Vítima de estupro durante um assalto no ano passado, em Porto Alegre, uma mulher será ouvida nesta semana pela Justiça. Réu pelo crime, Carlos Alexandre da Silva, 46 anos, também dará sua versão dos fatos em audiência marcada para a quarta-feira (22). O crime aconteceu em julho de 2020, quando a manicure, à época com 39 anos, foi atacada no momento em que seguia para a casa de uma cliente, no limite dos bairros Moinhos de Vento e Bela Vista.
Mais de um ano após o crime, a vítima ainda sofre com os traumas deixados pela violência que sofreu na tarde do domingo, dia 5 de julho. Quando se aproximava da Rua Dona Laura, foi abordada pelo criminoso, armado com uma faca. O assaltante obrigou a vítima a caminhar até a esquina com a Rua Coronel Bordini, onde a manicure viveria momentos de terror. No pátio de uma casa desocupada, a cerca de 200 metros dali, a mulher foi violentada sexualmente pelo criminoso, agredida e ameaçada de morte.
– Comecei a chorar e perguntei por que ele estava fazendo isso. Ele apertou a faca no meu pescoço e disse que ia me matar se eu não parasse quieta – contou à época.
Por fim, o estuprador desistiu, e fugiu levando seus pertences. Antes de deixar o local, arremessou sobre a vítima uma nota de R$ 10 – retirada da carteira dela – para o transporte de volta para casa. Traumas e lembranças que a manicure não superou até hoje.
– Ainda tenho medo de andar na rua sozinha, tenho pesadelos, pânico. Faço o tratamento com medicações. Minhas filhas, não ando com elas na rua por medo. Meu filho, afetou totalmente ele. Em ver que o que a mãe passou. Isso dói muito – relata.
Além do abalo psicológico, a moradora da Região Metropolitana diz que teve perdas financeiras, já que as clientes, por receio de que ela possa ser exposta, deixaram de lhe chamar para atendimentos em domicílio, algo que ela costumava fazer antes. A manicure, que faz curso técnico de enfermagem, acredita que precisará abandonar os estudos.
– Por ter pedido clientes, vou ter de parar, por falta de condições financeiras mesmo. O que eu espero da justiça é que seja feita. Que ele fique lá e não saia por erro do Poder Judiciário – desabafa.
Na data em que a manicure foi atacada, o suspeito do crime estava foragido. Condenado a 90 anos e sete meses, por casos envolvendo assaltos e estupros, ele havia recebido em março do ano passado o direito a permanecer em prisão domiciliar, em razão da pandemia do coronavírus. Deveria ter tido a tornozeleira eletrônica instalada, mas isso não chegou a acontecer. Em maio, passou a ser considerado foragido, e menos de dois meses depois a manicure foi atacada.
O suspeito foi identificado pela polícia por meio de imagens de câmeras de segurança e testemunhas. Em outubro do ano passado, acabou preso pela equipe da Delegacia da Mulher de Porto Alegre. Os policiais localizaram Carlos Alexandre no Centro Histórico. Quando detido, carregava uma pistola falsa. Pelo ataque à manicure, foi acusado dos crimes de estupro, sequestro, cárcere privado e roubo.
A investigação deste crime levou a polícia a descobrir outros dois casos – um antes do ataque à manicure e outro depois – nos quais o mesmo homem é apontado como autor. Em 21 de maio do ano passado, por volta do meio-dia, uma jovem foi abordada em uma parada de ônibus nas proximidades do shopping Praia de Belas. O criminoso teria tentado obrigar a vítima a seguir com ele, mas ela conseguiu escapar e pedir socorro.
– Ainda tremo ao andar na rua e se alguém chega perto as coisas ficam ainda piores. Sabia o que ele ia fazer. Ele falou o tempo todo que não ia me assaltar. Aquela frase ficava ecoando na minha cabeça – contou a mulher à reportagem.
Em 20 de setembro, outra mulher foi abordada nas proximidades do Parcão, no bairro Moinhos de Vento. Mas ela também conseguiu fugir. Por esses casos, o suspeito foi indiciado pelos crimes de ameaça e tentativa de estupro e de sequestro. As vítimas serão ouvidas como testemunhas na audiência que será realizada nesta semana.
O réu, que segue detido na Penitenciária de Canoas (Pecan), também será ouvido. A sessão, realizada de forma virtual, está agendada para ter início às 14h – o processo corre em segredo de Justiça.
Contraponto
O réu Carlos Alexandre da Silva é atendido pela Defensoria Pública do Estado. A defesa se manifestou por nota:
“A Defensoria Pública do Estado está atuando na defesa do acusado. No dia 18 de dezembro de 2020, a instituição apresentou defesa prévia. A magistrada revisou o decreto de prisão preventiva, em 16 de julho de 2021, mantendo a prisão pelos mesmos fundamentos iniciais, gravidade do fato e garantia da ordem pública. Foi designada audiência de instrução para 22 de setembro de 2021. A Defensoria permanece atenta às garantias constitucionais do acusado no âmbito do processo penal, a fim de que não advenha nenhum excesso ou ilegalidade.”
Prisão domiciliar
Questionado sobre a soltura do preso, ainda no ano passado, o juiz Paulo Augusto Oliveira Irion informou que a decisão de conceder prisão domiciliar humanitária foi tomada tendo por base a resolução nº. 62 do Conselho Nacional de Justiça, estando o apenado no grupo de risco em relação à covid-19, de acordo com a informação da própria unidade prisional onde se encontrava recolhido.
Já a Secretaria da Administração Penitenciária (Seapen) informou que naquele momento ainda não havia condições sanitárias para instalação da tornozeleira. Segundo a secretaria, os protocolos de segurança estavam sendo ajustados. Por isso, foi estabelecido prazo de 30 dias para que o preso retornasse e instalasse o equipamento.