
Um homem de 54 anos foi preso por suspeita de abusar de cinco meninas em Cachoeirinha, na Região Metropolitana. As vítimas, que hoje são adolescentes com idades entre 12 e 14 anos, relatam que o homem tocava em suas partes íntimas quando elas iam até a casa do suspeito para visitar a filha dele. O suspeito estava foragido desde 21 de maio, quando a prisão preventiva foi decretada pela Justiça.
Após ter dificuldade em encontrá-lo em endereços de familiares, a Polícia Civil passou a negociar uma rendição com a defesa, que solicitava a garantia de uma vaga no sistema prisional para que ele não aguardasse em custódia em uma delegacia. O homem se entregou na tarde desta terça-feira (1º) em um local combinado com a polícia na zona norte de Porto Alegre e foi recolhido na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan). Em novo depoimento, negou que tenha abusado das vítimas e disse não saber porque elas o denunciaram. O homem já havia sido ouvido em 22 de abril e dado a mesma versão.
Na 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha, ele é investigado por cinco casos que teriam acontecido de cinco anos para cá — o último deles há três meses — em ambiente doméstico, quando as amigas da filha iam dormir na casa dele, fazer atividades escolares, tomar banho de piscina ou ir a festas infantis. Em dois dos cinco inquéritos, foi indiciado por estupro de vulnerável e a investigação foi remetida para a Justiça. O Ministério Público (MP) deve se manifestar nos próximos dias.
Três investigações seguem em andamento pois aguardam a finalização dos laudos de avaliação psicológica do Centro de Referência no Atendimento Infanto-Juvenil (Crai) no Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, em Porto Alegre. O resultado positivo dos primeiros dois exames foram decisivos para a responsabilização, segundo o delegado Anderson Spier, responsável pelo caso:
— O laudo tem total importância. É o cerne do inquérito. Nesses crimes em que há abuso pelo toque e não há vestígios, o psiquiatra consegue identificar sinais de sofrimento da vítima que corroboram a versão dela. É possível verificar se a fala é coerente, se tem verossimilhança e é fidedigna aos fatos que estão sendo apurados. São avaliados todos os elementos que permeiam o acontecido. Tudo isso o leva a concluir se houve abuso ou não.
Transparência
GZH não divulga o nome do preso para preservar a identidade da filha e das vítimas, conforme determina o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Além de ser determinante para o esclarecimento do caso, a avaliação é feita de forma técnica, evitando a revitimização das adolescentes. Elas são ouvidas uma única vez, em um depoimento definitivo, em local especializado e fora do ambiente da delegacia.
Nesses crimes em que há abuso pelo toque e não há vestígios, o psiquiatra consegue identificar sinais de sofrimento da vítima que corroboram a versão dela. É possível verificar se a fala é coerente, se tem verossimilhança e é fidedigna aos fatos que estão sendo apurados.
ANDERSON SPIER
Titular da 1ª Delegacia de Polícia de Cachoeirinha
A investigação começou em meados de abril a partir do relato de uma adolescente de 13 anos que pediu para a mãe levá-la ao psicólogo quando revelou que havia sido abusada pelo pai da amiga duas vezes. A família registrou ocorrência e o relato se espalhou entre os vizinhos. Em um grupo de WhatsApp, outras adolescentes da mesma faixa etária começaram a relatar que também haviam vivido situações semelhantes e foram descobrindo histórias umas das outras.
A filha do suspeito foi retirada do convívio do pai por outro familiar. A Polícia Civil solicitou que a garota fosse encaminhada para atendimento no Conselho Tutelar e a consulta psicológica no Crai.
— Em meio a esse fato todo, ela acabou sendo envolvida numa história que não era dela. Ela também é vítima — aponta Spier.

A expectativa da polícia é de que a prisão do homem estimule mais pessoas a denunciarem. Para o delegado, é importante apurar as suspeitas em sua totalidade. A polícia identificou uma sexta vítima, que já tem mais de 18 anos, que afirmou que não tem interesse em registrar ocorrência. A advogada das famílias, Tatiana Borsa, contabiliza pelo menos 10 possíveis vítimas — metade delas oficializou a denúncia —, mas algumas estão com medo de formalizar o relato pois as adolescentes e o suspeito moravam no mesmo bairro em Cachoeirinha até o caso vir à tona.
— É um alívio pensar que ele está preso e só temos a agradecer a polícia. As meninas choraram quando souberam. Foi um presente. Foi um trabalho de paciência e muita pressão. Estávamos em busca disso mas temíamos que acabasse na impunidade, pois ele agia de forma sorrateira e velada. Com a prisão, esperamos que mais gente denuncie. Agora as famílias estão ansiosas para saberem quanto tempo ele vai ficar preso — afirma Tatiana.