no site da editora. A empresa também desligou o doutorando de seu quadro de autores.
O que diz Álvaro Hauschild
GZH tenta contato com o doutorando para contraponto. Na última semana, no Instagram, ele divulgou uma nota após a repercussão do caso: "Fizeram uma postagem me caluniando. Os autores inclusive me bloquearam. Tudo será resolvido de maneira limpa segundo a lei."